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Estrelas da Periferia

O samba de raiz que vem da zona leste da Capital

Instrumentista e compositor, Acauan Souto atua musicalmente desde guri e trabalha com grandes nomes do ziriguidum nacional

14/02/2023 - 11h26min

Atualizada em: 14/02/2023 - 11h36min


Foi nas rodas de samba, no fim da década de 1990, que rolavam às quintas-feiras no mercado Acauan, no bairro Partenon, zona leste de Porto Alegre, que Acauan Souto, 34 anos, descobriu sua paixão pela música e aprendeu a tocar cavaquinho. Filho único, o estabelecimento comercial dos pais, Eliane e Jorge Souto, foi a primeira escola musical do artista. 

Em pouco mais de um mês, aos nove anos, o então pequeno Acauan aprendeu a tocar cavaquinho, com ajuda de um frequentador das rodas de samba. Entusiasmada, sua mãe espalhava anotações sobre os acordes e as notas pela casa, para apoiar o filho. 

– Um frequentador do bar, que tinha uma dívida com meu pai, ofereceu um cavaquinho e um tantan ou uma chuteira e uma bola para quitar essa dívida. Eu lembro que meu pai me chamou e perguntou o que eu queria, como meu meio era esse da música, eu escolhi os instrumentos – relembra o artista, que, aos risos, afirma que seu pai ficou com todos os itens. 

Aos 14 anos, Acauan compôs sua primeira canção e começou a sonhar com o mundo artístico. Passou a integrar grupos de samba e realizar apresentações em bares e eventos. 

– Foi quando pude sentir o que é a música em si, essa troca de sentimento e energia com o público nos locais em que a gente tocava – explica.

Acauan Souto / Arquivo Pessoal
Artista viajou o Brasil levando sua música.

Na estrada

Em 2008, o artista criou o projeto Samba Xequeré, reunindo diversos artistas do Estado. Ele rodou por Santa Catarina e Rio de Janeiro com a iniciativa. 

– Quando eu tive noção no que estava inserido, no cenário do samba, quis conhecer o Rio, porque lá é o berço, né? – expressa. 

Após rodar por todos os cantos da Capital, Acauan decidiu levar sua música para fora do Estado. A primeira parada foi Balneário Camboriú, em Santa Catarina, onde viveu entre 2012 e 2016. 

– Ia para a beira da praia todos os dias vender meu CD, com covers de grandes nomes do samba. Ficava lá, fazia um samba com o pessoal e depois passava o chapéu para pegar uns trocos e me manter na cidade – conta. 

Após a passagem por Santa Catarina, onde ganhou reconhecimento do público, Acauan decidiu que era hora de ir atrás da “fonte do samba”. Em 2016, partiu para o Rio de Janeiro, a cidade dos seus sonhos. 

– Eu fui para o Rio para beber da fonte. Por mais que eu tivesse algum conhecimento e vivência, fui para lá para aprender, para somar – diz. 

Nos primeiros momentos em solo carioca, Acauan trabalhou como camelô e morou com alguns amigos. Aos poucos, o guri do Partenon começou a fazer samba com os locais. 

Na Cidade Maravilhosa, o gaúcho conheceu diversos artistas e passou a levar o Samba Xequeré por toda a capital fluminense. Apadrinhado por Anderson Leonardo, do grupo Molejo, ele conta que começou a gravar seu álbum, mas ainda não o finalizou: 

– Eu estava em estúdio, com músicas minhas e outras composições de grandes nomes, como Xande de Pilares, Gabrielzinho do Irajá, com arranjos do Paulão Sete Cordas, que é quem toca violão para o Zeca Pagodinho.

Sonhos

Além da distância e da saudade da família, Acauan teve que interromper as gravações do seu álbum no Rio de Janeiro e voltar para Porto Alegre em 2020, após perder seu avô para a covid-19. 

Agora em Porto Alegre, o sambista aproveita para concluir a faculdade de música e se disponibiliza para dar aulas, gratuitamente, em ONGs. Ele relembra que, no Rio, participou de ações que arrecadavam alimentos para as comunidades. 

– Eu gostaria de participar de algum projeto social uma vez por semana, pelo menos. Posso dar aulas voltadas à música para as crianças – revela. 

Inspirado em Almir Guineto (1946 – 2017), Arlindo Cruz, Alcione e outros nomes do samba, Acauan tem se apresentado com o Samba Xequeré aqui na Capital, mas sonha em voltar ao Rio de Janeiro para concluir seu álbum. 

– No momento, nada é fixo. Mas tenho tocado conforme as possibilidades que Porto Alegre permite no cenário do samba de raiz. Ainda quero voltar para o Rio e dar sequência ao meu álbum, minhas coisas estão todas lá, até os instrumentos – conclui.

Pitaco de Quem Entende

Lelê, vocalista do grupo Louca Sedução, avalia o trabalho de Acauan: 

– Muito bom cantor e instrumentista. Segue a linha do samba de raiz com uma voz forte e afinada. Um artista pronto, um sambista nato!

AQUI, O ESPAÇO É TODO SEU!

Para participar da seção, mande um histórico da sua banda, dupla ou do seu trabalho solo, músicas, vídeos e um telefone para lucas.oliveira@diariogaucho.com.br.

/// Para falar com o artista, ligue para (21) 997427-9277.

*Produção: Lucas de Oliveira


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