Entrevista
Ator fala sobre a emoção de viver Jesus Cristo em "Amor Perfeito": "A fé sempre será minha grande aliada"
Jorge Florêncio encanta em cenas com o menino Marcelino
O ator Jorge Florêncio recebeu uma missão que podemos chamar de divina. Em Amor Perfeito, ele interpreta Jesus Cristo, protetor e amigo de Marcelino (Levi Asaf). As cenas em que o menino conversa com o filho de Deus emocionam o público, ao mesmo tempo em que acalentam o coração de quem sofre junto com o pequeno.
Em entrevista, Jorge Florêncio conta como tem sido a repercussão de seu trabalho e como é sua relação com fé e religião.
Como você recebeu o convite para viver Jesus em Amor Perfeito? Teve receio de interpretar o personagem?
Eu fui chamado pela produtora de elenco Marcella Bergamo para fazer um teste. Fiz e passei pra dar vida a um personagem outro que não seguiria até o final da trama. Quando foi final de novembro de 2022 a equipe entrou em contato comigo e disse que o perfil do personagem havia mudado e que, infelizmente, eu não poderia mais fazer parte do elenco. Em janeiro, a produção faz novo contato comigo me sondando para um outro personagem. Eu estava ensaiando para sair em turnê com um musical e de fato eu não deixaria a peça se não fosse algo de relevância na novela, então o diretor artístico André Câmara me ligou convidando para fazer ninguém menos que Jesus. Eu, é claro, aceitei de cara. Um misto de muitas sensações, muita alegria, emoção, e uma certeza... "deixa estar, que o que for pra ser vigora". Não estamos sozinhos e tudo tem seu tempo pra acontecer, não o nosso tempo, mas o tempo do Divino, e acontece. A fé é e sempre será minha grande aliada. Quanto ao receio, eu tive sim. Afinal, dar vida a Jesus Cristo, o homem mais amado de toda história, tem seu peso. Jesus não pode errar então é tudo milimetricamente pensado nas cenas, cada entonação, colocação de voz, gestos, sorrisos, piscadas, tudo é dirigido para que se entregue um resultado crível e afetuoso ao público. Meu maior receio era e tem sido esse, proferir as palavras dos textos brilhantemente escritas pela Duca Rachid, Elísio Lopes Jr e Júlio Fischer, com o maior cuidado e carinho a que o personagem pede. Ser amor, ser empatia, ser acalanto, esses são meus reais desafios.
Teve alguma preparação especial para a novela? Como foi?
André (Câmara, diretor artístico da novela) me pediu que emagrecesse para viver o papel, desde então minha rotina de treinos se modificou. Deixei de ir com tanta frequência à academia e passei a focar nos treinos mais curtos e com menos carga. Meu objetivo era ficar menor e com corpo menos marcado… ainda sigo nesse ritmo, já perdi quase 10 quilos. Sempre gostei de treinar muito e pesado, claro, com orientação de profissionais, mas nesse período tive que abrir mão da vaidade em prol do trabalho. Assim que soube que faria Jesus, logo busquei entender um pouco mais sobre o evangelho. Sempre achei uma leitura difícil e confusa, e mesmo sabendo que a temática central da novela não é sobre passagens bíblicas em si, julguei importante fazer esses estudos por conta própria e pra isso conto ainda hoje com as orientações do meu amigo e estudante de teologia João Marcos Freitas, que também é artista e músico. Nossos diálogos são sempre leves, descontraídos, cercados de humor e acompanhados de um forte café, que não dispenso (risos). Nunca imaginei que falar do evangelho poderia ser tão divertido e enriquecedor pra mim enquanto artista e ser humano.
Qual é a sua relação com a religião?
Costumo dizer que não tenho uma religião, mas carrego comigo uma fé inabalável. Embora tenha sido criado no cristianismo e já tenha ido a diversos templos de exercício da fé, não acredito que seja obrigatório estar dentro de uma casa, igreja ou templo para exercer minha. Pra mim, Deus está em todos os lugares e principalmente dentro da gente. Acredito que a conexão com a fé, com o divino, parte em primeiro lugar de dentro da gente, do nosso coração. Para mim, a comunhão com Deus é intimista e ela se manifesta diariamente à nossa volta.... Seja através da natureza, dos ventos, sol, chuva...de um bom dia! Basta a gente estar aberto e preparado para perceber essas manifestações constantes no nosso entorno. Deus se comunica com a gente através do outro, é só a gente aprender a ouvir.
Você encarna um Jesus fisicamente diferente do que costuma ser retratado. O que acha de a novela quebrar esse estereótipo?
Eu acho ótimo e de grande relevância para nós, brasileiros, poder observar uma criação de Cristo diferenciada da imposta por séculos a todos. Não poderia ser diferente essa escolha em uma novela que trás no elenco tanta diversidade multirracial, tantas belezas do nosso Brasil, além de talentos antes não conhecidos pelo grande público e crítica.
As cenas com Marcelino são emocionantes. Qual você destacaria até agora?
Difícil. Destacaria as sequências do milagre de Jesus descendo da Cruz, Marcelino retirando a coroa de espinhos de Jesus… São momentos que mexem muito comigo enquanto ator e ser humano, sair da cruz para conversar com um menino que tem um grande sonho e agir para que esse sonho se concretize é de uma poesia inexplicável. Pensar que Jesus Cristo só morreu crucificado em sacrifício à humanidade e ainda assim “segue descendo da Cruz” para estar conosco, atendendo nossos desejos, sendo amor em nós, é uma prova sem tamanho do seu amor, mesmo ele sendo Cristo e não tendo que provar nada pra ninguém. De fato, são momentos que me fazem refletir sobre amor, compaixão e amadurecer muito a minha fé. Destacaria também as sequências que estão por vir após o capítulo 100, são bastante emocionantes.
Como tem sido a repercussão junto ao público?
A melhor possível! Recebo diariamente retorno positivo, principalmente nas redes sociais, sobre nosso trabalho na novela. Digo "nosso" porque vejo coletivamente o resultado do que eu entrego como ator dentro da trama. Uma novela funciona como uma grande engrenagem onde cada peça tem sua função de grande valia para o funcionamento do todo. Recebo mensagens de pessoas de todos os lugares relatando que esses momentos de Marcelino com Jesus são um deleite… Já ouvi o relato de uma pessoa que estava internada com crises de ansiedade e que, ao ver nossas cenas, conseguia se acalmar. São depoimentos que não têm preço e a afirmação de que nosso trabalho está dando certo, tocando e transformando as pessoas de alguma forma. Isso deixa meu coração quentinho!