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Palavra do capitão do Tetra

"Não estamos só na mão do Neymar", avalia Dunga

Ex-técnico da Seleção Brasileira fala sobre Felipão, Neymar e dor da derrota em 2010

28/05/2014 - 09h31min

Atualizada em: 28/05/2014 - 09h31min


Mateus Bruxel / Agencia RBS
Dunga estuda proposta para ser comentarista da Copa do Mundo para rede de televisão mexicana

Horas antes de embarcar rumo ao México na terça-feira, onde definiria detalhes do contrato como  comentarista da TV Azteca na Copa, Dunga recebeu o Diário Gaúcho em sua casa, na Zona Sul da Capital.
Tirou de uma bolsa, na garagem, a camiseta número 8 usada na final do Tetra, em 1994. A braçadeira de capitão apareceu logo em seguida. As lembranças tinham sido remexidas havia pouco, para palestra na turma do caçula, Matheus, seis anos. 
Dunga revela ainda sentir a queda nas quartas na Copa de 2010. Sobre a Seleção, observa que não dependerá só de Neymar e faz uma ressalva à lista de Felipão: chamaria um ou outro mais experiente.

Diário Gaúcho - A lista de Felipão mostra acertos da convocação de 2010?
Dunga -
Não é questão de acerto. Independentemente do nome que as pessoas querem ou não, o técnico tem que ver o rendimento. Com o rendimento, tu comparas. Uma coisa que as pessoas falam é "privilegiar a família". Não, tu tens que ver o cara que joga. Quando vejo dois caras em condições iguais, levo o que menos me incomoda. É interessante. As pessoas queriam A, B ou C. Hoje, são os mesmos, e elas não os querem.

DG - O fato de a lista não ter sido contestada é sinal de que há falta de craques?
Dunga -
Jogador de destaque, de nome, não temos. Interessante é que, se comparar, quando convoquei, era a Seleção de estrangeiros. Hoje, tem muito mais estrangeiros do que na minha época e está tudo certo. Nas grandes Capitais não há polêmica, estão todos contentes. Encaminha-se para caminho justo, sem polêmica.

DG - O que faltou ou o que você mudaria naquele jogo contra a Holanda?
Dunga -
O futebol é jogo de erros e acertos. Você é penalizado. A gente não se preocupou com o juiz. Isso coloco como falha minha. Para ganhar a Copa, é preciso estudar o juiz. Ver o que permite ou não. Colocaram um japonês. São detalhes. A gente tem a mania de que o juiz interfere quando dá pênalti no jogo. Mas ele vai te massacrando, te picando, não deixando teu time rodar. Gostaria que as pessoas revissem esse jogo, olhassem o comportamento do juiz e ver quanto interferiu. E mandassem os comentários para vocês.

DG - Quem são os grandes inimigos do Brasil nesta Copa?
Dunga -
A Argentina é mais compacta do que suas equipes anteriores. Há seleções que surpreenderão. Como a Colômbia, a Bélgica. Além, das clássicas, como a Itália.

DG - Tem algum nome que você incluiria na lista de Felipão? A seleção carece de alguém com mais experiência?
Dunga -
Isso depende do ponto de vista do treinador. Como o Felipão confia, conhece mais de perto. Para quem está de longe, serviria um ou outro mais experiente, para caso um dos convocados não dê certo.

DG - A pressão de jogar em casa será um adversário?
Dunga -
Acho que não. Se viu isso na Copa das Confederações. Mostrou que isso será um ponto positivo, a favor do Brasil.

DG - O Brasil e Porto Alegre estão preparados para a Copa?
Dunga -
Nosso país tem algumas dificuldades. Não estamos preparados para o dia a dia. Ficamos tapando os buracos. Se comentava a mesma coisa da África do Sul, e a Copa saiu. Mas por que a Copa sairá? Porque quem vem são os estrangeiros. Quem compra viagem e ingresso caro, não vem aqui para criticar. Temos que parar com essa demagogia de que agora todo mundo é contra a Copa.  Sabemos que a educação não é pela Copa. Todas as eleições ouvimos isso e não melhora. Então, se fala aquilo que o povo quer ouvir. O que nós temos de cobrar é de que forma foi gasto o dinheiro. E, mais uma vez, vou falar o que as pessoas não querem ouvir. É questão política. Temos de cobrar os responsáveis. A eleição é o grande momento de manifestação. Não adianta quebrar tudo, sair na rua gritando.

Confira o "Pergunte para o Guerrinha" especial com Dunga:

DG - Como se ganha a Copa?
Dunga -
É difícil, né? Não tem uma base. Tudo tem que se encaminhar, dar certo, para ganhar uma Copa. Se olharmos para o Brasil, quantos jogadores fora de série tivemos e não conseguimos ganhar? Tem que ter o trabalho de equipe, resultados, jogadores em boas condições físicas. Ter tempo certo de treino. E os jogadores que consideramos os diferenciais que consigam realmente jogar.

DG - Concentração é ingrediente para ganhar Copa?
Dunga -
O europeu não precisa ter essa amizade fora do campo. Nós, latinos, precisamos dessa união, do bom ambiente. Temos de ter fora e transportá-lo para o campo. O europeu, não. Entram para ganhar, se falam pouco fora. Esse período de preparação é muito importante e cada vez mais curto. Os jogadores que vem de final de temporada, quase sempre, precisam ajeitar algo. Todos os detalhes, temos de trabalhar. Além disso, tem de trabalhar a parte técnica. Neste momento, é importante a Seleção Brasileira estar bem fechada.

DG - Doeu muito cair nas quartas em 2010?
Dunga -
Ah, dói. Dói. E a dor aumenta com o passar do tempo. A gente começa a ver o trabalho que fizemos. Ganhamos Copa América, Copa das Confederações, nos classificamos ao Mundial com três rodadas de antecedência. Ganhamos de Uruguai e Argentina. Mas aí torno a repetir. Chegamos com dois jogadores que vieram lesionados, não foi nem na questão física. Foi clínica. No momento em que o time engrenava, perdemos o Ramires e o Elano, da mesma função.

DG - A Seleção está na mão de Neymar?
Dunga -
Não, acho que não. É o jogador que vai desequilibrar. Mas, para isso, a Seleção precisa ter sustentação, grupo forte. Porque ele (Neymar) não poderá desequilibrar em todos os jogos. Então, outros jogadores terão de superar. E, às vezes, temos essa mania de grande nome. Mas temos nomes na Seleção muito eficientes. São eficientes na Seleção e nos seus clubes.

DG - Pode haver uma seleção surpresa nesta Copa?
Dunga -
Tem se falado muito na Bélgica. Se lembrarmos de 2002, a Bélgica nos criou confusão. Ganhamos apertado. Os jogadores da atual equipe são, em 80%, os mesmos que enfrentamos na Olimpíada de Pequim, em 2008. É técnica. Está tudo equilibrado, como no Brasileirão. É importante que o jogador chegue em boas condições e renda tudo o que se espera. Às vezes, acontece de depositarmos expectativa em alguém e ele não render.

DG - Seu jeito mais fechado no vestiário faz diferença em campo?
Dunga -
Não é que o vestiário seja fechado. É que não tem espaço. Hora de imprensa, é hora de imprensa. Nunca deixei de atender, nem a Seleção. Quando os horários são marcados, são marcados. Nós, brasileiros, temos mania de dizer que organização é na Europa e aqui é desorganizado. Quando organizas, não querem. Tem de ter improvisação. Como houve muitos problemas em 2006, o presidente (Ricardo Teixeira) queria mais organização. Foi assim, só segui a regra.

DG - Nesta Seleção, quem é o Dunga de 1994?
Dunga -
O futebol é muito rápido, com mudanças. Acho que não tem o Dunga. Tem jogadores mais versáteis, com características diferentes, mas de personalidade. Tanto que, jovens, jogam no Chelsea, no Manchester United.

DG - O que você planeja para a carreira depois da Copa?
Dunga -
Acontecerá de alguma equipe vir, alguns contatos. Muitas seleções mudarão depois da Copa. Conversamos, trocamos opiniões. Não me preocupo muito. As pessoas sabem tua forma de ser, teu comportamento. Seguramente, chegará a oportunidade. Vou trabalhar na TV Azteca, do México, nos comentários dos jogos da seleção mexicana. Depois das partidas, nos programas esportivos, entro ao vivo também. 

DG - Você arrisca algum palpite para a final da Copa?
Dunga -
Pela história, deveria termos Brasil e Argentina.


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