O Povo da Copa
Moradores de Westfália, no Vale do Taquari, vão torcer pela Alemanha
Mãe e filho têm a Alemanha como seleção do coração, mas não vão assistir ao jogo por causa da ordenha de 38 vacas
Numa pequena cidade do Vale do Taquari, cujo nome homenageia uma região da Alemanha, quase todos os 2,7 mil habitantes estarão hoje à frente dos televisores e dos rádios acompanhando a partida entre a seleção alemã e a Argélia, no Beira-Rio.
Em Westfália, a 117km de Porto Alegre, mais de 80% dos moradores são de descendência germânica. E é na época da Copa do Mundo que os corações deles dividem-se entre o Brasil e a terra de onde vieram os antepassados.
Mas há quem admita manter a torcida para a Alemanha em primeiro lugar, como a família Ahlert, de Linha Schmidt Fundos. A paixão pela seleção veio do patriarca, Cirio, já falecido.
- Cresci vendo o meu pai torcer com paixão pela Alemanha, não teria como pensar em outro time - explica o funcionário público Loivo André Ahlert, 39 anos.
Na década de 1990, Loivo viveu por seis meses na região de Westfalen, na Alemanha, de onde vieram os ascendentes da família, e até hoje mantém amigos no país europeu. Ele retornou ao lugar em outras cinco oportunidades. Em duas delas, com os pais.
Ordenha na hora do jogo
Hoje, ao lado da mãe, Vera, 70 anos, Loivo torcerá pela vitória do time do atacante Thomas Müller. Porém, não poderá ser diante da televisão - como ambos gostariam. Às 17h, exatamente no horário que a seleção alemã entrará em campo, mãe e filho estarão iniciando a ordenha de 38 vacas. E o horário não pode ser modificado porque o intervalo de 12 horas permite uma maior produção na lactação. A ordenha dura 90 minutos, o tempo da partida se não tiver prorrogação.
- Elas são ordenhadas às 5h da manhã e às 17h. Não podemos mudar o horário por questões sanitárias. As vacas já estão acostumadas. Por isso, o jeito será escutar o jogo no rádio. Neste caso, o trabalho ficará em primeiro lugar - lamenta Loivo.
E se Alemanha e Brasil se enfrentarem na semifinal? O funcionário público tem a resposta na ponta da língua:
- É claro que tenho amor pelo Brasil, pois nasci e vivo aqui. Mas não sinto emoção pela Seleção Brasileira. Me emociono mesmo é com a alemã. E é por ela que vou torcer. Na final, quero Alemanha e Holanda.
Brasil em primeiro lugar
Diferente da família de Loivo, Westfália se vestiu de verde e amarelo para torcer pela Seleção. Pelas ruas, bandeiras do Brasil misturam-se ao símbolo da cidade: o sapato de pau. Até o mascote Fuleco uniu-se a ele na entrada de Westfália.
Entre os torcedores da Família Scolari está Ido Ahlert, 57 anos, comunicador da rádio comunitária Líder. que tem o mesmo sobrenome de Loivo, mas não é parente dele. Apresentador do programa Só Alegria, que vai ao ar aos domingos de manhã nos idiomas português e alemão, Ido é um dos mais dedicados torcedores do Brasil. Nas notas sobre futebol, comunicadas na língua alemã, destaca com emoção o nome do país.
Também faz questão de ressaltar a torcida no outro programa que apresenta apenas em dialeto Plattdüütsch, ou sapato de pau, língua trazida pelos primeiros imigrantes no século 19 e mantida até hoje entre os moradores de Westfália.
- Tenho a seleção alemã como minha segunda preferida. Simpatizo com ela por fazer parte da minha história, mas sou Brasil sempre. Torço muito para que a nossa Seleção conquiste este Mundial e traga alegria a todos os brasileiros - garante.