Grêmio



Há 30 anos

Fábio Koff relembra a primeira conquista da Libertadores da América

Muitas revelações dos bastidores da conquista da primeira Libertadores foram reveladas nesta entrevista concedida por Koff ao Diário Gaúcho

27/07/2013 - 10h54min

Atualizada em: 27/07/2013 - 10h54min


Fábio Koff, atual presidente do Grêmio com a Taça da Libertadores da América, em 1983

O destino conspirou a favor do Grêmio. Neste domingo, quando o time pisar no gramado da Arena contra o Fluminense, dois personagens que escreveram um dos capítulos mais dourados da história do clube há exatos 30 anos estarão a postos, a serviço do clube. Renato Portaluppi regressou para ser o comandante dentro de campo. Fábio Koff, para reconduzir o clube à trilha das conquistas. Um projeto parecido com o que concluiu na fria noite de 28 de julho de 1983.

O dirigente usou fórmula que tenta repetir agora. Misturou jovens das categorias de base com jogadores rodados em busca de reconhecimento. Temperou isso com o talento de um craque "maluco", que com o número 7 às costas atropelava adversários com sua força física e os iludia com a técnica. O que poucos sabem é que Renato, um ano antes de cruzar para Cesar marcar o gol do título, quase foi parar no Operário-MS. Essa revelação e outros bastidores da conquista da primeira Libertadores estão nesta entrevista concedida por Koff ao Diário Gaúcho.



O time

Com o Mazaropi, inauguramos uma alteração no regulamento da Conmebol, que até então não permitia a substituição de jogadores. Usamos a força política e, praticamente sozinho, com a assessoria de um argentino, Samuel Lazaro, que foi o empresário do Santos e do Pelé, conseguimos alterar o regulamento para permitir a troca depois da primeira fase. O Tita chegou antes, numa negociação por empréstimo pelo Baltazar com o Flamengo. Tínhamos uma consciência de futebol, obedecida à risca, de equipe forte e disciplinada, que representasse a história do clube.

O Renato buscava a afirmação. Ficou todo o ano de 1982 sem ser aproveitado. Seguiu no clube e se consagrou. Tínhamos o De León, zagueiro técnico, Osvaldo, admirável do meio para a frente. Formamos um grupo, como tentamos fazer agora, com experientes, mas com 14 da base entre 28.

O Grêmio conseguiu em 1983 mudar a história do futebol do Rio Grande do Sul. Brinco com os adversários que o Grêmio, aqui, foi o primeiro campeão do mundo. O que é importante. O primeiro que chegou à lua todo mundo sabe quem é. Ninguém se lembra do segundo.

Volto muitas vezes à lembrança de que a Libertadores era um sonho quase impossível. O Grêmio tentara no ano anterior, em 1982 (foi vice) e aprendera a lição. Fizemos uma equipe com prevalência da força física e do conjunto. Foi processo de conscientização.
Organizamos a equipe para isso. O sistema de disputa era mais difícil do que o atual. Nos vimos praticamente alijados depois de jogo em La Plata, na Argentina. Deixamos que o Estudiantes, com sete em campo, buscasse o empate em 3 a 3, após abrirmos vantagem de 3 a 1. O Grêmio passou a depender do resultado do jogo América de Cali x Estudiantes. Estava com contratura muscular e viajei praticamente medicado à Colômbia. Foi a maior emoção que experimentei no futebol. O resultado que nos interessava era a vitória ou empate do América, que já estava eliminado. Com menos de 20 minutos de jogo, eles tiveram um expulso.
Acabou 0 a 0. Experimentei a melhor sensação após o jogo. O público que estava no estádio voltou-se à tribuna para aplaudir ao presidente do Grêmio após um pedido pelos alto-falantes. Depois do jogo, concedi entrevista dizendo que ninguém mais segurava o Grêmio.

Pressentimento

Senti que seríamos campeões, por incrível que pareça, quando o Grêmio conseguiu com certa facilidade ganhar do Flamengo no Maracanã. Havíamos empatado aqui. Deu para perceber que tínhamos formado um time vencedor, que crescia conforme as dificuldades. Aquele dia no Maracanã tive a certeza que o Grêmio dificilmente perderia a Libertadores. No dia da final, saí de casa vestido com blazer claro, calça escura e abrigo. Minha mulher me perguntou porque não me vestia como os dirigentes uruguaios, com terno e gravata. respondi que não ia usar gravata porque ia me molhar e me emborrachar porque o Grêmio seria campeão. Eu tenho dois casos de amores: minha mulher e o Grêmio

A inspiração

O Grêmio era tido e havido, e passou a ser, como um time de estilo uruguaio. Jogamos uma partida em 1984 contra o Palmeiras. usávamos camisa azul, calção preta e meia azul. Ouvia a torcida dizer que haviam chegado os charruas. O Grêmio praticava estilo de futebol mais uruguaio do que brasileiro. Entendo que o futebol deve prevalecer coletivo. Hoje vemos que dois, três jogadores fazem a diferença. Na época, não faziam. O que prevalecia era a estrutura completa. Vamos ver se conseguimos repetir. Espero que Deus esteja guardando isso.

Fama mundial

A conquista representava dimensão maior ao clube. Vivíamos dentro dos limites territoriais do Estado. Dois anos antes, fomos campeões do Brasil. A partir da Libertadores e, depois, nos anos 90, passamos a ser conhecidos no mundo. Fundamos um clube em Tóquio, o Frontale, que foi campeão nacional com camisa igual a nossa, só mudava o escudo.

Renato

Tenho relação de amizade com o Renato, e ele tem muito respeito por mim. Ele considera, com justiça, que fui importante na carreira dele. O Renato estava emprestado em 1982. Quando cheguei à reunião do departamento de futebol, me disseram que o haviam emprestado para o Operário-MS. Estavam o 'Seu' Ênio Andrade (técnico), o vice de futebol, Paulo Odone, e o diretor de futebol, Flávio Obino.

Me disseram que queriam contratar um ponteiro- direito. Disse que eles queriam, mas eu não queria e não contrataria. Eles alegaram que não havia alternativas, e eu disse que tinha o Renato. Mandei o 'Seu' Verardi (superintendente, Antônio Carlos) a Bento Gonçalves buscá-lo. Desfizeram o negócio naquela tarde. Apostei no Renato, que ficou todo o 1982 no banco. Só jogou a partida do ano, contra o Flamengo, na final do Brasileirão.

Quando disse ao Ênio que ficaria com o Renato, ele respondeu: "O Renato, aquele louco?" Perguntei o que ele (Renato) fazia, se rasgava dinheiro. Ele disse que eu era maluco. Rebati dizendo que achava Renato bom jogador e que não tinha dinheiro para contratar um reserva. Deu certo. Na festa da conquista da Libertadores, o Renato me despejou um balde de água no vestiário. Estava muito frio, um horror. Sem explicação. Depois, ficou com o balde na cabeça.

Koff conta as peripécias de Renato nos tempos do glorioso Grêmio dos anos 80. Ouça:


A invasão

Pela primeira vez alguém invadiu o Centenário. Eu invadi (risos). No jogo de ida da final, o árbitro invertia faltas, exercendo pressão sobre nossos jogadores. Houve momento em que o jogo foi interrompido para atendimento ao Renato. Estava no banco e invadi de dedo em riste. O Peñarol veio todo para cima. O árbitro dizia: "Tirem este louco, saquem este louco". Todos os jogadores vieram comigo. Não havia reclamação individual, todos pressionavam. Hoje, talvez, não funcione.

A final

Fui convocado para reunião em Lima, sede da Conmebol na época, para alterar a ordem dos jogos. O Peñarol queria jogar a primeira em casa. Achei a proposta vantajosa. Acreditei ter feito o melhor negócio do mundo. O presidente do banco do Uruguai me disse que o Peñarol tinha ganho todas as competições fora e me alertou que havíamos entrado numa fria. Empatamos lá. Depois, numa noite fria, no Olímpico, o Grêmio foi consagrado na América do Sul. Nosso clube se incluiu entre os maiores. Volto hoje à presidência, 30 anos depois, com a expectativa de conquistar outra. Não deu neste ano. Vamos buscar em 2014.

Os 12 passos até a taça

PRIMEIRA FASE
GRUPO 2

04/03 Porto Alegre Grêmio 1 x 1 Flamengo

22/03 Sta. Cruz de la Sierra (Bolívia) Blooming/Bol 0 x 2 Grêmio

25/03 La Paz (Bolívia) Bolívar/Bol 1 x 2 Grêmio26/04 Porto Alegre Grêmio 2 x 0 Blooming/Bol

31/05 Porto Alegre Grêmio 3 x 1 Bolívar/Bol

05/06 Rio de Janeiro Flamengo 1 x 3 Grêmio

SEMIFINAL

21/06 Porto Alegre Grêmio 2 x 1 Estudiantes/Arg

24/06 Cali (Colômbia) América/Col 1 x 0 Grêmio

05/07 Porto Alegre Grêmio 2 x 1 América/Col

08/07 La Plata (Argentina) Estudiantes/Arg 3 x 3 Grêmio

Campeões cinquentões

Mazarópi - Goleiro

60 anos (Além Paraíba-MG, 27/1/1963)

Encerrou a carreira no Guarany de Bagé, em 1992. Ano passado, candidatou-se a vereador em Sapucaia do Sul, na Região Metropolitana de Porto Alegre. Hoje, é secretário de Esportes de Sapucaia do Sul.

Paulo Roberto - Lateral-direito

50 anos (Viamão, 27/1/1963)

Atuou por quase todos os grandes clubes brasileiros. Aposentou-se em 2000, depois de passagem pelo São José-Poa, e hoje é empresário de futebol.

Baidek - Zagueiro

53 anos (Barão do Cotegipe, 16/4/1960)

Se aposentou aos 35 anos após passagem por Grêmio, Belenenses/Por, Madureira e Alagoas. Hoje, é empresário de futebol, com escritórios em Porto Alegre e Lisboa e filial no Catar.

De León - Zagueiro

55 anos (Rivera/Uru, 27/2/1958)

Em 1984, trocou o Grêmio pelo Corinthians. Rodou por Santos, Nacional/Uru, River Plate/Arg, Botafogo e Toshiba/Jap, e encerrou a carreira no Nacional. Mora em Rivera e atua como empresário e representante. Em 2004, treinou o Grêmio.

Casemiro - Lateral-esquerdo

55 anos (Serafina Corrêa, 7/1/1958)

Jogou no Grêmio entre 1979 e 1988, quando foi para o Inter. Em 1990, encerrou a carreira na Inter, de Limeira. Virou técnico, trabalhou no interior gaúcho, na Venezuela, em Hong Kong, em Portugal e nos Emirados Árabes. Está sem clube no momento.

China - Volante

53 anos (Espumoso, 13/9/1959)

Se aposentou em 1994, no Passo Fundo. Saiu do Grêmio e atuou no Vasco, no Sport e em Portugal. Começou como técnico em 1995, na base do Grêmio. Seu último clube foi o Atlético Tubarão-SC, em 2011. Trabalha como assessor de esportes da Famurs, em Porto Alegre.

Osvaldo - Meia

54 anos (Santa Bárbara d'Oeste-SP, 9/1/1959)

Trocou o Grêmio, em 1987, pelo Santos. Ainda atuou por Vasco, Coritiba, Comercial e Ponte Preta. Parou em 1992. É dono de mecânica e loja de autopeças em Santa Bárbara.

Tita - Meia

55 anos (Rio, 1/4/1958)

Jogou por Flamengo, Inter, Vasco, Leverkusen/Ale e nos mexicanos León e Puebla. Se aposentou em 1997. Começou como técnico em 2000, no Vasco. Seu último clube foi o Necaxa/Mex, em 2012.

Renato - Atacante

50 anos (Guaporé, 9/9/1962)

Se aposentou em 1999, no Bangu. Antes, rodou por Flamengo, Botafogo, Cruzeiro, Atlético-MG, Fluminense, além da Roma/Ita. Retornou ao Grêmio em 1991. Virou técnico em 2000, no Madureira. Comandou o Grêmio entre 2010 e 2011 e voltou neste ano.

Caio - Atacante

58 anos (Rio, 16/3/1955)

Em 1984, foi para o Moto Clube, do Maranhão. Parou de jogar e virou técnico. Hoje, trabalha com escolinhas de futebol no Maranhão.

Tarciso - Atacante

61 anos (São Geraldo-MG, 15/9/1951)

Deixou o Grêmio em 1986, após 13 anos no Olímpico, e foi para o Goiás. Jogou também por Cerro Porteño/Par, Coritiba, Goiânia e encerrou a carreira no São José-Poa, em 1990. Eleito vereador da Capital em 2009, se reelegeu em 2012, pelo PSD.

Tonho - Meia

55 anos (Criciúma-SC, 28/8/1957)

Deixou o futebol em 1991, no Avaí, e virou técnico no ano seguinte. Atualmente, vive em Florianópolis e seu último clube foi o Santa Cruz-RS, no Gauchão deste ano, que assumiu após se desligar do São Luiz, de Ijuí, em meio ao campeonato. Atua mais nos mercados gaúcho e catarinense.

Bonamigo - Volante

52 anos (Ijuí, 23/9/1960)

Em 1989, trocou o Grêmio pelo Inter. Jogou ainda por Botafogo e Rio Branco-SP. Começou a carreira de técnico em 1998, no Madureira. Comandou Coritiba, Atlético-MG, Botafogo, Palmeiras, Portuguesa e Bahia. Há quatro anos, está no Al Sharjah Club, dos Emirados Árabes.

Cesar - Centroavante

57 anos (São João da Barra-RJ, 13/4/1956)

O herói do título, autor do gol da vitória sobre o Peñarol, vive hoje na cidade natal, São João da Barra, no Norte do Rio de Janeiro. Trabalha na revelação de jogadores. Saiu do Grêmio e rodou por Palmeiras, São Bento-SP e Pelotas. Encerrou a carreira em 1987.

Leandro José - Zagueiro

52 anos (Dois Irmãos, 11/3/1961)

Em 1985, trocou o Grêmio pelo Joinville. Jogou ainda por Atlético-PR, Botafogo-SP, Santa Cruz-PE, Ituano-SP, 15 de Novembro, de Campo Bom, e São José-Poa. Deixou o futebol aos 38 anos. Desde 1998, é proprietário de uma empresa de ônibus em Dois Irmãos, no Vale do Sinos.

Newmar - Zagueiro

52 anos (Ourinhos-SP, 2/5/1961)

Vendido ao Coritiba logo depois da conquista, ficou cinco anos e foi bi paranaense 86 e 87. Rodou por Pinheiros, Vasco, Bahia, Blumenau, São Luiz-RS e Grêmio Bagé. Trabalhou em escolinhas e esteve na China e na Arábia Saudita. Secretário de Esportes em Ourinhos, há um ano.

Odair - Ponta-esquerda

52 anos (Aratiba-RS, 10/6/1961)

Revelado e multicampeão pelo Grêmio, jogou no clube de 1977 até 1987, quando se transferiu para a Inter, de Limeira. Depois, ainda jogou no Vitória-BA antes de se aposentar. Tem escolinha de futebol em Erechim.

Giba - Lateral-esquerdo

50 anos (Porto Alegre, 11/11/1962)

Saiu do Grêmio em 1987. Rodou por Juventude, Portugal e no São José-Poa. Formou-se em educação física em 1985 na Ufrgs. É agropecuarista e reativou o futebol do São Borja, do qual é o atual presidente.

Paulo Cezar Magalhães - Lateral-esquerdo

50 anos (Santana do Livramento, 5/6/1963)

Saiu do Grêmio em 1985. Rodou por Vasco, Inter, Vitória-BA, Remo, Goiânia, São Paulo-RG, Novo Hamburgo e 15 de Campo Bom. No Vale do Sinos, trabalhou também como treinador. Atualmente, é gerente de patrimônio do Cerâmica, de Gravataí.

Beto - Goleiro

53 anos (Crissiumal, 20/9/1959)

Deixou o futebol e virou treinador de goleiros. Está no Tupi, de Crissiumal, sua cidade natal. É tio do ex-goleiro Danrlei.

Remi - Goleiro

52 anos (Sapucaia do Sul, 29/11/1954)

No dia seguinte à conquista, foi para o Colorado, do Paraná. Voltou, atuou alguns meses no Aimoré e parou aos 29 anos. Trabalhou com venda de automóveis na Capital por 15 anos. Desde 1999, está na base do Grêmio.

Robson - Meia

55 anos (São Borja, 6/7/1958)

Ficou no Grêmio até 1984. Rodou por Novo Hamburgo, Mogi Mirim, Cerro Porteño, Olimpia, Santa Cruz-RS, Pelotas, Atlético Carazinho e São Paulo-RG. Parou em 1996. Trabalhou como técnico e, hoje, tem fornecedora de energético, ração e cigarro.

Lambari - Ponta-direita

56 anos (Erechim, 11/3/1957)

Jogou por Ypiranga, Esportivo, Juventude e voltou ao Grêmio em 1985. Rodou ainda por Atlético-PR, Inter, de Limeira, Pelotas, Criciúma, Sergipe, Brasil-Pe, São Paulo-RG e Inter-SM, entre outros. Parou em 1995. Há 15 anos, está no Progresso, de Pelotas.

Silmar - Lateral-direito

(Porto Alegre, 10/12/1958)

Deixou o Grêmio e foi para o Palmeiras ainda em 1983. Depois, jogou por Náutico, Joinville, Operário-MS, Próspera-SC, Ferroviário-CE e Moto Clube-MA. Morreu em acidente de carro em 1992.

Completava o grupo o quarto goleiro Gérson.

 


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