Grêmio



Entrevista

Enderson Moreira: "A vida segue depois do Gre-Nal"

Técnico gremista avalia que o Grêmio ainda está em evolução

17/05/2014 - 12h01min

Atualizada em: 17/05/2014 - 12h01min


Diego Vara / Agencia RBS
Enderson Moreira já comandou o Grêmio em 27 confrontos, somando 16 vitórias, seis empates e cinco derrotas

Ele é mineiro de coração, mas paulista de nascimento. Enderson Moreira, 42 anos, viveu apenas três meses em São Paulo antes de criar raízes com a família em Belo Horizonte. Vem daí seu estilo tranquilo, a fala mansa e estudada. Mas o mineiro de adoção já coloca uma suave pimenta em seu pão de queijo.

Reação às críticas ferozes recebidas depois das derrotas nos Gre-Nais e a queda na Libertadores. Um Enderson de frases firmes e tom mais elevado recebeu o Diário Gaúcho na sexta-feira, na sala de conferências do Estádio Olímpico.

Foi com o polimento que é sua característica que teceu críticas a algumas opiniões e até à mania gaúcha de viver de forma tão intensa e prolongada um Gre-Nal. Confira a seguir trechos da entrevista.

Confira a entrevista com o técnico Enderson Moreira:

Diário Gaúcho - Você imaginava a pressão sobre seu trabalho com a intensidade que veio?
Enderson -
A pressão faz parte desde que comecei no futebol. Mas olha, às vezes, se reconhece o trabalho mais fora do Estado do que aqui. Eles (de fora) sabem das dificuldades do Grêmio, do que precisamos abrir mão para tentar nos reconstruir no cenário, dos investimentos que, infelizmente, não podemos fazer e dos talentos dos quais precisamos nos desfazer. Vim sabendo do desafio. Tentarei fazer o melhor até o último dia.

DG - Incomoda que, de fora, digam que você é frio, pelo seu perfil, discreto?
Enderson -
Isso é de quem não me conhece, de quem não tem a mínima capacidade de falar do Enderson. Vem de pessoas despreparadas. Uma coisa é não ter ação, o jogador não ouvi-lo à beira do campo. Não sou performático. Meus momentos de falar mais são na semana, antes do jogo, na preleção e nos intervalos. Minhas intervenções são sempre firmes. Quem me conhece sabe que não sou frio. Sou até criticado por ser mais emocional do que racional.

DG - Como foram os momentos seguintes à queda da Libertadores?
Enderson Moreira -
Doeu na alma. Não se consegue deitar na cama e dormir. Quando você está quase pegando no sono, volta um lance. É complicado. O pessoal ficou falando no que a direção poderia fazer, de trocar o comando. Mas não posso sofrer com possibilidades. Lamento o que aconteceu. Mas veja: o San Lorenzo eliminou o campeão brasileiro e, na minha concepção, fizemos melhor enfrentamento com eles do que o Cruzeiro.

DG - Como foi a noite, depois de finalizado o jogo?
Enderson -
Já sou um cara da madrugada. Durmo muito tarde. Produzo, penso, vejo jogos e leio depois da meia-noite, o silêncio da cidade me faz pensar mais. Naquela noite, não foi diferente, demorei a pegar no sono.

DG - Em que patamar se encontra o seu Grêmio?
Enderson -
É uma equipe em formação e houve mudança de filosofia (em relação ao trabalho anterior). Tive de fazer algumas adaptações, em função de desfalques. Tenho como forma de pensar o jogo um time que toca bem a bola, controla o jogo com ofensividade. Busca o resultado sem medo de perder.

DG - Mas em que ponto o Grêmio está?
Enderson -
Tivemos avanço enorme, de momentos de jogo qualificados. Fizemos um jogo maravilhoso contra o Newell’s fora. O segundo tempo contra o Newell’s, na Arena, também foi de alta qualidade. Um time em formação atingirá esse nível em alguns momentos, mas também terá momentos de insegurança.

DG - Como se monta um time com jogadores a serem lapidados?
Enderson -
Uma equipe precisa do frescor da juventude aliada À experiência, bagagem e tranquilidade dos experientes. O que nos dificulta é quando os mais jovens passam a ser referência. É natural que tenham dificuldade em alguns momentos e sejam cobrados. Isso causa a queda no rendimento.

DG - À exceção dos Gre-Nais, o Grêmio mantém bom nível no ano. Isso dá confiança para disputar os títulos do Brasileirão e da Copa do Brasil?
Enderson -
Olha, não vou mais falar sobre o Gre-Nal. Vou falar agora, depois paro. A vida segue. Mesmo que, para muitos aqui, não siga. Vai ser isso para o resto da vida. Penso em coisas maiores. Uma derrota só é uma derrota se você não tirar nada dela. Fomos melhores nos primeiros tempos nos dois clássicos. Não transformamos a vantagem em gol. O Inter foi melhor nas segundas etapas e fez com que a superioridade virasse gols. Aconteceu, a coisa fluiu. Só falam que "se ganhou, tá bom, se perdeu, tá ruim". Tivemos dez minutos em que tudo deu errado para nós e tudo deu certo para eles. Não foi tática, mas um desequilíbrio emocional que decidiu o jogo.

DG - Até onde o time pode ir no Brasileirão e na Copa do Brasil?
Enderson -
Esses primeiros nove jogos do Brasileirão são meio que uma mentira. Depois da parada da Copa é que teremos parâmetro ideal. Todos estarão no mesmo nível. Nosso time é muito qualificado, mas como todos, precisa estar atento ao mercado.

DG - O Grêmio está por receber um lateral-direito argentino e precisa encontrar um novo lateral-esquerdo. Como ficam essas posições?
Enderson -
Para a esquerda, observamos o Breno, que é muito mais novo do que o Wendell, e o Marquinhos. Na lateral-direita, temos um jogador qualificado, com conduta muito boa, que é o Pará. Em alguns momentos, a equipe deixou de oferecer a ele condições ideais. O torcedor sempre quer o jogador em alto nível, mas precisa entender que nem sempre o momento é bom.

DG - O Zé Roberto pode atuar como lateral-esquerdo?
Enderson -
É uma alternativa. Ele foi lateral-esquerdo por muito tempo. Buscamos alternativas para o time.

DG - O Kleber, pelo estilo, se encaixa neste esquema de velocidade do time?
Enderson -
Vejo algumas possibilidades. Não há obrigação nenhuma de um jogador ser titular absoluto. Cada um tem que viver o seu momento. Se o Kleber mostrar o que sabemos que pode, buscará o espaço dele. Se for com o Barcos, em outra função ou com os dois em campo, não sei. Será algo natural, acontecerá com o tempo.


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