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A voz do capitão

D'Alessandro: "Insubstituíveis só o Messi e o Cristiano Ronaldo"

Quem o vê pela tevê, com a camisa 10 do Inter e a adrenalina a mil, não imagina o sujeito simples e engraçado que é o jogador

03/05/2013 - 07h25min

Atualizada em: 03/05/2013 - 07h25min


D'Ale pode erguer a taça do Gauchão neste domingo

O único que pode levantar a taça do Gauchão neste domingo calça alpargatas até no inverno e não sabe o perfume que usa por ser escolha da mulher. Mas se arruma até para ir ao supermercado. Quem o vê pela tevê, com a camisa 10 do Inter e a adrenalina a mil, não imagina o sujeito simples e engraçado que é D’Alessandro. De bem com a vida, líder do grupo e homem de confiança de Dunga, ele comprova a cada jogo a sua importância. Não é por acaso que nos quatro jogos em que esteve ausente, o time patinou.

D’Ale dispensa o rótulo de insubstituível. Mas fica orgulhoso ao ouvir técnico e dirigentes comentarem que sua importância para a equipe se compara à de
Messi para o Barcelona.

Com a chance de ser tri gaúcho, valoriza o Gauchão.

E cutuca o rival:

-  Não tem nada a ver se jogamos uma competição.

Confira a entrevista concedida ontem por D’Ale, às margens do Guaíba, no CT do Inter.

Diário Gaúcho - Caso se confirme o título, como será a emoção de erguer a taça?
D’Alessandro - É uma emoção diferente, sim. No momento em que você é capitão, imagina um monte de coisa. Quero ser um capitão lembrado na história. Claro que isso se dará com o meu trabalho e o do grupo. Hoje, valorizo muito mais o meu trabalho no clube. Ser capitão é um prêmio ao esforço, ao trabalho. Pego os exemplos de capitães que tive aqui: Clemer, Bolívar, Tinga, Guiñazú. Hoje há quatro, cinco líderes no grupo.
Mesmo não jogando, Índio é um deles, Kleber, Forlán, Juan. Valorizo muito essa capitania porque é fora do meu país.

DG - O Inter já venceu esse mesmo Juventude por 4 a 1. Como encarar essa decisão?
D’Alessandro
 - Como uma  final. Tem que ter total humildade para saber que ninguém mais ganha no papel. Ninguém sai ganhando por ter jogadores mais rodados, por ser da Série A ou C, não existe isso. O Juventude vem crescendo na competição, chegou
por merecimento, deixando no caminho times importantes.

DG - O fato de não ser Gre- Nal desvaloriza essa final?
D’Alessandro
 - Não. Temos que valorizar muito os times do Interior. Valorizamos também o nosso esforço, o nosso trabalho, a pré-temporada. Cada jogo foi importante. Pensar que sempre terá Gre-Nal é desmerecer os times do Interior, que se esforçam, chegam a uma final, lutam para não cair. E desvaloriza também nosso trabalho, que foi
muito bom. Não tem nada a ver se nós só temos uma competição a jogar. Em 2012, não caímos na Libertadores porque jogamos o Gauchão. Caímos por circunstâncias do futebol.

DG - O Inter poderá ser tri neste domingo. Qual a importância de manter a hegemonia no Estado?
D’Alessandro -
O Gauchão não é importante só quando perde ou quando você o deixa de lado. Sabemos do valor que tem aqui. Às vezes, isso é desculpa. Tomo como exemplo o nosso de 2012, em que ganhamos o Gauchão e não usamos como desculpa. Estávamos na Libertadores também. Quando tu perdes, o Gauchão tem suma importância. Ele já demitiu treinador. Estou aqui há cinco anos, e o Gauchão sempre deu problema. Nosso grupo sabe que para o torcedor é muito importante. Ele tem que se deslocar para Caxias do Sul, Lajeado. E começar o ano com título é sempre bom.

DG - O que mudou no vestiário com a chegada de Dunga? O que exige de diferente dos outros técnicos?
D’Alessandro -
Acho que o nosso 2012 foi muito tumultuado, dentro e fora de campo. Tivemos muitas lesões. Hoje, sentimos uma mudança muito importante. O clube sente. O presidente falou disso muitas vezes. A chegada do Dunga mudou tudo. É muito disciplinado, impõe respeito. Consegue que o jogador acredite na ideia dele. Isso é o mais importante. É um cara simples. Com ele, é preto ou branco, não é cinza. Valorizo muito isso. Sou muito parecido com ele. Me espelho no que ele fala. Já o conhecia antes, tive muitas conversas com ele fora daqui. Trata-se de um cara muito legal.
Ter um grupo fechado com o treinador é mais fácil.

DG - Dunga já disse que não existe substituto para você. Contra o Santa Cruz, isso ficou nítido de novo. O que você acha da dependência do time?
D’Alessandro -
Não sou de falar de mim. Acho que não tem isso. O grupo é muito qualificado. Direção e comissão técnica procuram que seja mais ainda. Sempre acredito na força do grupo. Individualmente, se cada um fizer a sua parte, a gente vai se dar bem. Ninguém é insubstituível no futebol. Hoje, só o Messi e o Cristiano, que são os
melhores do mundo.

DG - Dunga e dirigentes já fizeram a relação da falta que você faz ao Inter e a que
Messi faz ao Barcelona. Como recebe isso?
D’Alessandro -
Sinto orgulho. A opinião deles é muito importante. Não por minha condição de jogador, mas pela minha condição com o grupo. Claro que fui crescendo no grupo. Quando cheguei, tinha muita gente experiente, que já tinha ganho muito aqui. Me espelhei, tentei aprender o que era a história do clube, o vestiário. Hoje, posso dizer que falam isso porque sou um cara que me apeguei muito ao clube, ao trato do vestiário, ao trato com os empregados. Não só como jogador, mas também fora de
campo. Assumo, e isso passa a ser muito importante para mim.

DG - Incomoda o fato de, por vezes, não se controlar?
D’Alessandro 
- Incomoda. Sinto depois que errei. Erro em deixar o time com um a menos. Ninguém é perfeito, nem no futebol, nem na vida. Tenho meus erros e é importante assumi-los. Mas meu caráter não vai mudar. Sei que, às vezes, passo do limite. Mas tento me segurar. Tudo que se leva dentro do campo com lealdade, eu aceito. Agora, quando não tem respeito, aí dá raiva, fico irritado. Mas é meu jeito de ser. Eu não vou mudar meu caráter.

DG - O que você mais ouve dos adversários em campo?
D’Alessandro -
Isso fica no campo. Acontece em toda competição, na Libertadores  mais ainda. Mas faz parte. Eu também falo, mas com respeito. Se vocês observarem, sempre falo, às vezes brinco, outras não. Futebol não existe com atleta mudo, tem que ser falado e jogado. Aceito qualquer coisa, depois eu processo e dou uma resposta.

DG - O que ainda falta para o grupo do Inter estar pronto?
D’Alessandro -
A gente fica feliz de ter começado bem, tomara que feche o Gauchão da
melhor maneira. Mas precisa tempo. Tem muita coisa a melhorar de entrosamento no
time. Dunga sabe disso e sempre fala o que precisa melhorar. Sabemos do nível que tem a Copa do Brasil, que será cada vez mais difícil, assim como o Brasileirão e a Sul-Americana.

DG - Ainda sonha em jogar a Copa no Brasil pela Argentina?
D’Alessandro -
Tenho o sonho de jogar uma Copa do Mundo. Não tive essa sorte ainda. Em 2006, fiquei de fora. Foi quando me senti mais perto. Agora, é difícil, não tive nenhuma convocação com o Sabella. Mas espero sempre ter essa chance, que o meu trabalho aqui no Inter chegue lá na Argentina. Tudo dependerá do meu trabalho aqui.

DG - O que acha de trintões como Zé Roberto, Ronaldinho, Emerson Sheik e Luis Fabiano estarem em alta?
D’Alessandro -
Há vários fatores. Tem a vida pessoal de cada um. O Zé Roberto, aos 38
anos, joga em alto nível porque se cuidou muito. Foi profissional 100%. O futebol evoluiu muito. Tem muitas coisas que o atleta pode aproveitar para se condicionar melhor. Acredito muito na vida profissional de cada um. Se os caras chegaram aos 30 e poucos jogando dessa maneira é porque se cuidaram e agora se cuidam muito mais do que antes. É muito importante estar bem condicionado.

DG - Você é católico? O que achou do papa hermano?
D’Alessandro - Não sou muito praticante, mas para o meu país é importante. Ninguém achava, nem eu, que havia um argentino cotado para ser papa. É muito bom. A Argentina será reconhecida não só pelo seu futebol e pelos problemas que tem, mas também por ter um papa. Tomara que possamos aproveitar e que o país melhore.

DG - Falando em Argentina, enquanto você estiver em campo em Caxias, na Bombonera terá Boca x River. O que esperar? Verá o teipe?
D’Alessandro -
Gosto de assistir ao vivo. Depois, não tem graça. Até vejo o teipe, mas
sabendo o resultado, você fica um pouco mais tranquilo. O River está em momento um pouquinho melhor do que o Boca. Assim como em Gre-Nal, não tem nada a ver o momento dos times. A cabeça muda em clássicos. Significa muito uma vitória. Espero que o River ganhe.

O descontraído

Quem o vê em campo, muitas vezes bravo, correndo com gana atrás da bola, acredita
que D’Ale seja de poucos sorrisos. Engano. Quando se sente à vontade, o argentino se
mostra tranquilo, de boa conversa e engraçado.

Em bate-papo em vídeo, ele se solta e fala da sua vida pessoal, do hábito de calçar alpargatas, do fato de ser muito vaidoso e lembra, com emoção, da família e do que fez para virar de ídolo.



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