Inter



Dois anos de gestão

Perto do adeus, Luigi fala sobre Beira-Rio, Fernandão, Damião, Luque, Aránguiz e projeta futuro do Inter

Presidente relembra processo de reforma do estádio e as dificuldades que o clube passou

21/12/2014 - 11h02min

Atualizada em: 21/12/2014 - 11h02min


Alexandre Ernst
Alexandre Ernst
Enviar E-mail
Leandro Behs
Leandro Behs
Enviar E-mail
Tadeu Vilani / Agencia RBS

Giovanni Luigi passará as chaves do Beira-Rio para Vitorio Piffero no dia 5 de janeiro. Em quatro anos como presidente do Inter, Luigi enfrentou inúmeros problemas. Já começou a administração recebendo um time marcado pela histórica derrota para o Mazembe. Em Porto Alegre, enormes máquinas caminhavam sobre os destroços do que um dia foi a social do Beira-Rio. A obra para a Copa do Mundo havia se iniciado, ainda que aquele fosse apenas o começo de um drama que se estendeu por mais 14 meses, até que a parceria com a Andrade Gutierrez fosse consolidadas, através de um ultimato da presidente Dilma Rousseff.

Abel e Mano rechaçam convite e Inter pode apostar em treinador estrangeiro

Mas os problemas se sucederam: da crise com o vice de futebol Roberto Siegmann, à batalha judicial com o São Paulo por Oscar, o Caso Jô, o Beira-Rio em ruínas, os jogos em Caxias do Sul e em Novo Hamburgo, os técnicos Celso Roth, Paulo Roberto Falcão, Dorival Júnior, Fernandão, Osmar Loss, Dunga, Clemer, Abel Braga, os investimentos nos estrangeiros Bolatti, Cavenaghi, Dátolo, Forlán, Scocco, Aránguiz, Luque, além de medalhões como Dagoberto, Juan, Dida, Willians, Alex e Nilmar. Leandro Damião foi a grande venda de seus mandatos, ainda que a de Oscar para o Chelsea tenha sido a mais rumorosa.

As ideias de Vitorio Piffero para o Inter

Ainda assim, Luigi manteve a média de conquistar ao menos um título por ano. Ganhou todos os Gauchões, conquistou a Recopa de 2011, venceu a batalha pelas estruturas temporárias exigidas pela Fifa (e cujos R$ 24 milhões foram pagos através de renúncia fiscal), entregou um Beira-Rio novo e de propriedade do Inter, viu a Copa do Mundo em seu estádio e, ao finalizar o mandato, obteve para o clube um amplo terreno em Guaíba, onde será erguido o novo CT.

Colorado Valdívia é o 10º jogador mais valioso do Brasil, diz estudo

A seguir, os principais trechos da entrevista de Luigi sobre os últimos quatro anos de gestão:

O senhor começou as conversas para a contratação do atacante Fred?
Giovanni Luigi
_ Tem outros nomes. Mas uma coisa que o clube conquistou nos últimos anos, na última década, foi: Todo mundo quer jogar no Inter. Isto aqui é o paraíso. Pega o D'Alessandro e pergunta: "O que tu achas do Fernando Carvalho, do Luigi?". Aqui, é tudo olho no olho. Não atrasei nada, um dia sequer. Se tivesse que atrasar, chamaria e diria: "Olha, não vou conseguir pagar no dia". Falaria na cara. Isto é um tratamento, é a maneira certa de fazer as coisas.

Inter mira mais estrangeiros no grupo para disputa da Libertadores

Mas o Inter encerrará o ano com déficit
Luigi
_ Déficit é óbvio que tem. O Inter tem conta com Timemania, o saldo é grande, mas, comparado com outros, é pequeno. É como financiar apartamento: Financia R$ 100 mil, dois anos depois, está devendo R$ 200 mil. Numericamente, é uma conta muito alta (mais de R$ 100 milhões). Vou pagar todas as contas. Paguei todos os impostos, salários e direitos de imagem nestes quatro anos. Vou pagar tudo, nem vamos ficar no cheque especial. E teremos ativos para deixar ao próximo presidente, além de vários jogadores da base. E isto é dinheiro, mais cedo ou mais tarde. Temos o contrato da Nike para renovar, temos 10% para receber da venda do Sandro, do Tottenham para o Queens Park Rangers (o Inter tem direito a quase R$ 5 milhões), pois mantivemos este percentual dele.

Colunistas de Zero Hora opinam sobre as alternativas de técnico para o Inter

O senhor ficou surpreso com o contexto político da eleição?
Luigi
_ Não houve surpresas na eleição. Nós fomos nós mesmos. A verdade é que o clube num momento muito bom. Temos patrimônio, pagamos em dia. Tratei da pré-temporada de 2015 em setembro, com os dois candidatos. Grêmio estava indo para Gramado, acho ruim os dois clubes na mesma cidade, mudamos para Bento Gonçalves, mas sempre com a permissão dos dois candidatos. Sempre estivemos atentos ao mercado, Agora, o Fluminense perdendo a Unimed, se abriu um leque. Guerrero (o atacante corintiano), andei tratando disto. Avançamos ao máximo, é dificílimo, claro, mas tem que tentar. 

O que fará agora, depois de deixar a presidência?
Luigi
_ Vou exercer a minha profissão (é administrador da rodoviária de Porto Alegre), cuidar da minha família e da minha saúde. Tenho cadeira perpétua, meu pai ajudou desde o começo na construção do Beira-Rio. Virei aos jogos. O Fernando Carvalho me convidou, ele tem camarote, estarei por aí. Neste cargo, ou você compra briga com todos, ou passa mais ou menos, ou conquista as pessoas. 

Mesmo com transição, Inter pode fechar com promessa do Atlético-PR

E sai pensando em voltar?
Luigi
_ Saio pensando em cuidar da vida. É preciso dar oportunidade para outras pessoas, ver o que é melhor para o clube. À vezes, é voltar. Às vezes, dar chances aos outros.

Após a reconstrução do Beira-Rio, ainda falta alguma coisa a ser encaminhada?
Luigi
_ Estou negociando com a prefeitura este terreno da Rua C (ao lado do edifício-garagem, em direção às escolas de samba)para que seja do Inter. Perdemos a metade da cessão onerosa que tínhamos, para a construção da Rua A (ao lado do Gigantinho). Perdemos áreas por causa do ampliação da Avenida Padre Cacique. O Inter tem direito a uma indenização de R$ 12 milhões. Ou receber isto em patrimônio, que é que estamos pedindo. Quem não vai querer compra um imóvel ou alugar uma sala no complexo Beira-Rio? Vejam o que o Barra Shopping já valorizou. E há o CT de Guaíba ainda, um patrimônio fantástico. Teremos até uma linha de catamarã, ligando o CT ao Beira-Rio. Por sinal, acho que o CT deveria passar a se chamar Fernando Carvalho, em homenagem.

Luigi afirma que a reforma do Beira-Rio foi seu "grande título" à frente do Inter

O que está por vir para o Inter, a partir do aproveitamento do novo Beira-Rio?
Luigi
_ O negócio que o Inter fez foi extraordinário. Assumo em janeiro de 2011, com o primeiro quadrante da social em obras. Já não entrei a pleno. Em 2012, jogamos com a lona preta no estádio. Em 2013, foram 69 partidas fora de casa. Em 2014, com o Beira-Rio pronto, não podemos jogar o Gauchão porque a Brigada Militar não autorizou. Fizemos jogos em Caxias porque a Fifa havia assumido o estádio. Alguém ia passar por isto, mas gerou desequilíbrio técnico e financeiro. É só ver o aproveitamento deste ano em casa: 82%.
 
Apesar de todo o investimento em futebol, faltaram os grandes títulos.
Luigi
_ Os três primeiros anos foram prejudicados pelo estádio. Este ano, faltaram peças à altura dos titulares. Faltou um grupo mais encorpado.

Luiz Zini Pires: Piffero volta com a obrigação de vencer a Libertadores

Leandro Damião foi o grande negócio deste período?
Luigi
_ Oscar também foi um grande negócio. 
 
Como achas que será conhecido como presidente?
Luigi
_ O importante é que a sequência de ao menos um título por ano foi mantida. Desde 2002, o Inter tem vencido ao menos um por ano. É importante, pois tem gente que não ganha nem isto. De lá para cá, sempre ganhamos um título. Não é nada, não é nada, tem gente que não ganha nada mesmo. E que comemora título de time africano.

MPT aciona Grêmio e investiga Inter por supostas irregularidades na base

E o legado que fica?
Luigi
_ Temos um grande potencial de crescimento, a médio e longo prazos. Além disto, mantivemos a supremacia no Gre-Nal. Somos o primeiro clube no Brasil a faturar mais com o estádio do que com a TV. Temos estádio próprio. Daqui a um ano, poderemos atingir 140 mil sócios, conforme for a temporada, com uma arrecadação mensal de R$ 9 milhões apenas com os associados.

Valeu a pena o sofrimento da espera pela Andrade Gutierrez?
Luigi
_ Valeu muito a pena. O Beira-Rio é um orgulho todos os colorados. Houve um momento em que tive dúvidas. Via o outro estádio (a Arena) crescendo e o nosso, parado. Mesmo assim, mantivemos a hierarquia do futebol gaúcho. Queria ganhar o Brasileirão, não deu. Quando assumimos o clube, muitos anos atrás, mal havia jogadores na base. Bem ou mal, chegamos em terceiro no Brasileirão. É preciso fazer ajustes no time, como em qualquer final de ano.

Diogo Olivier: as vozes do vestiário do Inter têm técnico

Que nota o senhor dá para a sua gestão?
Luigi
_ Deixo isto para os outros avaliarem. 

Dos treinadores que o senhor contratou (começou com Roth, depois Falcão, Dorival, Fernandão, Dunga e Abel Braga), se arrepende de algum deles?
Luigi
_ Não me arrependo de nada. É muito fácil, depois do que aconteceu, dizer que deveria ter ido para lá ou para cá. A decisão depende do momento.

Uma alegria e uma tristeza nestes quatro anos?
Luigi
_ Ganhar o primeiro Gre-Nal da Arena e a festa de reinauguração do Beira-Rio. de tristeza, a decepção com algumas pessoas. Poucas.

O senhor chora?
Luigi
_ É... Talvez por isto os antigos diziam que, se você não coloca para fora, pode ficar doente. Tive muitos momentos de estresse. Mas extravasei, sim. Agora contra o Figueirense, no Gre-Nal da Arena, no Gre-Nal de 2011 (quando o Inter virou o mata-mata do Gauchão e foi campeão no Olímpico), na festa do estádio. Não precisa chorar para extravasar.

Como se explica a queda de Damião no Santos?
Luigi
_ Ainda tenho contato com ele. Damião ainda vai dar muitas alegrias, onde estiver jogando. É um cara focado. Por abril, sentiu o púbis. Dizem que é uma dor insuportável. O Giuliano não conseguiu jogar no Grêmio por causa dito. O púbis dá uma dor terrível e não cura rapidamente. Damião precisa de continuidade.

Vale o mesmo para o Luque, que operou o púbis?
Luigi
_ Vale. Agora, fazendo uma boa pré-temporada, ele tem potencial para estourar em um médio prazo, não vai entrar arrebentando. Vai ter um período de adaptação ao Brasil. Luque tem uma velocidade impressionante, tem um potencial enorme, pode explodir no segundo sempre.

Por que Aránguiz caiu de produção?
Luigi
_ Penso que ele sentiu o desgaste, muitas viagens, jogou a Copa, voltou, viagens longas, só pedreiras, de quarta a domingo, Acho que ficou sobrecarregado fisicamente. Mas vai mudar agora, com a Libertadores e um calendário melhor.

A reeleição ao final de 2012 valeu a pena?
Luigi
_ Valeu. Ficou a marca da entrega do estádio, do grande negócio, do grande legado. Nada disto teria dado tempo em dois anos. O estádio estaria em obras ainda. Era importante iniciar e terminar o estádio.

O Inter virou refém de um grande treinador? O vestiário rodado e caro não permite um emergente?
Luigi
_ Um emergente é uma aposta e uma aposta às vezes não dá certo. Para conduzir o Inter na Libertadores é preciso um treinador experimentado, rodado, cacifado. Pode até não ter ganho a Libertadores, como ocorreu com Abel e Tite em tempos anteriores. Não tinham Libertadores, mas eram experientes. Hoje, quais são os acima de qualquer dúvida? Felipão, Muricy, Mano, Abel, Tite e Marcelo Oliveira.

Neste sentido, Fernandão foi um erro em 2012?
Luigi
_ Como treinador, sim. Principalmente pelo momento em que ele assumiu, no meio da caminhada do ano.

Wellington Paulista é punido por briga contra o Figueirense

O que representou inaugurar a estátua de Fernandão?
Luigi
_ Tinha uma relação muito especial com ele, era uma pessoa de nível superior, tinha tudo para ser um grande executivo por anos e anos no clube. A estátua simboliza o que ele representou, ficará sempre presente como nosso capitão da Libertadores e do Mundial. O clube soube escutar o que a torcida desejava.

E a nova formatação do Conselho Deliberativo, o que lhe pareceu?
Luigi
_ Muito boa. A torcida está bem representada, todas as correntes querem ajudar, e estão fazendo a leitura correta do futuro do Inter. O Inter está em um momento fantástico, até neste ponto. Todos vão ajudar. Os nossos inimigos estão lá fora.

Não deixe de conferir a página do #ColoradoZH de cara nova: http://zh.com.br/inter

Acompanhe o Inter no Brasileirão através do Colorado ZH. Baixe o aplicativo:

IOS

Android


MAIS SOBRE

Últimas Notícias