Inter



Gente como a Gente

Bastidores do Inter: o menino do Santa Tereza que virou roupeiro do Colorado

Em uma nova seção, Diário conta a história de craques dos bastidores de times gaúchos

17/11/2015 - 14h55min

Atualizada em: 17/11/2015 - 14h55min


Adriana Franciosi / Agencia RBS
Buiu trabalha no clube desde 1995

Mesmo nos ambientes mais iluminados pelos holofotes da mídia há personagens quase anônimos que fazem da batalha diária as suas grandes vitórias. No caso da dupla Gre-Nal, sem o suor deles a roda que faz andar esses dois clubes gigantes emperra. Para retratar este bastidor, o Diário Gaúcho inaugura nesta terça-feira a seção Gente como a Gente, que conta a história desses personagens tão desconhecidos como vitoriosos.

Em 1995, aos 11 anos, Fabiano de Oliveira começou a frequentar as escolinhas do Inter, que ficavam junto ao Beira-Rio. Ao assistir aos treinamentos dos profissionais, encantou-se. Até que um dia pediu ao preparador de goleiros Marquinhos para ser gandula das atividades. Foi autorizado a ficar atrás de um gol, devolvendo as bolas que ultrapassavam a rede de proteção.

Desde então, o pequeno morador do bairro Santa Tereza nunca mais deixou de frequentar o estádio. Fez amizade com os jogadores, com o pessoal da rouparia, passou a ajudar todos. Queria apenas se divertir e passar o tempo no ambiente do estádio. Mas a brincadeira, aos poucos, virou trabalho. O guri virou homem e hoje é um dos roupeiros do time principal. Divide as tarefas com seu Gentil, que cumpriu trajetória parecida.

- O Inter é minha vida, é minha família. Vivo para o Inter - enfatiza.

Fabiano virou Buiu há 18 anos. O apelido, em referência ao personagem Buiu, do programa A Praça é Nossa, foi dado pelos ex-jogadores Arilson e Fabiano. Sempre bem-humorado, o garoto aceitou a brincadeira. Ainda adolescente, teve os estudos pagos pelo Inter em uma escola particular. Aos 16 anos, passou a receber como estagiário do clube. Logo, transformou-se em funcionário.

Bastidores do Grêmio: conheça o jogador que virou motorista do clube

O trabalho começou como auxiliar de campo. Era responsável por transportar todo o material utilizado nos treinos, como bolas, cones e chuteiras. Em 2008, sob a tutela dos experientes roupeiros Gentil (até hoje no Inter) e Ismael, a quem se refere como pais, passou para a rouparia. Primeiro no Inter B, depois no vestiário principal.


Foto: Adriana Franciosi / Agência RBS

A rotina de trabalho é puxada. Buiu e seus colegas de setor chegam duas horas antes dos treinos e saem duas horas depois. É preciso separar os materiais conforme o gosto de cada um. Depois, separar e enviar a roupa suja para a lavanderia. E, antes de sair, deixar tudo pronto para o próximo treino. Em meio a tudo isso, fazem os ajustes no principal material de trabalho dos jogadores, as chuteiras:

- Tem uns que falam: "Trata essa chuteira com carinho".  Outros pedem para eu usá-las e amaciá-las. Como vou ficar no vestiário de chuteira? Além disso, às vezes o cara calça 38, 39, nem entra no meu pé - sorri Buiu, que logo acrescenta:

- Temos uma relação de família. Eles nos tratam como irmãos. Amo o que faço, é minha paixão.


Buiu comemorando a final do Campeonato Gaúcho 2003. Foto: Fernando Gomes / Agência RBS

Como um treinador que blinda o vestiário, o roupeiro não revela os casos que acontecem nos bastidores do clube e fica em cima do muro quando perguntado sobre qual o melhor jogador já conviveu. Só não tem dúvidas do momento mais feliz nas duas décadas de Beira-Rio:

- Minha maior alegria foi ver o Inter campeão do mundo. Era um sonho, não imaginávamos a dimensão.

Esse jogo, Buiu viu pela tevê. Mas, se o Inter voltar ao Japão, ele é candidato a lugar no voo.


Conhecendo o mundo

Como roupeiro do Inter, Buiu, 31 anos, roda o Brasil e a América Latina. No entanto, pouco curte as cidades por onde passa. Às vezes, só dá tempo de olhar a paisagem pela janela do hotel.

Nas viagens, os roupeiros levam três jogos do fardamento principal (vermelho) e mais três do reserva (branco), além de três pares de chuteiras para cada jogador, tênis e caneleiras. Tudo precisa estar minuciosamente organizado. Na Libertadores deste ano, Buiu esteve no México, no Chile, a Colômbia e na Bolívia. Aliás, a passagem por La Paz é para esquecer. Se é que lembra de algo. A altitude de 3,6 mil metros derrubou o roupeiro.

- Passei mal no vestiário. Era os caras jogando, e eu no oxigênio. Depois, já tinha vomitado um monte, e o pessoal falou que o aeroporto era numa altitude ainda maior (4 mil metros). Pensei: "Agora vou morrer" - diverte-se o roupeiro, lembrando que precisou ser carregado do ônibus até o avião.


Trabalhando durante treinamento em 2006
Foto: Fernando Gomes / Agência RBS

A lembrança de Fernandão

Perguntado sobre o convívio com Fernandão, Buiu lembra de um episódio ocorrido no segundo dia do ídolo colorado no Beira-Rio. O ex-jogador, morto no ano passado, ouviu o roupeiro conversando com um colega, dizendo que precisava de um tênis. Depois do treino, Fernandão levou os dois em uma loja e comprou um par para cada um. 

-  Ali, percebi: "Esse é um cara iluminado". Ele se preocupava com todos, Fernandão era como um pai para todos nós.

Leia mais notícias da dupla Gre-Nal
Curta a nossa página no Facebook

* Diário Gaúcho


MAIS SOBRE

Últimas Notícias