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Opinião

Luiz Zini Pires: o novo nome do futebol

Um Xeque do Bahrein é o candidato favorito à sucessão de Joseph Blatter nas eleições mais importantes dos 111 anos da Fifa, no dia 26 deste mês

07/02/2016 - 11h01min

Atualizada em: 07/02/2016 - 11h01min


Luiz Zini Pires
Luiz Zini Pires
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Karim JAAFAR / AFP

O nome é longo e atípico no Ocidente que domina o futebol global: Salman Bin Ibrahim Al-Khalifa. Nada de doutor ou sir, a corroída Fifa, que ainda manda na bola, o chama de xeque Salman. Reverencia o integrante da família real do Bahrein, um punhado de ilhotas, quase mergulhadas em petróleo e ligadas à vizinha e aliada Arábia Saudita por uma ponte de 25 quilômetros de extensão, a King Fahd Causeway.

Acostume-se. Tudo indica que os fãs do futebol terão o xeque por perto nos próximos quatro anos, na Copa do Mundo da Rússia de 2018 pelo menos.

Salman é vice-presidente da Fifa. Apoiaria Michel Platini, 60 anos, na eleição do próximo dia 26, em Zurique, na Suíça. Como o francês foi banido do futebol, ele resolveu disputar a cadeira número 1 que era de Joseph Blatter, 79 anos - hoje amaldiçoado no mundo do futebol. O barenita disputará as eleições com outros quatro candidatos. Salman é cria de Blatter na Fifa, mas segue outros propósitos.

Três semanas antes da definição dos 209 votos disponíveis, do alinhamento político das federações e confederações e da corrida às urnas, Salman aparece na linha de frente como favorito, segundo a mídia europeia.

É seguido de perto pelo suíço Gianni Infantino, 45 anos, que levará certo os 53 votos do seu continente, os 10 da Conmebol, a CBF junto, e talvez os da Concacaf. O coronel Antonio Carlos Nunes, presidente fictício de Marco Polo Del Nero na CBF, votará em nome do Brasil obscuro.

Urna como lar de votos é um objeto de outro mundo na cultura distante de Salman. A democracia é uma identidade alienígena na sua nação no Oriente Médio, que abriga uma base naval dos Estados Unidos. Os 1,1 milhão de habitantes do Bahrein vivem sob uma feroz monarquia constitucional.

O primeiro-ministro e um gabinete são indicados pelo rei - urnas só mortuárias. Salman, 50 anos, graduado em história e literaturas inglesa, começou na federação de futebol do seu país. Ao chegar à presidência, foi atraído pela Fifa. Fez parte de comitês durante mais de uma década, com destaque no de futebol de praia e no disciplinar. Sua visibilidade, trabalho e gosto pelo futebol, chamou atenção da Confederação Asiática de Futebol (ACF), umas das seis ligadas à Fifa, e com sede em Kuala Lumpur, na Malásia. Suas línguas oficiais são o inglês e o árabe. Em 2013, ele assumiu a liderança da ACF.

Em acordos nos bastidores, fechados em silêncio no final de 2015 e confirmados na última sexta-feira, Salman atraiu os 54 votos da Confederação Africana de Futebol (CAF). Seu presidente, o camaronês Issa Hayatou, 69 anos, é interino de Blatter, antigo e fiel aliado do suíço e próximo a Salman. Juntas, as entidades somam uma centena de votos.

A confederação com o maior número de votos é a africana, 54, depois chega a Europa (53), Ásia (46), Concacaf (35), Oceania (11) e Conmebol (10). O candidato precisa receber o apoio de dois terços dos delegados ou 139 votos para vencer no primeiro turno. Se ocorrer uma segunda votação, os concorrentes necessitam de maioria simples ou 105 votos.

Quando jogadores da seleção do Bahrein participaram de protestos pró-democracia, em 2011, o candidato à presidência da Fifa, pai de três filhos, foi acusado de usar mão de ferro contra os atletas. Grupos de direitos humanos acusam o dirigente - ele nega - de ter apontado os rebeldes através de fotografias e de não impedir que eles fossem torturados.

Suas ideias sobre a nova Fifa, a que brotar das urnas que ele não cultua, são diferentes das de outros candidatos, até radicais. Deseja dividi-la em duas. Uma atenderia o futebol, destinada a gerir o futebol, cuidar das Copas do Mundo como filhos. A outra divisão centraria músculos nas finanças, no marketing, nos direitos de TV e nos ricos patrocinadores.

- Somente separando a origem dos fundos e supervisionando cada gasto poderemos garantir o renascimento de uma nova Fifa - explicou Salman no comunicado que anunciava a candidatura.

Escreveu mais:

- A Fifa deve ser reestruturada, do topo até a base.

Sua promessa é patrocinar uma reforma completa, uma revolução como a Fifa nunca viu. A histórica casa do futebol precisa mesmo de novos mecanismos de controle, deve erguer um muro ético que os João Havelange, Ricardo Teixeira e José Maria Marin da vida não consigam pular, uma barreira intransponível. A pergunta é se Salman, sem história no futebol, terá força para a supertarefa?


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