Copa 2014 - Liga dos Fanáticos



Ameaça de vexame

Obras atrasadas, euforia e apreensão: o clima em torno do Itaquerão, palco da abertura da Copa

Zero Hora visitou o estádio em São Paulo e conta como estão os preparativos para o Mundial

19/04/2014 - 13h05min

Atualizada em: 19/04/2014 - 13h05min


Na passarela que liga a estação Itaquera do metrô ao palco da abertura da Copa do Mundo, os amigos Jairo Pires, funcionário público, e Carlos Antônio, aposentado, conversam animadamente. O local virou um mirante para as obras do novo estádio corintiano, chamado pela Fifa de Arena São Paulo mas conhecido mesmo por Itaquerão, alusão ao bairro que, durante mais de 20 anos, esperou receber o estádio do Corinthians.

Pires e Antônio, ambos com 66 anos, estão empolgados. Corintianos, sabem dos mínimos detalhes da nova casa: a dimensão do gramado, o local de acesso das equipes e as características de cada setor.

- Será um dos três melhores estádios do mundo - afirma o funcionário público.


Fotos: Bruno Alencastro

Mas faltando menos de dois meses para a Copa, ainda há muito por fazer dentro e fora do Itaquerão. Dos 12 estádios, justamente o da abertura é o mais atrasado. A instalação das arquibancadas temporárias, necessárias para chegar à capacidade exigida para a estreia da Seleção Brasileira contra a Croácia, em 12 de junho, só deve terminar em maio. O único grande teste do Itaquerão antes da abertura está previsto para menos de um mês antes, em 17 de maio, quando o Corinthians recebe o Figueirense pelo Brasileirão.

São vários os motivos para tanto atraso. Desde que foi anunciado como palco paulista do Mundial, no segundo semestre de 2010 - ocupando o lugar do Morumbi - o estádio apresentou problemas no processo de construção, como a necessidade de desviar dutos da Petrobras que passavam sob o terreno, além de entraves nos empréstimos bancários e, principalmente, a morte de operários. Foram duas em novembro do ano passado, quando um guindaste tombou, e mais uma no último mês, de um trabalhador que caiu durante a montagem das arquibancadas temporárias.

Para não se tornar o vexame da Copa, os trabalhos no Itaquerão estão em ritmo intenso. Há máquinas e operários por todos os lados. São mais de dois mil funcionários em atividade na área do estádio e outros 1,7 mil atuando nas obras de infraestrutura do bairro.

- Vamos terminar tudo no dia 27 - diz um otimista operário.

Os amigos que assistem da passarela do metrô ao surgimento do Itaquerão garantem: não há risco do estádio da Zona Leste ficar fora da Copa. E ficam bravos com quem pensa diferente.

- Esses dias um palmeirense estava aqui vendo as obras e disse: "Acho que não vai ficar pronto". Tive vontade de dar um soco na cara dele - bradou o corintiano roxo Jairo Pires.


Detalhe ZH: De sonho antigo a estádio de Copa
Quando o Brasil foi escolhido para sediar o Mundial de 2014, o estádio paulista era o Morumbi, do São Paulo, mas a Copa acabou no Itaquerão, do rival Corinthians - que em 1988 havia recebido o terreno da prefeitura mas jamais construiu sua arena.

O São Paulo perdeu o Mundial ao negar-se a reformar o Morumbi a um custo de R$ 630 milhões. O então presidente corintiano, Andrés Sanchez, aproximou-se do então mandatário da CBF, Ricardo Teixeira e emplacou a ideia da construção de um estádio de Copa para o Corinthians. Sanchez chegou a afirmar que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva negociou o acordo entre Corinthians e a empreiteira Odebrecht para a construção da arena. Depois, disse que o ex-presidente da República, torcedor corintiano, "agilizava as burocracias da obra".

Números do Itaquerão | Create Infographics


Desafio: as arquibancadas provisórias

Para quem vê o Itaquerão de fora, percebe que o grande desafio para entregar o estádio a tempo é concluir a instalação das arquibancadas provisórias, necessárias para que a capacidade seja suficiente para o jogo de abertura do Mundial - o Corinthians quis um estádio para 48 mil torcedores, mas a Fifa exige pelo menos 60 mil para o jogo inaugural da Copa.

A obra é uma responsabilidade da parceria firmada entre o governo do Estado e AmBev. Contratada para executar o serviço, a Fast Engenharia garante que o trabalho será finalizado na primeira quinzena de maio.

Euforia e apreensão

"Vai Curintia", grita um motorista que passa pela rodovia Radial Leste. Outros apenas buzinam. Os seguranças que controlam a entrada no estacionamento subterrâneo do estádio já estão acostumados com a euforia dos corintianos ao avistarem o Itaquerão.

- É assim o dia inteiro  diz um funcionário.

Vestindo uma camiseta da torcida organizada Gaviões da Fiel, Luiz Henrique Montinho da Costa, 24 anos, desempregado, observa atentamente a instalação das arquibancadas temporárias. Morador do bairro, conta as horas para assistir ao time do coração jogando em casa própria, um sonho de décadas do clube, que sempre sofreu com a ironia dos rivais por não ter um estádio que pudesse chamar de seu.

- Demorou tanto tempo e agora a gente conseguiu tudo isso. Agora temos o nosso estádio - orgulha-se Costa.

Se entre os corintianos o clima é de euforia, outros moradores de Itaquera estão apreensivos. Com visão para o estádio, em uma região mais pobre de Itaquera, reside o motorista Alex Sandro José da Luz, 32 anos. Em frente a sua casa, uma pintura em um muro com a inscrição "Copa para quem" retrata o sentimento de muitos moradores em relação ao Mundial.

- As mudanças que aconteceram só favorecem quem já tem. Um apartamento que valia R$ 30 mil, R$ 40 mil, agora a pessoa quer R$ 100 mil. O aluguel também aumentou. Quem não tem condições, tem que ir mais para o fundão (distante da rodovia e do metrô). Os viadutos, quem vai usufruir são os donos de carros. São obras de uso para poucos - desabafa Costa, que também está preocupado com o aumento da violência em Itaquera devido ao fluxo de torcedores.

Testemunha da obra

Moradora há 18 anos do Edifício Santa Helena, a aposentada Aparecida Gregório Fabbrini, 63 anos, perdeu as contas de quantas vezes ouviu falar que o Corinthians construiria um estádio no imenso terreno ao lado de seu condomínio. Achava que nunca aconteceria nada no terreno cedido pela prefeitura ao clube. Até que, em 2011, máquinas e operários apareceram.

A preocupação de Aparecida é com os viadutos construídos, um deles bem próximo à janela de seu apartamento. Teme que o barulho incomode, mas acredita que o Itaquerão e as demais obras trarão melhorias.

- Valorizou muito os apartamentos, quase dobrou o valor.

O imóvel que a aposentada divide com o marido tem 57 metros quadrados. Localizado em uma região simples, está avaliado em R$ 170 mil.

- Antes, se conseguisse R$ 100 mil era muito - revela.


Itaquerão Bar
Ainda não se percebe o crescimento no número de estabelecimentos comerciais devido à construção do estádio do Corinthians. Mas há pelo menos um local que chama a atenção. Situado a cerca de dois quilômetros do palco de abertura da Copa, o Itaquerão Bar tem decoração temática, com fotos dos estádios que receberão partidas do Mundial e bandeiras de países que estarão no Brasil em junho e julho.

Sócia do estabelecimento, Silmara Belizarde, 28 anos, conta que o local abriu há pouco mais de dois anos, quando o Itaquerão começava a ser construído. O objetivo é que, durante a Copa, torne-se ponto de encontro de torcedores.

- Teremos um samba antes e depois dos jogos - enfatiza Silmara.


R$ 548 milhões em obras

Duas novas avenidas, uma passagem de nível e reformulação de vários cruzamentos, com entrega prevista para 28 de abril, e outra passarela sobre os trilhos do metrô e sobre a rodovia Radial Leste são obras do Complexo Viário Polo Itaquera. Prefeitura e governo do Estado de São Paulo investem, juntos, R$ 548 milhões nas obras de mobilidade, iniciadas por conta da construção do estádio.

26 minutos até Itaquera
Chegar até o estádio do Corinthians não é tarefa das mais difíceis, principalmente se você estiver perto de uma estação de metrô.

Na tarde de quarta-feira, ZH experimentou a sensação que europeus, asiáticos e africanos terão em junho e julho: embarcaram na estação da Sé, centro da cidade, em direção ao estádio. Depois de 26 minutos, desembarcou em Itaquera. Ainda na estação, um memorial do Corinthians é atração para quem está chegando. Uma passarela sobre a rodovia Radial Leste serve como ligação ao estádio, que fica a apenas 700 metros.

Calendário do Itaquerão | Create Infographics


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