Caso Alonso
Saiba se é possível perder a memória depois de sofrer um acidente
Piloto de Fórmula-1, Fernando Alonso brincou após jornal ter dito que ele perdeu 20 anos de memória
Acordar com todos os acontecimentos dos últimos 20 anos apagados da memória. Parece assustador, mas foi o que o jornal El País sugeriu que pudesse ter ocorrido com o piloto de Fórmula-1 Fernando Alonso após um acidente durante um treino da pré-temporada da categoria em Barcelona, no final de fevereiro.
O espanhol, que compete pela McLaren, colidiu o carro que dirigia contra um muro a mais de 100 km/h e sofreu uma concussão cerebral - a perda, de curta duração, da consciência. Segundo o periódico, médicos teriam feito as perguntas de praxe em situações como essa: "Quem você é?", "O que você faz?" e "O que você quer ser no futuro?". As respostas teriam sido surpreendentes: "Sou Fernando, corro de kart e meu sonho é chegar à Fórmula 1".
Alonso ironiza matéria sobre perda de consciência e propõe brincadeira no Twitter
O modo fechado como o caso foi tratado pela equipe médica não permitiu que, até hoje, as dúvidas sobre a suposta perda de memória do piloto fossem esclarecidas. Mas a coordenadora do Centro da Memória do serviço médico de neurologia e neurocirurgia do Hospital Moinhos de Vento, Jeanette Farina, afirma que esse seria um exemplo de um momento de confusão mental:
- É comum que haja uma desorientação após a perda de consciência, mesmo em casos mais leves. É como se a pessoa estivesse em um sonho.
Para Alcyr Alves de Oliveira Júnior, professor da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e neurocientista especialista em memória, são raros os casos em que há a perda de anos de memória. Ele explica que o comum é que, depois de um trauma, apenas os minutos ou segundos antes do choque sejam esquecidos.
- Em casos em não há morte de neurônios, a recuperação da memória acontece apenas com repouso de, em média, três dias - explica o professor.
Segundo o Oliveira Júnior, a ordem cronológica dos acontecimentos pode ser afetada pelas lembranças com forte apelo sentimental.
-A linguagem envolve cognição, memória. E, para memorizar, dois fatores são determinantes: atenção e estado emocional. Então, se há um vínculo emocional grande com determinada memória ou acontecimento, pode acontecer de ele ter se lembrado primeiro daquilo que o tenha marcado - esclarece.
As lesões cerebrais em casos de choques são ocasionadas pelo golpe e contragolpe do cérebro com o crânio, afirma Jeanette. De acordo com a médica, as fibras que conectam os neurônios são lesionadas e alteram o funcionamento mental. Ela alerta para casos de capotagem de carros: muitas vezes, as lesões corporais são leves, mas as cerebrais, graves. Isso acontece justamente pela movimentação da massa cerebral durante os choques que ocasionam a concussão.
Tipos de amnésia
Entenda a diferença entre as perdas de memórias que podem ocorrer após uma concussão:
- Amnésia retrógrada: a pessoa perde as memórias já existentes. É o que acontece com quem sofre de Alzheimer, por exemplo. Com o avançar da doença, as memórias regridem até as primeiras fases da vida.
- Amnésia anterógrada: ocorre quando informações novas não são assimiladas após uma concussão cerebral, ou seja, há uma deficiência em formar memórias a partir do trauma.