Vida e Estilo



Dad Bod

Por que a barriguinha de cerveja é celebrada em homens e criticada em mulheres?

Enquanto não há nada de errado em adorar um corpo masculino com gordurinhas, especialista propõe refletir sobre por que às mulheres não é permitida a mesma abordagem

06/05/2015 - 17h14min

Atualizada em: 06/05/2015 - 17h14min


Fernanda Grabauska
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TV Globo | TV Globo | Jean Pimentel / Divulgação | Agência RBS
Thiago Lacerda, Alexandre Nero e Paulo Ricardo são exemplos de homens que seguem chamando a atenção das mulheres

Em artigo na Time, o escritor Bryan Moylan afirma que "internautas às vezes acham que inventaram um conceito quando, na verdade, apenas apresentaram um novo nome para algo que já existe há décadas". A máxima não só é verdade como se manifesta, novamente, na tendência do "dad bod" - que, como bem diz o nome, descreve um corpo "de pai": um físico outrora atlético, mas atualmente mais descuidado e abraçado por gordurinhas estratégicas.

Corpo no estilo "pai de família" faz sucesso entre as mulheres

"O dad bod diz 'eu vou à academia ocasionalmente, mas também bebo bastante aos finais de semana e gosto de comer oito fatias de pizza numa tacada'", escreve a estudante Mackenzie Pearson no artigo que viralizou o termo e começou uma onda de declarações de amor aos barrigudinhos galãs. E o que há de errado com isso? Nada. Até você perguntar por que as mulheres também não podem comer oito fatias de pizza numa tacada assim, numa boa, e ganhar confetes ao final.

Esse tipo físico descuidado não é novo - pense em Thiago Lacerda, Charlie Sheen, Leonardo DiCaprio, Antônio Fagundes, nas dezenas de homens que abraçaram a idade e continuam sendo considerados galãs mesmo um pouco fora de forma - mas a fetichização dele é recente. De acordo com a psicóloga Mariana Todeschini, que estudou a questão da masculinidade por meio da revista Men's Health, a exaltação do "dad bod" pode ser uma resposta à cobrança social e cultural que resultou no look metrossexual masculino, moda nos últimos anos, e à cobrança por corpos perfeitos independentemente do gênero:

- Penso que talvez o enfoque dado nesse momento ao Dad Bod expressa um desejo social-cultural de que tais exigências em relação ao corpo, e portanto àquilo que é externo, se tornem mais amenas, menos intensas e causem, assim, menos sofrimento e frustração.

Mas por que, enquanto pais estão livres para comer toda a batatinha frita com catchup do mundo, as mães precisam exibir um "corpão" após a gravidez, frequentar a academia e cuidar a ingestão calórica? Para Mariana, a cobrança direcionada às mulheres (e acatada por elas na forma de pressão) revela uma insegurança cultural:

- Talvez a exigência maior por parte das mulheres em relação ao próprio corpo se dê em função de certa insegurança quanto ao que pode acontecer caso elas relaxem no cuidado corporal e deixem aparecer seu corpo real, com suas belezas, mas também imperfeições. Talvez seja justamente o medo da falha e do imperfeito que leva as mulheres a manterem tudo controlado em um corpo perfeito, ou que, pelo menos, busquem isso o tempo todo.

Os homens talvez não precisem de tanta ajuda para aceitar seu próprio físico - afinal, o "dad bod" existe desde a invenção do rodízio de pizza e do espeto corrido, e agora, mais do que tolerado, ele é celebrado. E é por isso que cada "dad bod" deve usar da recém-adquirida popularidade para ajudar mulheres a aceitarem e celebrarem seu corpos, com ou sem gordurinhas:

- Quem sabe esse não seja um primeiro passo para que às mulheres também seja dado esse "direito"? Talvez sempre tenha sido mais fácil mesmo para os homens exibirem um corpo não tão perfeito, mas, de qualquer forma, é nesse momento que isso está aparecendo como pauta, o que talvez denuncie uma mudança na forma como vemos o corpo - diz Mariana.


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