Velocidade



Os xarás

Felipes da Fórmula-1 chegam ao GP do Brasil após temporada discreta

Felipe Massa e Felipe Nasr conseguiram bons resultados, mas expectativa era maior no início do Mundial 2015

14/11/2015 - 14h02min

Atualizada em: 14/11/2015 - 14h02min


Francisco Luz
Francisco Luz
Enviar E-mail
Montagem sobre fotos / AFP
Brasileiros viveram um 2015 de desempenho regular

O Brasil voltou a ter, em 2015, a presença de dois pilotos no grid da Fórmula-1 após dois anos solitários de Felipe Massa como único representante nacional na categoria. O veterano da Williams teve a companhia, nesta temporada, do "xará" Felipe Nasr, que fez sua estreia pela Sauber.

Leia mais notícias de Fórmula-1

Prontos para correr em casa no GP do Brasil, neste domingo, os dois tiveram pontos a comemorar e a lamentar no campeonato que chega a Interlagos em clima de fim de festa. Afinal, o título do Mundial de Pilotos já foi definido a favor do tricampeão Lewis Hamilton, e o domínio da Mercedes nos treinos livres deve garantir o vice-campeonato a Nico Rosberg na briga de alemães com Sebastian Vettel, da Ferrari.

Com mais um GP ainda no calendário - em Abu Dhabi, no dia 29 de novembro -, pilotos e escuderias já têm o foco voltado para a análise do que fizeram neste ano e do que esperar para 2016. E os Felipes não são exceção.

Massa tem ano regular, mas prometia mais

Depois de encerrar 2014 em alta, com dois pódios seguidos no Brasil e em Abu Dhabi, Felipe Massa começou a temporada na expectativa de fazer a Williams avançar e, quem sabe, encostar na Mercedes para lutar por vitórias. Mas não foi o que se viu. A escuderia inglesa manteve a regularidade, ajudada pelos bons motores Mercedes, mas viu a Ferrari tomar o posto de segunda melhor equipe do grid, atrás apenas dos alemães.

E isso se refletiu no desempenho tanto de Massa quanto do seu companheiro Valteri Bottas: os dois foram presença marcante nos pontos, mas com menos pódios do que no ano passado: cada piloto conseguiu chegar em terceiro duas vezes nas 17 corridas disputadas até agora.

Na briga interna, o finlandês leva vantagem sobre o brasileiro: Bottas é o quarto colocado no Mundial, com 126 pontos, contra 117 de Felipe, e também tem melhores números no grid de largada, largando à frente do companheiro nove vezes no Mundial.

Enfrentando um adversário jovem e de muito potencial - Bottas, 26 anos, está na sua terceira temporada na F-1 -, Massa é tratado pela Williams como tutor do finlandês. Por isso mesmo, a escuderia inglesa não teve dúvidas em renovar os contratos de ambos para 2016. Aos 34 anos, e consciente de que é difícil imaginar a sua equipe entrando de vez na briga pelo título na próxima temporada, Massa já afirmou que pode deixar a categoria ao final do ano que vem caso não tenha um carro competitivo em mãos.

- Nós estamos em terceiro (no Mundial de Construtores), com uma boa margem para o quarto colocado (a Red Bull), mas infelizmente também distantes da Ferrari. Foi um bom campeonato... mas você sempre quer mais. Nós não estamos 100% felizes porque queríamos mais. Infelizmente, não fizemos tudo que precisávamos para brigar pelo segundo lugar, mas acho que a temporada foi positiva. E definitivamente queremos mais no ano que vem - afirmou o brasileiro na coletiva de imprensa de quinta-feira.

Nasr viveu o auge na primeira corrida

Aos 23 anos, Felipe Nasr chegou na Fórmula-1 com a promessa de ser o futuro do Brasil na categoria. E o começo deixou ótima impressão: na sua primeira corrida, o piloto levou a Sauber ao quinto lugar no GP da Austrália, melhor posição de um brasileiro na sua estreia.

A sequência do ano, porém, foi um tanto quanto amarga para Nasr. Com uma equipe em dificuldades financeiras - e, por isso, incapaz de desenvolver seu carro ao longo da temporada -, ele somou pontos em apenas cinco das 16 corridas seguintes. A melhor colocação no grid de largada foi o nono lugar, duas vezes, mas em cinco oportunidades Felipe ficou ainda no Q1 da classificação. E viu a Sauber perder a briga com a Toro Rosso no meio do pelotão, atualmente em oitavo no Mundial de Construtores, à frente apenas de McLaren e Manor-Marussia.

Mesmo assim, Nasr tem o que comemorar na temporada. Depois de um ano como piloto reserva da Williams, ele teve a chance de conhecer todos os circuitos da temporada em 2015. Ganhou experiência de pista e pode medir forças com os melhores pilotos do mundo. E foi amplamente superior ao seu colega de equipe, o sueco Marcus Ericsson: são 27 pontos a 9, apesar de o rival estar na frente na disputa do grid de largada, ficando à frente do brasileiro em nove corridas. Resultados que valeram a pena, na visão de Nasr.

- Tenho que ficar satisfeito. Tem sido uma temporada difícil para nós: começamos muito bem, enquanto outras equipes sofriam com problemas de confiabilidade nos seus carros, especialmente na Austrália. O quinto lugar foi sensacional, não podia esperar por mais do que isso na minha primeira corrida. Mas tem sido um ano de aprendizado. Sofremos com o desenvolvimento do carro, mas sabíamos que íamos passar por isso.

Pilotos da Stock Car aprovam desempenho dos brasileiros na temporada

Atualmente correndo na Stock Car, Luciano Burti, Antônio Pizzonia e Ricardo Zonta tiveram experiências na Fórmula-1 e falaram sobre o que acharam dos Felipes em 2015, além da projeção para a próxima temporada de ambos.

Vanderley Soares/MF2/Divulgação

Antônio Pizzonia, piloto da Prati-Donaduzi na Stock Car, correu por Jaguar e Williams na Fórmula-1 entre 2003 e 2005

Como você avalia a temporada dos brasileiros?
Foi um ano bom para o Nasr, que já tinha uma expectativa boa e foi bem na primeira corrida. A gente sabe que, na Fórmula-1, você depende muito mais do carro do que qualquer coisa, mas a expectativa é de que o segundo ano seja melhor - se tiver um carro bom. No caso do Massa, a Williams não foi tão forte quanto no ano passado. Existe a comparação com o companheiro de equipe, que está mais constante, mas no geral ele vem andando bem.

Acredita que Felipe Nasr tem potencial para brigar por vitórias no futuro?
Se estiver no carro certo, na hora certo, acho que sim. Ninguém faz mágica na F-1, é só ver que o Sebastian Vettel teve dificuldades no ano passado após ser tetra. A categoria é muito imprevisível.

E sobre Felipe Massa, acha que ele pode levar a Williams a disputar vitórias?
É impossível prever. A Williams já saiu de carros péssimos para carros campeões do mundo de um ano para o outro, e o contrário também. Tem toda a questão das mudanças de regulamento. A estrutura da equipe é das melhores, mas é a estrutura humana que tem feito a diferença.

Bruno Gorski/MS2/Divulgação

Luciano Burti, piloto da RZ Motorsport na Stock Car, correu por Jaguar e Prost na Fórmula-1 em 2000 e 2001 e foi piloto de testes da Ferrari

Como você avalia a temporada dos brasileiros?
A temporada do Nasr foi boa. Começou bem demais, o que já cria uma expectativa meio errada, pois não tinha carro para manter nem perto deste padrão. Mesmo assim, ele fez um bom trabalho. Diria que foi uma boa temporada. Não foi ótima, mas também não foi ruim. Acho que se você pegar os pontos que ele somou durante o ano é muito bom para um piloto novato e isso é muito positivo. O Massa teve uma temporada ok. Teve alguns momentos em que foi muito forte, inclusive estando bem na pontuação do campeonato. Óbvio que depende 100% do carro que ele está guiando, mas nessas última corridas ele não teve uma performance tão boa. Contou com um pouco de azar também, e o Bottas acabou se destacando, mas eu acho que o Felipe agregou muito para a equipe com a experiência dele.

Acredita que Felipe Nasr tem potencial para brigar por vitórias no futuro?
Ele tem muito potencial e pode, sim, ser um piloto que venha vencer corridas na F-1. Isso depende mais do carro e da equipe que você está, mas como piloto ele tem potencial para isso.

E sobre Felipe Massa, acha que ele pode levar a Williams a disputar vitórias?
O piloto levar a equipe a vencer ficou para trás na Fórmula-1 há muito tempo. Atualmente, depende muito mais da equipe, do carro, do motor. Então, é o inverso. Se o Felipe tiver um carro competitivo, ele tem experiência e velocidade para poder brigar com Mercedes e Ferrari, mas depende do que a equipe vai colocar na mão dele.

Rafael Gagliano/MS2/Divulgação

Ricardo Zonta, piloto da Shell Racing, correu por BAR, Jordan e Toyota entre 1999 e 2001 e em 2004

Como você avalia a temporada dos brasileiros?
Dentro da realidade atual da Fórmula-1 e nas equipes que eles estão, com as limitações de ambas tanto em orçamento como na questão dos motores, acredito que fizeram uma temporada razoável.

Acredita que Felipe Nasr tem potencial para brigar por vitórias no futuro?
Potencial ele tem, e mostrou não apenas este ano, mas também nas categorias de base por onde passou. Ele já tem contrato com a Sauber para 2016, e isso vai ser importante para que continue se desenvolvendo como piloto. Depois, já vimos que as equipes grandes estão observando. Quem sabe em um time maior, em 2017, ele consiga mostrar resultados melhores também.

E sobre Felipe Massa, acha que ele pode levar a Williams a disputar vitórias?
É complicado falar, pois Mercedes e Ferrari são bem superiores. Isso vai depender não apenas de orçamento, mas também de como vai ficar a categoria para o ano que vem, as inovações aerodinâmicas de um ano para o outro. Os motores também. É muito difícil fazer um prognóstico antes dos treinos da pré-temporada. A gente, claro, sempre fica na torcida para ter brasileiros se destacando. Mas temos que esperar. Os motores Mercedes também estão em desenvolvimento e, de repente, Massa pode acabar ganhando um conjunto muito competitivo.

*ZHESPORTES


MAIS SOBRE

Últimas Notícias