Olimpíada 2016



Rio 2016

Gerente do COB mantém otimismo para os Jogos, mas reconhece: "O sinal de alerta está ligado"

Jorge Bichara avaliou os resultados dos atletas brasileiros em 2015

03/01/2016 - 10h03min

Atualizada em: 03/01/2016 - 10h03min


André Baibich
André Baibich
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Divulgação / COB

Ex-decatleta, Jorge Bichara é o comandante de uma equipe que monitora a situação dos principais atletas brasileiros e assegura que tenham as melhores condições para competir no ano que vem. Nesta entrevista por telefone a ZH, ele avalia os resultados do último ano e faz projeções para 2016.

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Como o COB avalia os resultados dos atletas brasileiros em 2015?
Avaliação é um pouco diferente de contagem. Temos um método de monitoramento de resultados internacionais. Ele carrega, também, um lado de avaliação da nossa condição e perspectivas de resultados para 2016. Não é uma análise simples de um número. Mas, para facilitar o entendimento e ter um grau de comparação, a gente utiliza alguns dados mais objetivos. Dentro deles, a gente contabiliza os resultados obtidos pelo Brasil em Campeonatos Mundiais em provas olímpicas, de acordo com o programa olímpico. Em cima disso temos uma avaliação que inclui situações subjetivas, como de contusão, atletas em recuperação, em evolução técnica, em decréscimo do nível técnico. Aí há uma relação mais direta com as perspectivas para os Jogos Olímpicos.

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O COB acredita que está no caminho normal para atingir a meta que foi traçada?
É uma meta arrojada, não escondemos isso. Pensamos muito antes de propor essa meta. Resolvemos puxar de todos essa meta difícil de ser atingida. Analisamos o cenário interno, vimos a distribuição das modalidades no mundo e as possibilidades de medalha, avaliamos onde existem grupos hegemônicos. Estabelecemos alguns objetivos dentro da competição esportiva, e aí há questões relacionadas ao número de modalidades que conquistam medalhas, número de finais, outros objetivos que estão agregados à condição de ser top 10. Em cima disso, trabalhamos para elevar a qualificação do Brasil. Tivemos um ano difícil em virtude de várias situações. Decisões estratégicas de algumas modalidades em busca de vagas, como a ginástica, modalidades que já estavam garantidas mas adotaram estratégias diferentes. O sinal amarelo está ligado e ficará assim até os Jogos.

Em duas modalidades com nomes fortes do Brasil, o foco principal do Mundial era a obtenção de vagas, e esses atletas não foram ao pódio: Arthur Zanetti, da ginástica, e Allan do Carmo, da maratona aquática. Até que ponto o objetivo maior de conseguir a classificação atrapalhou?
Na maratona aquática, o processo de classificação olímpica é bem cruel. Mas é a realidade da modalidade, e entramos no jogo sabendo da regra. É uma modalidade que carrega muita tensão para classificar, e ficar entre os 10 do Mundial (critério para garantir a vaga) é o pódio naquele momento. O Brasil ter classificado três atletas no Mundial foi extremamente significativo. Na ginástica se buscou, desde o ano passado, a possibilidade de classificar pela primeira vez uma equipe. Para isso, a gente precisava usar um pouco do tempo do Arthur para outros aparelhos, porque precisávamos da pontuação dele em outras provas. Existem outras questões também, o Arthur fez uma estratégia de competir ainda com uma série antiga no Mundial. Ele está preparando elementos novos para os Jogos Olímpicos. Tínhamos, sim, a expectativa de ele alcançar a final. Não vou dizer que a gente saiu de lá satisfeito. Temos um campeão olímpico que, neste momento, não chegou à final do Mundial. Porém, por uma estranha coincidência, isso aconteceu com vários países. O Arthur é um atleta de uma capacidade, de uma força mental extraordinária. Ele passou o mês de dezembro treinando bem forte. Conseguiu atingir todas as metas estabelecidas por seu treinador neste final de ano, o que nos deixa bem confiantes de que tem condição de se apresentar bem nos Jogos em agosto.

César Cielo, outro campeão olímpico, também passa por um momento complicado. Como o COB vê a preparação dele para os Jogos?
Ele é um atleta que carrega toda a nossa confiança. Extremamente perfeccionista. Se cobra muito em relação ao que pode apresentar. Tenho certeza de que esse momento é de grande reflexão para ele, do que deu certo e errado. Do que enfrenta ou enfrentou de contusões no ciclo. Lembro que, quando a gente voltou de Londres, me encontrei com ele e ele tinha feito cirurgia nos dois joelhos ao mesmo tempo. Passou por um processo de recuperação bem delicado e foi campeão mundial no ano seguinte. A carreira dele é marcada por recuperações desse tipo. O momento é difícil e tenso, mas que ele está acostumado a viver. Ele reage muito bem à pressão. Sei que a Confederação (Brasileira de Desportes Aquáticos) já fez contato com ele e estão combinando como vão trabalhar os próximos meses. É uma situação que requer atenção, mas é um atleta, como eu falei, que tem a nossa confiança. Tenho certeza de que ele chegará ao Troféu Maria Lenk (seletiva brasileira para os Jogos), em abril, em totais condições físicas e psicológicas para disputar essa vaga.

Para atingir a meta de medalhas, será preciso que todos, ou quase todos, os atletas com chances de medalha confirmem as expectativas?
Não. Esse percentual próximo de 100% é bem improvável que aconteça. Não vai ser por aí. Temos, dentro da nossa avaliação, graus de expectativa diferenciados em relação a estes atletas. Assim formamos vários grupos. Óbvio que, dentro do grupo que carrega as expectativas mais altas, certamente estará o maior número de conquistas no ano que vem. Mas dificilmente chegaremos próximo dos 100%, e isso não é só para o Brasil, é para qualquer país. Existem sempre favoritos que não conquistam medalhas, azarões que surpreendem e vão ao pódio. É só ver o histórico dos últimos Jogos. A Olimpíada, em algumas modalidades, tem dificuldade técnica até menor do que um Mundial, mas tem um componente emocional muito forte, o que acaba sendo um fator importante no resultado final.

 

* ZH Esportes


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