Em alamedas pontilhadas por ipês, palmeiras e tipuanas pedestres, ciclistas e atletas se cruzam, cumprimentam e param para conversar. O vaivém humano é vasto e a paisagem ideal para caminhadas, pedaladas e corridas matinais.
Para homenagear o Parque Farroupilha, que completa 75 anos neste domingo, o Diário Gaúcho ouviu frequentadores que respiram ar puro no cinturão verde mais visitado da Capital. Um labirinto formado por trilhas que conduzem a lagos e belos recantos.
Assista ao vídeo:
- Guardião da amizade
Ex-piloto de caças da Aeronáutica, Manoel Giesta Olmedo, 70 anos, prefere admirar o azul do céu e a direção dos ventos, em terra firme, em frente ao Monumento ao Expedicionário. Sentado na cadeira de praia, atrás de óculos escuros, ele vê de longe a chegada dos amigos. Todas as manhãs está ali, tomando chimarrão ao lado do arco de concreto:
–Se a pessoa está bem, deve vir ao parque. Se estiver com algum problema, tem de vir ao parque. É um ótimo remédio – filosofa.
- Na alameda Clark
– Bom dia parque, que prazer estar aqui.
Com esta saudação, Clark Camargo, 61 anos, inicia a terapia ao ar livre que o faz sentir-se bem há três décadas. Dono de uma vasta barba, o funcionário público aposentado enquadra o corpo, estende as mãos para o alto e pronuncia a frase em tom reverencial. De tanto passar por ali, batizou o caminho com seu nome: Alameda Clark. O trecho, com cerca de 300m, é o ponto de entrada e saída do profeta do parque.
–Entro e saio por aqui. Tem amoreira e pitangueira – diz.
- Todo dia é dia de parque
Abraçada à minipoodle toy Bianca, a pequena e morena Marina Mesko Biazus, dez anos, aproveita a manhã de sol ao lado da mãe, a vendedora autônoma Rosane Marques Mesko, 49 anos. Sentadas sobre uma manta, as duas se divertem no tempo livre.
Morando há uma quadra da Redenção, a visita diária tornou-se um hábito da dupla, que retornou há quatro anos para o Rio Grande do Sul, vinda de Florianópolis.
–Lá, a gente morava na praia. Aqui, com esse parque perto do apartamento aproveitamos ao máximo. É um lugar agradável de lazer e recreação para recarregar as energias. Adoro o Recanto Europeu – diz Rosane.
- Você sabia?
– A Redenção já teve um Circo de Touros, que funcionava aos domingos na área onde hoje fica o parque. As touradas ocorreram de 1875 a 1898.
– Na Exposição do Centenário da Revolução Farroupilha, em 1935, foram utilizadas 28.289 lâmpadas, enquanto a iluminação pública de toda a cidade tinha 4.482 luminárias.
– A primeira partida de futebol de Porto Alegre foi na Várzea da Redenção, no dia 7 de setembro de 1903. O time A e o time B do Sport Club Rio Grande empataram em 0 a 0.
- De carona na magrela
É sobre duas rodas e protegidos por coloridos capacetes que o ator Alexandre Vargas, 40 anos, e o filho Samuel, dois anos e quatro meses, passeiam pelos túneis arborizados da área verde. Do eixo central às alamedas, das pistas laterais às ruas e avenidas, eles vão descobrindo juntos as belezas do parque. A riqueza das espécies que encontram, as flores que começam a desabrochar na primavera que se anuncia, qualquer imagem motiva a dupla a voltar no dia seguinte. Mas o que mais encanta o ciclista é a característica do espaço, localizado entre o Bom Fim e a Cidade Baixa:
–O acesso fácil tem um simbolismo, é democrático. Também é ótimo para o Samuel que mora em apartamento – revela.
- A evolução em datas
1807: a área é doada para ser utilizada como potreiro para o gado que era levado para os açougues da Vila Potreiro da Várzea ou Campos da Várzea do Portão.
1935: Exposição do Centenário da Revolução Farroupilha. Por decreto, a área é denominada Parque Farroupilha e passa a existir oficialmente.
1939: construção do espelho d’água do eixo central.
1941: surgem os jardins temáticos: Solar, Alpino, Europeu e Oriental.
1946: o Monumento ao Expedicionário é escolhido em concurso promovido em homenagem aos combatentes da Feb na Segunda Guerra Mundial.
1961: o Auditório Araújo Viana é inaugurado.
1978: nasce o Brique da Redenção.
1997: o parque é tombado pelo Patrimônio Histórico e Cultural da cidade.
- O que precisa melhorar
A sinalizaçãoé a principal reclamação dos frequentadores antigos e novatos. Se você vai ao parque pela primeira vez, entrando pela Avenida Osvaldo Aranha (Araújo Viana) e quer ir até o Café do Lago, terá uma enorme dificuldade de se orientar.
O supervisor de praças e parques da Smam, Carlos Py, informa que existe um projeto para ampliar a sinalização do parque. Como ele é tombado, qualquer alteração depende de aprovação de uma comissão.