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Matriarca da MPB

Aos 105 anos, Dona Canô morre na manhã de Natal cercada pela família

Mãe de Caetano Veloso e Maria Bethânia se recuperava de uma isquemia transitória

25/12/2012 - 10h42min

Atualizada em: 25/12/2012 - 10h42min


Dona Canô com os filhos Maria Bethânia e Caetano Veloso

Mãe de Caetano Veloso e Maria Bethânia, figura ilustre de Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo Baiano, Dona Canô morreu na manhã desta terça aos 105 anos.

Claudionor Vianna Telles Velloso estava em casa, passando o Natal com os familiares e se recuperando de uma isquemia transitória (cujos sintomas são semelhantes aos de um Acidente Vascular Cerebral) que sofrera na semana passada.

Dona Canô ficou internada por seis dias no Hospital São Rafael até ter alta na sexta-feira. Em 15 de setembro, ao completar 105 anos com grande festa em Santo Amaro, que fica a 67 quilômetros de Salvador, disse não ter medo da morte:

- Não tenho. Acredito em Deus e sempre vivi com a minha família, com pessoas do meu lado, com a casa cheia. Acho que esse é o segredo (da longevidade).

Canô casou em 1930 com José Teles Velloso, o Seu Zezinho, um funcionário público dos Correios que morreu em dezembro 1983, aos 82 anos. Eles tiveram oito filhos, sendo Bethânia a caçula. Caetano, o segundo mais moço, completou 70 anos em agosto. Eunice, que era filha adotiva, morreu em 2011, aos 83.

Apesar dos problemas de saúde, a matriarca dos Velloso não deixava de participar de eventos sociais. No início deste mês, esteve no Teatro Castro Alves, na capital baiana, para prestigiar o show da nova turnê de Bethânia - que chega a Porto Alegre nos dias 8 e 9 de janeiro.

A influência política foi uma marca de sua personalidade. Assediada por políticos e líderes religiosos, Dona Canô era sempre a primeira a ser ouvida pelo prefeito de Santo Amaro quando o município precisava tomar uma decisão, e também recebia visitas de empresários que queriam sua bênção para se instalar na cidade. Sua casa, na Avenida Vianna Bandeira, é ponto turístico da Bahia.

Com o ex-senador Antônio Carlos Magalhães, o ACM, ela estabeleceu fortes laços de amizade, o que permitiu a Canô conseguir diversos projetos de melhoria para Santo Amaro. Com o ex-presidente Lula sua ligação foi igualmente notória. Em 2009, Dona Canô chegou a desautorizar Caetano após uma declaração do filho ilustre de que apoiava a candidata Marina Silva nas eleições presidenciais porque ela "é inteligente como o Obama, não é analfabeta como o Lula, que não sabe falar, é cafona falando, grosseiro".

Respondeu a matriarca dos Velloso:

- Lula não merece isso. Foi uma ofensa sem necessidade. Caetano não tinha que dizer aquilo. Ele é só um cantor.

Dias depois, Lula ligou para Dona Canô para perdoar Caetano pela declaração:

- Não fique chateada, porque gosto muito da senhora e gosto do Caetano também. Está tudo bem, essas coisas acontecem.

Entre outras homenagens, Canô ganhou uma música de Caetano que leva no título o nome de sua mãe e que foi gravada por Daniela Mercury. Há também um livro gastronômico assinado por sua filha Mabel (O Sal é o Dom - Receita de Mãe Canô) e uma biografia de autoria do historiador Antônio Guerreiro de Freitas (Canô Velloso, Lembranças do Saber Viver).

Na terça-feira, o corpo de Dona Canô seria levado para o Memorial Caetano Veloso, onde os moradores poderão se despedir da matriarca. O sepultamento está marcado para as 10h desta quarta, no cemitério de Santo Amaro. Antes, a família deve realizar uma missa de corpo presente na cidade.


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