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Parar ou não?

Centrais sindicais esvaziam greve anônima

Assim como protestos organizados nas redes sociais tomaram conta e surpreenderam o país, a greve geral convocada para segunda-feira pelo Facebook criou expectativa de que outro fato inédito na história brasileira estaria prestes a ocorrer. Mas, segundo representantes de categorias, não será desta vez

29/06/2013 - 06h02min

Atualizada em: 29/06/2013 - 06h02min


Mensagens de manifestantes preenchem tapumes no centro de Porto Alegre

Começou de forma anônima e se espalhou como um vírus por todo o país o convite para uma paralisação geral na próxima segunda-feira. A convocação foi feita pelas redes sociais e quanto mais a data do evento se aproximava, mais confusão gerava.

"Alguém sabe se teremos ônibus?", "O comércio vai funcionar?", "Será que posso faltar o serviço?". Essas foram as principais dúvidas que circularam nas redes sociais pelo convite anônimo que partiu de um evento criado no Facebook, com a foto do V de vingança. Choveram adesões na última semana. "Não é só porque o cara que criou o evento apoia tal partido ou tal ideia que não vale a pena seguir adiante! Eu sou a favor da greve geral, até porque, se der certo, vai ser o evento de maior adesão até então", disse um manifestante, na página "Bloco de Lutas pelo Transporte 100% Público", no Facebook.

Os sindicatos, estrategicamente, decidiram fazer uma greve, sim, mas em outra data: 11 de julho. A decisão das organizações levou outras entidades, que simpatizavam com a ideia da paralisação geral, a desistir. Foi o caso do Sindicato dos Rodoviários de Porto Alegre.

- Vamos aderir ao que o movimento nacional decidir - declarou o presidente, Júlio Pires.

No site da Central Única dos Trabalhadores (CUT), um informativo justificava que "as paralisações, greves e manifestações terão como objetivo destravar a pauta da classe trabalhadora no Congresso e nos gabinetes dos ministérios e também construir e impulsionar a pauta que veio das ruas nas manifestações".

Coordenadora geral da ASSUFRGS, associação que representa os servidores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCPA), Bernadete Menezes informou que na terça-feira uma assembleia debaterá a greve do dia 11, mas há indicativo de participação.

-A segunda-feira é chamada pela sociedade, no Facebook. É da gurizada. A das fábricas, centrais sindicais é dia 11 de julho. Acho que muita gente nova deve participar da paralisação de segunda, mas é mais o movimento estudantil. Apoiamos a sociedade e damos autonomia ao movimento estudantil. Vamos apoiá-lo. Não queremos atropelar ninguém, pelo contrário, queremos mudar o Brasil - disse Bernadete.

Paralisação seria
apenas informal

O advogado trabalhista, Guilherme Wunsch, lembra que, se o trabalhador se ausentar de seu emprego na segunda-feira, poderá sofrer sanções legais, entre elas advertência e desconto de um dia de trabalho.

Para o advogado trabalhista Gilberto Stürmer, a convocação da greve por meio da internet é ilegal. Ele recorre à lei 7783 de 1989 para lembrar que uma greve só é legítima se for feita por meio de deliberação de uma categoria:

- Se ocorrer, tecnicamente, não será greve. A lei prevê aviso prévio e notificação 48 horas antes de parar e etc.

Stürmer acredita que a greve marcada para o dia 11 manifesta a intenção das centrais sindicais de se desvincularem dos movimentos sociais com nascimento online.

- É uma manobra para tentar desvincular do movimento social porque a paralisação tem vários focos, mas é claro que o alvo central é o governo federal e quem está no governo quer se desvincular dos movimentos - diz Stürmer, fazendo referência a centrais sindicais, como a CUT, por exemplo, que é ligada ao PT.

Oposição nas
redes sociais

Não são só as centrais sindicais que desestimulam a greve convocada para segunda-feira. Na internet, a possível paralisação geral foi tratada por muitos como um movimento da "direita golpista, convocada por um maluco armamentista na internet". Um evento batizado como "Denúncia do evento greve geral - Diga não à massa de manobra" foi criado no Facebook para estimular a reflexão. Esse foi o clima nas redes sociais, que também teve um rescaldo da última manifestação.

"Parabéns pra quem iniciou e hoje segue estimulando o confronto direto, mesmo sabendo que os setores que aderiram não têm um objetivo revolucionário nítido, não têm programa e nem estratégia", ironizou um internauta.

"Galera, acho que depois de mais uma ou duas passeatas, fazer uma assembleia ou plenária aberta, lá na Praça da Matriz, é uma boa maneira de superarmos alguns desencontros que estão se evidenciando na nossa luta", postou outro. O ato com carro de som e bandas causou polêmica:

"Curti muito ontem, até que a palhaçada da galera do gás (vulgo polícia) começou e o pessoal tentou sair pela única saída que nos deixaram, que dava pra passar cinco pessoas por vez e olhe lá", disparou uma menina. "Nunca tive tanta vergonha alheia como ontem. Foi patético, faltou só o Faustão jogando balinha pra gente", comentou um terceiro.

O Bloco de Lutas Pelo Transporte 100% Público deve se reunir no final de semana para discutir a greve e também qual será o rumo das próximas manifestações e quando elas devem ocorrer.


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