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Marco do terror

O Exorcista: 40 anos de tensão e pavor

Há exatos 40 anos, em 19 de junho de 1973, o diretor William Friedkin apresentava o filme em uma première em Nova York

19/06/2013 - 09h01min

Atualizada em: 19/06/2013 - 09h01min


Marcelo Perrone
Marcelo Perrone
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Sony Pictures / Divulgação

O impacto foi tremendo. Nos espectadores nauseados que deixavam a sala, alguns antes dos créditos finais, e em Hollywood, pois não era comum até então um filme de terror provocar tamanho barulho conjugando as qualidades de projeto autoral aclamado pela crítica com o sucesso de bilheteria. Há exatos 40 anos, em 19 de junho de 1973, o diretor William Friedkin apresentava O Exorcista em uma première em Nova York - a estreia oficial seria em 26 de dezembro daquele ano - e consolidava seu nome à frente da nova onda do cinema americano que, naquele começo dos anos 1970, revelava, entre outros, Francis Ford Coppola, Steven Spielberg, Brian De Palma e Martin Scorsese.

TOP TUDO: confira 15 curiosidade sobre O Exorcista, lançado há 40 anos

Friedkin foi o primeiro deles a fazer sucesso, com Operação França (1971), ganhador de cinco Oscar, incluindo os de melhor filme e direção. Por essa época, William Peter Blatty lançava o best seller O Exorcista, livro com a história de uma menina de 12 anos que se transfigura numa criatura violenta e apavorante por conta de uma possessão demoníaca.

A luta dos padres chamados para exorcizar da menina um poderoso espírito maligno são ilustradas por cenas que se tornaram clássicas na história do cinema como exemplos de tensão transformada em terror genuíno, de ousadia narrativa que testava o limite do que era tolerável mostrar em um filme produzido por um grande estúdio (com uma criança em primeiro plano) e de engenhosidade técnica numa era em que não se contava com efeitos digitais.

Relembre algumas das melhores cenas:


Após a sessão, ninguém conseguia dormir, lembrando da voz gutural do pequeno demo gritando blasfêmias, de sua cabeça girando, do corpo levitando, do vômito nojento esguichando pelo quarto, da escandalosa masturbação com o crucifixo.

A Warner comprou os direitos do livro, mas Friedkin não estava na lista de diretores na preferência nem do estúdio e tampouco de Blatty, o produtor, sobretudo pelo fato de o diretor ter fama de temperamental, arrogante e megalomaníaco. Diante da recusa de nomes como Mike Nichols, Arthur Penn, John Boorman, Peter Bogdanovich e até mesmo Stanley Kubrick em tocar o filme, O Exorcista caiu nas mãos de Friedkin, que fez do filme um clássico - e comprovou a fama de gênio temperamental, arrogante e megalomaníaco, para muitos o verdadeiro representante do diabo na terra.

O Exorcista foi o primeiro representante do gênero terror a concorrer ao Oscar de melhor filme - foram10 indicações no total, com vitória nas categorias de roteiro adaptado e som. Conquistou ainda quatro Globos de Ouro (melhor filme em drama, direção, roteiro e atriz coadjuvante, para Linda Blair, que vive e endemoniada Regan).

Livro fundamental para conhecer esse efervescente período do cinema americano que foi a década de 1970, Easy Riders, Raging Bulls - Como a Geração Sexo, Drogas e Rock'n'roll Salvou Hollywood, de Peter Biskind, dedica aos bastidores de O Exorcista trechos saborosos, como o impublicável diálogo que fez Linda Blair, aos 12 anos, ganhar o papel de Regan. Cheio de tato ao falar para as aspirantes mirins ao papel sobre referências a sexo, religião e violência no enredo, Friedkin ficou desconcertado com a desenvoltura e o vocabulário pesado da precoce Linda em descrever os detalhes mais escabrosos do livro. A personagem acabou marcando a carreira da jovem atriz, que ainda protagonizou uma sequência sem o mesmo sucesso, O Exorcista 2 - O Herege (1977), de John Boorman, e depois enfrentou problemas com drogas e álcool.

O set de filmagem de O Exorcista, destaca o livro, foi transformado por Friedkin em uma sucursal do inferno para equipe e atores, que conviviam com demissões sumárias, agressões físicas e verbais e o perfeccionismo maniático do diretor - ele fazia até tomadas prosaicas, com o simples fritar de um fatia de bacon na frigideira, serem exaustivamente repetidas. O orçamento, lógico, estourou, indo a US$ 12 milhões, três vezes mais do que Friedkin tinha acordado com o estúdio.

Veja a polêmica cena das escadas:


Como o filme rendeu mais US$ 400 milhões em todo o mundo (hoje, em valor corrigido, essa renda seria de mais de U$ 1 bilhão), Friedkin se safou. Mas o fracasso comercial de seu projeto seguinte, O Comboio do Medo, remake de um filme francês, sepultou a carreira dele em Hollywood - o diretor seguiu caminho à margem da indústria, apresentando filmes como o recente Killer Joe.

O Exorcista sobrevive como exemplo de obra-prima que transcendeu seu gênero para figurar na história do cinema como um das mais intensas e provocadores experiências sensoriais proporcionadas por um filme.


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