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Salvando o sustento

Comerciantes do Mercado Público correram ao local para salvar itens perecíveis e contabilizar prejuízos

Permissionários locais estiveram no domingo conferindo o estoque das lojas

08/07/2013 - 07h05min

Atualizada em: 08/07/2013 - 07h05min


Larissa Roso
Larissa Roso
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Fabiana Di Lorenzo, da Banca Central, negócio administrado pela família há 46 anos, correu para resgatar fiambres que poderiam estragar sem refrigeração

Impedida de subir ao segundo piso do Mercado Público, onde equipes de peritos trabalhavam na manhã de domingo, a confeiteira Iara Fátima Rufino, 56 anos, fez a estimativa de longe, do lado de fora, na Borges de Medeiros, ao ver o forro calcinado da Beijo Frio:

- Perdi tudo.

Página especial: leia todas as notícias sobre o incêndio que atingiu o Mercado Público

No sábado, a presidente da Associação de Mulheres Solidárias da Zona Norte, que administra a banca 60, concluíra havia pouco o expediente. Acabara de chegar em casa, no bairro Rubem Berta, quando foi alertada por uma amiga ao telefone.

- Liguei a TV, e era aquele fogaréu todo, meu Deus do céu - recorda Iara.

No domingo, a comerciante ainda não sabia precisar o valor do investimento arrasado pelo fogo. Não conseguia se concentrar em cálculos. Ocupava-se com as memórias de cinco anos de serviço de domingo a domingo, lembrando-se da satisfação dos clientes ao provar os quitutes gelados e as tortas macron de damasco e Martha Rocha, as grandes atrações do cardápio.

- É só elogio: "Como é bom esse sorvete", "Que linda a banana split". Tem gente que vem lá de Gravataí para comer a nossa banana split - relatou a confeiteira, que recentemente terminou sequências de químio e radioterapia contra um câncer de mama e credita parte do sucesso do tratamento a sua dedicação ao preparo dos doces. - Eu curei a minha doença ali dentro daquela loja.

No térreo, os permissionários que ganharam acesso aos estabelecimentos corriam para tentar salvar os itens perecíveis no início da tarde. Sem energia elétrica, envoltos num ar úmido recendendo a peixe e fumaça, resgatavam carnes e fiambres com o auxílio de lanternas e despachavam engradados cheios para caminhões. Não fosse a chuva que entrava pelos rombos recortados pelas labaredas e empoçava nos corredores, o andar de baixo parecia intacto.

- Que meleca, né? - comentou Fabiana Di Lorenzo, da Banca Central, gerenciada pela família há 46 anos, ao saudar um conhecido que aparecia para ajudar a carregar peças de queijo e presunto, tentando evitar um prejuízo de mais de R$ 100 mil em produtos deterioráveis. - Estamos com o coração partido - acrescentou.

Medo de sofrer uma nova perda

Há quatro meses como sócia do Supermercado de Carnes Rodeio, Mirian Dias, aliviada ao constatar que a banca 24 escapara das chamas, tomava nota de todos os cortes de paleta, costela e chuleta que saíam nos braços dos funcionários. Ao saber do episódio, um fornecedor ofereceu um caminhão para transportar tudo a uma câmara fria em Dois Irmãos. Despesas e receitas vão se equilibrando no novo negócio, e a contadora, no domingo, fazia o balanço de uma semana positiva, com a venda de 1,5 tonelada de mondongo em apenas três dias. A angústia das primeiras horas de informações desencontradas, entretanto, reavivou, na madrugada insone de domingo, o tormento enfrentado pela família em 2008, quando um incêndio destruiu por completo o minimercado mantido pelo marido em Caçapava do Sul:

- Aí você pensa: perder tudo de novo? Começar tudo de novo? Você se desespera. Enquanto não entrei aqui, não sosseguei. Teve a mão de Deus.


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