Menos boazinhas, mais complicadas
Princesas dos desenhos da Disney, como as de "Frozen", refletem conquistas femininas e mudanças comportamentais
De doce e submissa, as princesas passaram a ser mais aguerridas
No começo, elas só queriam um príncipe para chamar de seu. Mas, de um tempo para cá, as chamadas princesas da Disney partiram em busca de aventuras fora de suas torres, conquistaram o direito de lutar entre os homens e se meteram a salvar o próprio reino.
Tudo isso faturando muito, mas muito dinheiro.
Da doce e submissa Branca de Neve de Branca de Neve e os Sete Anões (1937) às impetuosas Anna e Elsa de Frozen (2013), em cartaz nos cinemas, as heroínas do universo Disney, via de regra, espelham o papel da mulher na sociedade. Se Aurora esperava ser acordada com um beijo pelo príncipe encantado em A Bela Adormecida (1959), Ariel (A Pequena Sereia, 1989) decide ir atrás do seu homem, nem que para isso precise abrir mão de sua bela voz.
- Um dos maiores acontecimentos do século 20 é a revolução feminista, então essa mudança de comportamento das personagens não teria como ser diferente, principalmente porque os contos de fadas são, em parte, um reflexo da busca da identidade da mulher - explica o psicanalista Mário Corso. - E essa busca é constante, porque a sociedade está sempre mudando.
Se as princesas da Disney são hoje mais aguerridas, elas também são multiétnicas. Depois de uma série de garotas brancas e de traços ocidentais, surgiram uma princesa árabe (Jasmine, de Aladdin), uma chinesa (Mulan, de Mulan), uma indígena (Pocahontas, de Pocahontas) e uma negra (Tiana, de A Princesa e o Sapo). Trata-se de uma preocupação que responde a uma demanda da sociedade, mas que também contempla os cifrões.
- O fato de haver princesas árabes, índias, negras, ruivas e chinesas reflete tanto a globalização palpável pós-internet quanto também uma preocupação nitidamente mercadológica e financeira de a Disney ter visibilidade e empatia em diferentes e grandes mercados mundiais - analisa o crítico de cinema Christian Petermann.
Segundo a revista Forbes, em 2012 a franquia das princesas da Disney faturou US$ 3 bilhões ao redor do mundo - um número que fica ainda maior se for levado em consideração que sua trinca de personagens mais populares (Branca de Neve, Cinderela e Bela Adormecida) tem mais de 50 anos. Para Liliane Rohde, professora de Marketing e Comportamento do Consumidor da ESPM, o fascínio pelo arquétipo da princesa indefesa que espera pelo príncipe encantando ainda é muito forte entre as mulheres:
- Não importa o quão independente a mulher seja, a ideia de ser salva e provida por um homem não tem idade ou classe social. Daí que, se a mulher tiver uma postura, sapatinho e roupinha de princesa, o príncipe vai escolhê-la. Como resistir a isso?
Essa dualidade resiste. Mesmo princesas guerreiras de personalidade forte e que não se importam em arranjar um marido, como Mulan e Merida, querem impressionar seus pais.
- Ser uma princesa, ao final, é ser especial - aponta Corso.