Porto Alegre



Ambiente inóspito

Espelho d'água do Parque Marinha do Brasil, em Porto Alegre, se torna "viveiro" irregular de peixes

Animais exóticos são depositados no local impróprio, com 40 centímetros de profundidade e coberto por concreto

24/04/2014 - 07h04min

Atualizada em: 24/04/2014 - 07h04min


Débora Ely
Débora Ely
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Na arquitetura, espelhos d'água são elementos utilizados para refletir o ambiente onde estão inseridos - mas, no Parque Marinha do Brasil, a rasa piscina no Centro Cívico possui uma outra função: o habitat de peixes. Coberto por concreto no fundo e nas laterais, o espaço com 40 centímetros de profundidade serve como lar de dezenas de animais de diferentes espécies. Já velhos conhecidos de habituais frequentadores, os cardumes surpreendem quem os encara pela primeira vez.

- Na Redenção eu já tinha visto, mas aqui é a primeira vez. Cheguei a me assustar pela grande quantidade e tamanho dos peixes. Acho que é porque o pessoal fica dando comida, né? - indaga a radiologista Joceana Silva, 29 anos, que passava pela área na quarta-feira da semana passada.

Guardião do Marinha há 26 anos, o jardineiro do parque, Carlos Aparício de Aguiar, afirma que a presença dos vertebrados no espelho d'água não é novidade e, sim, um problema. É que o local se transformou em depósito de peixes exóticos abandonados, como carpas e tilápias. Durante o inverno de 2011, a retirada de cerca de 50 animais sem vida do ambiente - que teriam morrido congelados - evidenciou a situação. Após o fenômeno, foi realizada a última limpeza da área, quando funcionários da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Smam) transferiram os cardumes aos lagos do parque. Três anos depois, o aquário irregular proliferou novamente.

- Tentamos monitorar para que as pessoas não larguem os peixes ali, mas, depois que encerra nosso expediente, tem gente que despeja os animais de tonéis. Eles se reproduzem e se tornam uma presa fácil. Temos casos de pessoas flagradas pela Guarda Municipal pescando no local. Sempre que limpamos o espaço é um caos, porque muitos deles acabam morrendo - relata o jardineiro.

Conforme Aguiar, o espelho abriga espécies como tilápia, cará, carpa e traíra, além de tartarugas. A professora do Departamento de Zoologia da UFRGS Clarice Fialho afirma que não é possível identificá-los somente pelas imagens, já que tilápias e carás, por exemplo, possuem características semelhantes. No entanto, a multiplicação de peixes pode ser explicada pela fácil adaptação dos animais exóticos.

- Espécies exóticas, como a carpa e a tilápia, se adaptam às situações mais adversas. Infelizmente, é comum ocorrer esse depósito de peixes em diversos locais. Não chega a ser um ambiente hostil, mas o que pode acontecer é a mortandade em função da queda de oxigênio dentro da água - aponta Clarice.

Os animais estrangeiros também se tornam um risco às espécies nativas que, acostumadas ao seu ambiente natural, são prejudicadas por aquelas que se ajustam facilmente ao habitat. Oriundos de países asiáticos e africanos, carpas e tilápias ainda podem carregar parasitas que irão infectar os locais, como as traíras e os carás.

Ainda não há previsão para uma nova limpeza no espelho d'água do Centro Cívico do Marinha. Enquanto isso, os cardumes seguem sendo uma atração se não arriscada, no mínimo curiosa.

- É um barato. As crianças jogam de tudo para atrair os peixes, mas tem gente que vem de manhã e dá ração para alimentá-los - comenta o corretor de imóveis Roberto Sanches, 51 anos, enquanto atira um ramo de grama na água.

Diogo Zanatta / Especial
Cardumes surpreendem quem os encara pela primeira vez

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