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Transporte coletivo

Impasse na Carris provoca atraso e superlotação nos ônibus de Porto Alegre

Escassez de funcionários e fim de carga horária dobrada têm causado dificuldades à empresa

26/04/2014 - 15h06min

Atualizada em: 26/04/2014 - 15h06min


Carlos Rollsing
Carlos Rollsing
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Se você notou que os ônibus da Carris estão demorando mais do que o habitual para chegar aos pontos de passageiros em Porto Alegre, saiba que isso não é obra do acaso.

O problema é que a empresa pública de transporte não está conseguindo cumprir uma média de 30 tabelas por dia, o que significa a perda de cerca de 120 viagens. As consequências são maior tempo de espera e veículos superlotados.

A "tabela" é a jornada de trabalho e a quantidade de viagens feitas por uma tripulação, composta por motorista e cobrador. A origem do problema está em outro termo usado no meio rodoviário: as "dobras". Devido à falta de funcionários, a Carris autorizava que, quando necessário, as tripulações cumprissem a sua tabela e assumissem uma segunda, o que resultava na "dobra" da carga horária.

Desde 6 de abril, porém, a prefeitura e a Carris determinaram o fim das dobras. Houve avaliação de que a prática é ilegal e de que as horas extras estavam extrapolando limites.

Sem as dobras, começaram a faltar trabalhadores, parte dos horários passou a ser descumprida e 30 ônibus que deveriam rodar diariamente, distribuídos nas diversas linhas da Carris, estão parados. Na sexta-feira, por exemplo, três tabelas das linhas T5 e T8 estavam sendo ignoradas. Somadas, significam cerca de 24 viagens a menos no sistema.

- Hoje, nós temos em torno de 633 tabelas. Perder 30 representa quase 5% do total. É um problema grave, aumenta a lotação dos ônibus e diminui a nossa receita. A Carris também enfrenta um problema seríssimo de absenteísmo (falta ao trabalho). Os funcionários apresentam atestado médico por estresse, não tínhamos como prever que chegaria a índices tão altos - afirma Sérgio Zimmermann, presidente da Carris.

Ele assegura que a solução do problema já está encaminhada. No decorrer desta semana, garante, 20 novas tripulações de motoristas e cobradores irão assumir as funções, amenizando a carência. Outras 20 equipes, que estão nos bancos de espera de concursados, serão chamadas nos próximos dias. Os trabalhadores começarão a trabalhar após o período de treinamento de 60 dias.

Os funcionários da empresa pública de transporte demonstram indignação. Afirmam que são os mais prejudicados e denunciam agressões físicas e verbais cometidas por passageiros, que estariam irritados com a precariedade do serviço. 

- Queremos que a Carris funcione 100%. A dobra não era o ideal, mas, sem ela, ficou pior ainda. Se não for para voltar a dobra, então tem de contratar mais - destaca Luís Afonso Martins, motorista e delegado sindical da Carris.

Além disso, em outubro, 40 coletivos da Carris terão prazo de rodagem expirado. Terão de ser substituídos por novos veículos. A frota que deverá ser trocada é alvo de críticas de motoristas. Os carros estariam desgastados, sem força para vencer lombas e constantemente dependendo de reparos mecânicos.

Empresa é obrigada a pagar multa diária

O descumprimento diário de tabelas, com menos ônibus nas ruas do que o previsto, não resulta em consequências negativas só aos passageiros e funcionários. A Carris também é punida pelas deficiências.

A cada conjunto de tripulação e coletivo ausente nas ruas, a empresa é obrigada a pagar uma multa de R$ 348,19 à EPTC, responsável por regular e fiscalizar todo o sistema de ônibus de Porto Alegre. Como 30 tabelas estão sendo descumpridas, a Carris é obrigada a pagar um montante diário de multas de cerca de R$ 10,4 mil.

O rateio do valor arrecadado em todo o transporte coletivo não é distribuído entre os operadores do sistema - Carris e três consórcios privados - de acordo com o número de passageiros, mas sim a partir dos quilômetros percorridos, o que é estabelecido previamente.

Como está com atividade menor do que o previsto, a Carris deixa de percorrer rotas definidas. Se isso não for revertido, terá de compensar as perdas cumprindo linhas dos demais consórcios, o que gerará custos adicionais.

- Estamos tentando reagir para não ter de rodar mais em 2015 como compensação - destaca Sérgio Zimmermann, presidente da Carris.

A empresa também está enfrentando dificuldades financeiras. Em 2013, para fechar as contas, a prefeitura precisou aportar R$ 28 milhões na Carris. Só entre janeiro e março deste ano, os repasses do município já são chegam a R$ 15 milhões. Uma das justificativas é de que a greve de 15 dias dos rodoviários aumentou a necessidade de ajuda. Zimmermann argumenta que os recursos são aplicados em renovação da frota.

Entenda a dificuldade

- Atualmente, a Carris tem de cumprir 633 tabelas diárias. A "tabela" é representada por um ônibus e uma tripulação, com motorista e cobrador, que cumprem cerca de quatro viagens por carga horária, dependendo da linha. 

- Devido a problemas como a falta de funcionários e a proibição da "dobra" de carga horária, a empresa pública está deixando de cumprir uma média diária de 30 tabelas, o que significa cerca de 120 viagens não feitas.

- Cada tabela descumprida exige que a Carris faça o pagamento de multa diária de R$ 348,19 à EPTC.

- Com menos ônibus na rua, a Carris deixa de cumprir a sua quilometragem. Isso poderá levar a estatal a ter de cumprir rotas dos consórcios privados que operam em Porto Alegre no futuro como forma de compensação.

- Para resolver o problema, a Carris garante que 20 tripulações assumirão os cargos nesta semana e outras 20 serão chamadas para treinamento.

- A empresa pública também alega que a falta de funcionários ocorre pelo alto número de faltas ao trabalho. O estresse que envolve a função leva à apresentação de muitos atestados médicos, segundo a Carris. Muitos também estão em licença-saúde.

- Segundo Sérgio Zimmermann, presidente da Carris, no momento são 60 os motoristas que estão trabalhando na parte administrativa da empresa porque o INSS determinou que eles não estão em condições psicológicas de dirigir coletivos.


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