Cultura e Lazer



Amor, estranho amor

Indicado ao Oscar, cultuado "Alabama Monroe" estreia em Porto Alegre

Premiada produção belga aborda relação de casal de músicos folk

17/04/2014 - 16h20min

Atualizada em: 17/04/2014 - 16h20min


Daniel Feix
Daniel Feix
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Veerle Baetens e Johan Heldenbergh

Nem o atraso na chegada diminui o impacto de Alabama Monroe. Três meses depois de estrear em outras cidades brasileiras, onde já chegou cultuado graças ao compartilhamento via internet, este belo filme belga entra em cartaz nesta quinta-feira no Guion Center. Premiado, entre outros, nos festivais de Berlim, Tribeca, Palm Springs e Copenhagen, além de ser indicado ao Oscar de melhor longa estrangeiro e vencer a mesma categoria no César francês, o filme de Felix van Groeningen pode agora, finalmente, ser visto na sala de cinema em Porto Alegre.

O título original é The Broken Circle Break­down, em inglês mesmo (apesar de os diálogos serem na língua flamenga), por conta da obsessão do protagonista, o músico de bluegrass Didier (Johan Heldenbergh), com a cultura norte-americana. Mas não se pode ignorar o lirismo da tradução, que une os nomes artísticos dele (Monroe) e de sua mulher e parceira musical, a tatuadora Elise (Veerle Baetens), ou Alabama.

É que a narrativa, construída de maneira engenhosa a partir de idas e vindas no tempo, provoca o espectador a pensar sobre a estranha força capaz, ao mesmo tempo, de aproximar e afastar esse casal apaixonado porém abalado pela grave doença de sua filha pequena (Nell Cattrysse). Groeningen nos apresenta tudo, da paixão inicial às brigas dolorosas, do casamento e da construção da vida a dois ao enfrentamento dos obstáculos que insistem em testar a força da estrutura familiar.

A relação guarda em si uma bipolaridade, graças à intensidade com a qual os dois que a vivenciam e, sobretudo, às suas diferenças - ele é ateu, ela, católica; ele cultua o sonho americano, ela tem os pés no chão. Quando a menina de seis anos adoece, tudo fica potencializado. E o filme cresce.

O ápice da crise de Elise, lá pelo meio da projeção, é usado pelo jovem diretor (tem 35 anos) como gancho para uma série de flashbacks que iluminam algumas sombras que porventura existissem até então. Alabama Monroe não tem as cores vibrantes do francês A Guerra Está Declarada (de Valérie Donzelli e Jérémie Elkaïm, 2011), outro filme sobre o mesmo tema, mas tem a luz da obra-prima romântica espanhola Os Amantes do Círculo Polar (Julio Medem, 1998): quanto mais o destino parece querer afastar o casal, mais o espectador se afeiçoa por aquele relacionamento.

O que pode quebrar um círculo aparentemente inquebrável? É uma pergunta que Groeningen joga na tela desde a música de abertura do longa, o hino gospel Will the Circle Be Unbroken, espécie de oração folk que inspirou o título e que perpassa a trama até o seu desfecho. O apelo da fé, aqui, está no mesmo nível da propaganda que vende a América como uma terra de sonhos: cultua-se o que se convém cultuar, de acordo com cada contexto e com determinadas necessidades.

É o que faz Alabama Monroe, além de lindo em sua tristeza e inventivo em sua forma, um filme politicamente contundente.

Alabama Monroe
(The Broken Circle Breakdown)
De Felix van Groeningen. Com Veerle Baetens e Johan Heldenbergh.
Drama, Bélgica/Holanda, 2012. Duração: 111 minutos. Classificação: 16 anos.
Em cartaz no Guion Center, em Porto Alegre.
Cotação: 4 (de 5) estrelas.


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