Geral



Caso Bernardo

Os indícios que mantêm o pai do menino Bernardo na prisão

Médico teria ajudado a ocultar a participação de sua mulher no crime

16/04/2014 - 20h06min

Atualizada em: 16/04/2014 - 20h06min


Casa da família em Três Passos, no Noroeste, virou ponto de homenagens

O cirurgião Leandro Boldrini está preso não porque a Polícia Civil comprovou seu envolvimento na morte do filho Bernardo, mas porque teria ajudado a ocultar a participação de sua mulher, a enfermeira Graciele Ugulini, no crime. Não há evidências físicas de que o médico tenha ajudado no crime. Contra ela, sim, os policiais consideram que há provas robustas de homicídio qualificado.

Leia mais:
Casal recebeu notícia "com frieza" e preocupou-se com a mídia
"Fui impedida de vê-lo por 4 anos, me chamavam de velha doente", diz avó
Polícia apura se Bernardo foi morto com dose excessiva de analgésico
Polícia ressalta importância da comunidade e de imagens de câmeras
Menino foi dopado antes do assassinato, disse amiga de madrasta à polícia

Mas os policiais não descartam que Boldrini soubesse da morte do menino e até tenha também planejado o assassinato.

Veja aqui os principais indícios que ajudaram a Polícia Civil a convencer a Justiça a decretar a prisão temporária do médico, por 30 dias:

- Acordo de bens -
o advogado Marlon Barbon Taborda afirma que, na semana em que se matou, Odilaine Uglione procurou advogados para tentar um acordo judicial de partilha com o marido - de quem estava se separando. A minuta de acordo envolvia patrimônio (bens móveis e imóveis) e uma pensão, para ela e para o menino. Um dos valores propostos era R$ 1,5 milhão de indenização a ela, que era sócia na clínica de endoscopia do marido. E pensão de R$ 8 mil mensais. Taborda advoga para a família de Odilaine.


- No inquérito sobre a morte de Odilaine (e que concluiu que ocorreu suicídio) estão anexados bilhetes nos quais ela rabiscou R$ 6 mil para ela, R$ 2 mil para Bernardo. Como ele era uma criança, tudo iria para ela, inclusive parte da clínica e da casa compradas com o marido. Uma semana antes de assinar um acordo nesse sentido, ela apareceu morta. Agora, o filho herdeiro é assassinado - estranha Taborda.

- A Polícia investiga possível motivação financeira no assassinato.

- A casa em disputa - em 5 de fevereiro deste ano o médico Leandro Boldrini ingressou na Justiça para tentar vender a residência de dois andares, garagem e pelo menos seis quartos que ele ocupa, numa esquina da área central de Três Passos. É que o imóvel pertencia a ele e à ex-mulher, Odilaine, que se matou em 2010. Como ela os dois são pais de Bernardo, parte da casa pertence, por herança, ao menino. O pedido foi feito ao juiz Marcos Agostini, da 1ª Vara daquela cidade, que abriu o processo 11400002090. Um contrato de pré-venda chegou a ser firmado com um cidadão de Três Passos, em 24 de fevereiro. O juiz se pronunciou favorável à venda, em 6 de março, definindo também que seria disponibilizada a venda da casa e do terreno. Um mês depois o filho de Boldrini, Bernardo, desapareceu - e foi morto. A Polícia investiga se a venda da casa e o sumiço do possível herdeiro do imóvel é apenas coincidência.

- Festa quando menino estava morto - conforme a delegada da Polícia Civil Caroline Virginia Bamberg, o casal foi a uma festa em Três de Maio no sábado, 5 de abril, um dia após o suposto sumiço e morte do menino Bernardo. O pai, Leandro Boldrini, alega ter imaginado que o filho estava na casa de um amiguinho. Mesmo assim, não ligou para o filho ou para os pais do suposto amiguinho, até porque essa versão não era verdade: Bernardo estava morto desde sexta-feira. Os policiais tentam descobrir se o médico não telefonou por distração ou porque sabia que o menino estava morto. "Que pai é esse que viaja para uma festa e não liga para avisar o filho ou ver como ele está?", questiona um delegado que atua no caso.

- Frieza ao anunciar sumiço do filho - em entrevista à Rádio Farroupilha, de Porto Alegre, o médico Leandro Boldrini demonstrou frieza ao falar do sumiço do filho Bernardo. Ele sequer usa a palavra "filho" para definir o garoto e, sim, a expressão "esse menino". Num possível ato falho, Boldrini diz que o menino "morava" com ele, como se fosse algo do passado. Ele também assegura que o guri sumiu após ir para a casa de um amigo. Agora se sabe que a criança estava morta e tinha sido levada pela madrasta Graciele, mulher do médico. "Ele não perguntou para a mulher se ela viu a criança? Ou já sabia e ocultou de todos, simulando uma busca?", questiona outro delegado. A frieza ajuda a convencer a Justiça sobre envolvimento do pai no sumiço.

O caso que chocou o Rio Grande do Sul

Bernardo Uglione Boldrini, 11 anos, desapareceu no dia 4 de abril, uma sexta-feira, em Três Passos, município do Noroeste. De acordo com o pai, o médico cirurgião Leandro Boldrini, 38 anos, ele teria ido à tarde para a cidade de Frederico Westphalen com a madrasta, Graciele Ugolini, 32 anos, para comprar uma TV.

De volta a Três Passos, o menino teria dito que passaria o final de semana na casa de um amigo. Como no domingo ele não retornou, o pai acionou a polícia. Boldrini chegou a contatar uma rádio local para anunciar o desaparecimento. Cartazes com fotos de Bernardo foram espalhados pela cidade, por Santa Maria e Passo Fundo.

Na noite de segunda-feira, dia 14, o corpo do menino foi encontrado no interior de Frederico Westphalen dentro de um saco plástico e enterrado às margens do Rio Mico, na localidade de Linha São Francisco, interior do município.

Segundo a Polícia Civil, Bernardo foi dopado antes de ser morto com uma injeção letal no dia 4. Seu corpo foi velado em Santa Maria e sepultado na mesma cidade. No dia 14, foram presos o médico Leandro Boldrini - que tem uma clínica particular em Três Passos e atua no hospital do município -, a madrasta e uma terceira pessoa, identificada como Edelvania Wirganovicz, 40 anos, que colaborou com a identificação do corpo. O casal aparentava ter uma vida dupla, segundo relatos de amigos e vizinhos.

ÁUDIO: pai de Bernardo chama filho de "esse menino"

*carlos.wagner@zerohora.com.br
humberto.trezzi@zerohora.com.br
mauricio.tonetto@zerohora.com.br


MAIS SOBRE

Últimas Notícias