Vida e Estilo



Após mudança

Mais de 80% dos alunos entrarão no ensino superior do Estado via Sisu

Número de vagas em instituições públicas universitárias via vestibular deve diminuir para apenas 18% no Rio Grande do Sul

24/05/2014 - 07h06min

Atualizada em: 24/05/2014 - 07h06min


Guilherme Justino
Guilherme Justino
Enviar E-mail
Jerônimo Gonzalez / Especial
Bruno, que veio de São Paulo, entrou na UFPel em 2010 pelo Sisu e, caso fizesse vestibular, gastaria muito

Com a decisão da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) de aderir integralmente ao Sistema de Seleção Unificada (Sisu), a morte que já era anunciada do vestibular se antecipa. Mais do que simbólico, o fim de um rito nacional tem transformado as universidades Brasil afora.

Em 2015, oito em cada 10 estudantes que entrarem no Ensino Superior público no Rio Grande do Sul serão selecionados apenas com base em seu desempenho no Enem - a UFRGS também, a partir do ano que vem, selecionará 30% dos novos alunos pelo Sisu. Em todo o país, 54 das 59 universidades federais já adotam o sistema unificado de alguma forma.

Leia mais:

>>>Decisão da UFSM de acabar com o vestibular repercute nas redes sociais
>>>Educadores e estudantes de Santa Maria opinam sobre a decisão de extinguir o vestibular
>>>Prefeito de Santa Maria critica a extinção do vestibular da UFSM

O efeito mais imediato da adoção do Sisu é o aumento de alunos de outras regiões, já que basta se inscrever pela internet em qualquer lugar do país. Uma das maiores instituições do país, a Federal do Rio de Janeiro espelha essa transformação. Em 2010, antes da adoção do Sisu, apenas 1% de alunos era de outros Estados - a maioria de Minas Gerais e São Paulo. Hoje, 22% são "forasteiros".

- Agora, somos realmente a cara do Brasil, viramos realmente uma universidade nacional. Isso nos dá uma riqueza muito grande, de valor inestimável - conta empolgada a pró-reitora de Graduação, Angela Rocha dos Santos.

Na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), que desde 2010 utiliza o Enem como método único de seleção, os alunos de outros Estados passaram de 7% para 16% dos matriculados.

Bruno Maon Fernandes, 22 anos, estudante de 8º semestre de Meteorologia é uma das caras dessa diversificação. Ele preferia ficar no Estado de origem, São Paulo, mas foi aprovado em primeira chamada na UFPel - que já adota o Sisu desde 2010.

- Agora, nem penso em voltar - diz, adaptado.

Saltos tão grandes, porém, não são a regra, afirma Custódio Almeida, pró-reitor de Graduação da Universidade Federal do Ceará (UFC), uma das pioneiras do Sisu.

Uma pesquisa realizada pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), presidida pelo reitor da UFC, constatou que a mobilidade dos candidatos foi significativa, porém menor do que se imaginava.

Em média, o percentual de matrículas do próprio Estado tem se mantido em torno de 90%, argumenta Almeida:

- Inicialmente, imaginávamos que a mobilidade ideal seria de 25% dos estudantes, o que seria muito interessante, oxigenaria a universidade, mas constatamos que, em média, ficou em 10%. Mesmo assim, temos estudantes de todos os Estados, e antes tínhamos, no máximo, de vizinhos.

Esse dados foram apresentados pela UFC a integrantes da UFSM um dia antes da aprovação da mudança por meio de videoconferência e ajudaram na tomada de decisão, acredita Almeida.

A adesão total ao Sisu foi aprovada pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) em uma reunião na quinta-feira que surpreendeu a comunidade. Embora fosse esperada no meio acadêmico, imaginava-se que a mudança seria gradual.

O Ministério da Educação também estimulou a alteração. 

- A preocupação de que vai vir um estudante de fora tomar seu lugar não existe. O aluno vai ter mais opções, e não precisa escolher previamente. Em Santa Maria, o número de vagas e inscritos deve aumentar muito, mas principalmente por moradores da própria região - diz o secretário-executivo do MEC, Luiz Cláudio Costa.

Concorrência ficou acirrada

O aumento da concorrência, porém, é um fenômeno inevitável e desejável pelas instituições. É o que ocorreu no primeiro processo sem vestibular na Universidade Federal de Minas Gerais, este ano.

Os cursos de baixa procura agora são concorridos e os que já eram procurados, ganharam competição ferrenha. Bacharelado em Física, por exemplo, que era almejado por apenas dois candidatos por vaga antes do Sisu, registrou 11,4 aspirantes por cada cadeira. Psicologia, que já tinha 10 candidatos por vaga, pulou para 114. Administração foi além. Dos 11 candidatos por vaga, saltou para 152.

- Ainda é cedo para conclusões, mas percebemos que as notas de cortes em cursos que tinham baixa procura, aproximaram-se dos mais procurados. Os dados mostram a equalização entre as notas desses cursos - observa o pró-reitor de Graduação da Universidade Federal de Minas Gerais, Ricardo Takahashi.

O momento de ajustar o foco

Um dia após o anúncio da mudança no ingresso na UFSM, o clima em cursinhos preparatórios para o vestibular era outro. Se na quinta-feira os alunos estavam inseguros, ontem, pareciam mais tranquilos.

O professor de física do cursinho Riachuelo Anderson Ellwanger, na sexta-feira, aproveitou para mostrar aos seus alunos comparações de questões de provas do Enem com as anteriores da UFSM:

- Os conteúdos já foram trabalhados. A comparação foi para mostrar que, na preparação para o Enem e para um vestibular, há equivalência.

Candidata a uma vaga em Medicina, Deborah Knebel, 19 anos, explica que já começa a pensar maneiras de focar o estudo para a prova do Enem, que agora deve ser sua prioridade. Assim como Deborah, as amigas Júlia Hartmann e Renatha Marques, ambas de 17 anos, e Mariana Padilha, 18, que foram de mala e cuia de Santo Ângelo para Santa Maria, também procuram se adaptar.

- A gente veio fazer cursinho em Santa Maria porque aqui a universidade é federal. Se não fosse, poderíamos ter ido para outra cidade - explica Júlia.

As estudantes conformaram-se com a novidade, mas ainda criticam a decisão da UFSM e pelo anúncio um dia antes do fim do prazo de inscrição no Enem.

- A mudança nos atrapalhou um pouco. Além de mudar o nosso foco, a prova do Enem tem um histórico de problemas e falhas, sem falar que temos que competir com o Brasil inteiro - conta Mariana.

Nesta sexta-feira, empresários da cidade já se articulavam para continuar debatendo e manifestando opinião sobre a decisão do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe). A primeira reunião ocorreu na manhã de ontem, quando foi decidido que, na quarta-feira, haverá um protesto. No fim da tarde, outra reunião contou com a presença de estudantes e representantes de cursinhos, além de entidades empresariais.

Os diretores dos principais pré-vestibulares de Santa Maria manifestaram tranquilidade quanto ao futuro de suas empresas. Ainda na quinta-feira, já estavam sendo divulgadas turmas preparatórias para o Enem, atendendo pedidos dos alunos.

O que é o sisu?

No Sistema de Seleção Unificada (Sisu), gerenciado pelo Ministério da Educação (MEC), instituições públicas de Ensino Superior oferecem vagas para candidatos participantes do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem):

- O sistema permite que os alunos que se submeteram ao Enem concorram a vagas em qualquer universidade que tenha aderido ao Sisu. O seu desempenho no Enem é que determinará o ingresso ou não.

- O processo seletivo é realizado duas vezes por ano, geralmente no começo de cada semestre.

- A inscrição é gratuita, em uma única etapa e feita pela internet com o número de inscrição e da senha do Enem. Pode-se selecionar dois cursos, por ordem de preferência, mas é possível mudar sua opção quantas vezes quiser enquanto o prazo de inscrições não se encerra.

- Todos os dias, é calculada a chamada nota de corte - a menor nota para ficar entre os selecionados em cada curso. Essa nota é determinada com base no número de vagas oferecidas e de alunos inscritos.  O candidato com risco de ficar sem a vaga pretendida poderá mudar de alvo quantas vezes quiser, alterando a inscrição na internet.

- Ao final do período de inscrições, são selecionados os candidatos mais bem classificados dentro do número de vagas ofertadas.

Vagas oferecidas no RS

1º semestre de 2014
- 11.412 vagas via Sisu

1º semestre de 2015*
-17.536 vagas oferecidas via Sisu de um total de 21.379 vagas oferecidas pelas instituições públicas de Ensino Superior no Estado - um aumento de 54%

*Estimativa calculada a partir das vagas oferecidas no primeiro semestre de 2014, acrescentando 100% das vagas oferecidas pela UFSM em 2014 e 30% das vagas oferecidas pela UFRGS em 2014


MAIS SOBRE

Últimas Notícias