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Ameaça

Apesar de ilegal, restaurantes do Vietnã não abrem mão de servir carne de gato

Governo do país proibiu o consumo da carne de gato, mas a popularidade do "prato" é grande entre os vietnamitas

28/07/2014 - 18h45min

Atualizada em: 28/07/2014 - 18h45min


STR / AFP
Aperitivo feito com carne de gato é servido junto com cerveja no Vietnã

A popularidade do "little tiger" (pequeno tigre, em tradução literal), um aperitivo feito com carne de gato apreciado para acompanhar a cerveja no Vietnã, representa uma ameaça para os donos de animais de estimação, apesar de o país proibir oficialmente o consumo deste tipo de carne.

Em um modesto restaurante, perto de um lava-jato no centro de Hanói, capital do país, um gato é preparado para matar a fome de clientes famintos. Os bichos são afogados, depilados e queimados para remover todo o pelo antes de serem fatiados e fritos com alho.

- Um monte de gente come carne de gato. É uma novidade e as pessoas querem experimentar - explicou o gerente do estabelecimento, To Van Dung, de 35 anos.

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O Vietnã proibiu o consumo de carne de gato em um esforço para estimular a criação do animal e manter a população de ratos de sua capital sob controle. Mas ainda há dezenas de restaurantes que servem carne de gato em Hanói e é raro ver felinos caminhando pelas ruas, já que a maioria dos donos dos animais os mantêm dentro de casa ou presos, por medo de que sejam levados por ladrões. A demanda dos restaurantes é tanta que, às vezes, gatos são contrabandeados pela fronteira com a Tailândia e o Laos.

Dung explicou que nunca teve problemas com a lei. Ele disse comprar gatos de criadores locais e também dos chamados comerciantes de gatos, com poucas avaliações sobre sua procedência. O "little tiger" costuma ser apreciado no início de cada mês lunar, ao contrário da carne de cachorro, que é consumida ao final. Em um dia movimentado, o restaurante pode servir cerca de 100 clientes.

- Eu sei que nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha não se come gato. Mas aqui, nós comemos - admitiu Nguyen Dinh Tue, de 44 anos, enquanto mastigava um pedaço de carne de gato frita.

- Eu não mato gatos. Mas este lugar os vende e eu gosto de comê-los - acrescentou.

"Nós comíamos de tudo"

A predileção vietnamita por comer animais que são considerados bichos de estimação em outros países é um resultado da circunstância, disse Hoang Ngoc Bau, um dos poucos veterinários formados de Hanói.

- O país foi muito pobre e tivemos uma guerra longa. Comíamos tudo o que podíamos para sobreviver. Insetos, cães e até mesmo ratos. Tornou-se um hábito - comentou.

Bau contou ter decidido se tornar veterinário depois que seu cão o salvou de uma cobra venenosa quando era criança.

- A partir de então, tenho uma dívida com os cães - disse o senhor de 63 anos.

Nas últimas décadas, mudanças dramáticas na sociedade e nos costumes do país antes sob estrito controle comunista fizeram cada vez mais vietnamitas desenvolverem estima pelos animais. Mas hábitos antigos demoram a morrer e os donos de bichos de estimação precisam lutar para proteger seus companheiros peludos da panela.

- Ninguém cria cães e gatos de corte. Então, quase todos os animais que vemos nos restaurantes são capturados e roubados - disse Bau.

- Para mim e outros que criam animais no Vietnã, são nossos melhores amigos - acrescentou o veterinário.

No entanto, algumas pessoas conseguem reconciliar a dupla afeição por gatos no país. Le Ngoc Thien, o chef em um dos restaurantes de Hanói que serve carne felina, tem gatos de estimação. Mas isso vai até que o animal cresça o bastante para ir para a panela, quando ele pega um filhote para criar e repete o ciclo.

- Quando meus gatos ficam velhos, nós os matamos porque, segundo nossa tradição, quando eles envelhecem, precisamos trocá-los e pegar um mais novo. Quando comecei a trabalhar aqui, fiquei surpreso com a quantidade de pessoas que comiam gato. Mas agora, bem, elas gostam - disse, acrescentando que a demanda parece ter aumentado com o passar dos anos.

- Comer carne de gato é melhor do que comer a de cão porque a carne é mais doce, mais macia do que a do cão - completou Thien.

Um gato sai entre US$ 50 e US$ 70 , dependendo do tamanho e do modo de preparo. Muitos donos de gatos que arriscam deixar seus bichanos soltos simplesmente estão fartos de perder seus animais. Phuong Thanh Thuy é proprietária de um restaurante em Hanói e cria gatos para manter os ratos longe. Ela contou que precisa substituí-los com frequência.

- Minha família está triste porque gastamos muito tempo e energia criando nossos gatos. Quando perdemos um gato, nós sofremos - disse, enquanto uma ninhada de gatinhos recém-adquirida brincava aos seus pés.

* AFP


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