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Na natureza selvagem

VÍDEO: equipe da Funai faz contato com índios isolados

Grupo foi encontrado no Acre, na fronteira do Brasil com o Peru

29/07/2014 - 21h19min

Atualizada em: 29/07/2014 - 21h19min


Quase um mês após a Fundação Nacional do Índio (Funai) estabelecer contato com um grupo de indígenas isolados da Amazônia, o órgão do governo divulgou o vídeo e novas fotos do contato. Veja o vídeo do contato abaixo:

Funai / Divulgação
Operação foi montada para checar as condições de saúde dos indígenas

Antropólogos da fundação e do Governo do Acre acompanhavam a tribo com auxílio do povo indígena Ashaninka e estabeleceram contato de forma pacífica pela primeira vez no dia 26 de junho, na Aldeia Simpatia, da Terra Indígena Kampa e Isolados do Alto Rio Envira, no Acre.

De acordo com o relatório da Funai (leia abaixo), uma operação foi montada para fazer novo contato para ver as condições de saúde dos índios. O grupo foi avistado novamente nos dias 29 e 30.

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Os diálogos com o grupo indígena foram feitos por meio dos intérpretes. Eles relataram que sofreram atos de violência praticados por não índios nas cabeceiras do rio Envira, que se localiza em território peruano. Por se tratar da região de fronteira Brasil-Peru e diante destes relatos, a principal suspeita é de que tenham si d o madeireiros ilegais ou narcotraficantes.

Confira abaixo do diário do registro do encontro feito pela Funai

27/06/2014 - Sexta-feira

Deslocamento de duas equipes até a BAPE Xinane, composta por nove pessoas.

Foram feitas duas paradas para pesca ao longo do caminho, sendo uma na cachoeira Pirapitinga e outra boca do Ig. Maxacuca (Ig. localizado próximo a BAPE Xinane). Ao fazer a curva de chegada a BAPE Xinane, o barco avistou dois índios atravessando o rio Envira e estavam com um paneiro cheio de limões que caíram na água.

As equipes pararam primeiramente na margem esquerda do rio Envira e onde os índios atravessaram, quando saímos da canoa e foram ouvidos vários arremedos no local. Por segurança, a equipe atravessa para a margem direita do rio (porto da BAPE Xinane) e ao sair da canoa, verificamos o local que os índios atravessaram (pegadas).

Pouco tempo depois, os isolados saíram um a um na margem contrária ao porto, aparecendo um grupo composto por cinco índios: um deles portava uma espingarda que aparentemente pode ser de calibre 20 e os demais estavam com arco e flechas; tinham o rosto com aparência esbranquiçada, com uma envira sola que prendia o pênis para cima, com amarrações na perna próximas ao joelho e tornozelo.

Os índios não aparentavam ter idade superior a 20 anos, sendo que falavam e gesticulavam muito, de forma veemente e o local onde saíram era um antigo bananal da FPE Envira. Pelos gestos, provavelmente reconheceram o indígena Fernando Kampa e tentaram se comunicar com o mesmo.

Aparentavam estar saudáveis, com estatura baixa-média, cabelo estilo próximo ao utilizado pelos franciscanos e durante todo o tempo batiam com os arcos e rolavam as flechas no corpo, gesticulando e assoprando utilizando a mão.

Na ocasião, foi deixada no barranco uma boroca que estava junto com os pertences saqueados na aldeia Simpatia e recuperados pelo indígena Fernando Kampa. Também foi deixado no local alguns peixes curimatãs - ao retirarmos os peixes da canoa, foi possível identificar as palavras "Capiriba" e "Huiuã".

Após um tempo no local, a equipe optou por retornar a aldeia Simpatia por questão de segurança e neste momento os índios isolados correram atrás das canoas, gesticulando e gritando, acompanhando o deslocamento da equipe até a ponta da praia.

No retorno a aldeia, reunimos os indígenas Ashaninka e explicamos a situação e refletindo sobre o ocorrido, foi barrada toda e qualquer subida no sentido da BAPE Xinane. Também foi realçado a política do não contato e o alto grau de vulnerabilidade em relação a saúde por parte dos isolados.

Posteriormente comunicamos Rio Branco e Brasília sobre o ocorrido. O Sinal de alerta máximo foi ligado. A possibilidade dos índios avistados se deslocarem para a aldeia Simpatia era eminente.

28/06/2014 - Sábado

Organização do acampamento das equipes na aldeia Simpatia e inicio da caiçumada pelos índios Ashaninka.

29/06/2014 - Domingo

Durante todo o dia ocorreu a tradicional caiçumada dos Ashaninka e no final da tarde, por volta das 16h, o téc. em enfermagem, Francimar Kaxinawa, retornou às pressas de seu banho no rio e informou a equipe da FUNAI (Marcelo Torres) que os isolados estavam gritando no barranco à margem oposta da praia da aldeia Simpatia.

Outras crianças Ashaninka também ouviram e chamaram rapidamente os adultos que estavam na caiçumada. Neste momento, os indígenas Ashaninka seguiram correndo pela praia até chegarem próximos aos isolados, liderados pelo indígena Fernando Kampa. Todos os Ashaninka aparentavam estar bêbados e bastante alterados.

Um dos indígenas da aldeia Simpatia, Gilberto Kampa, havia subido o rio pouco tempo antes para arrancar macaxeira e após ver os isolados ficou ilhado no roçado. Sua esposa veio até a aldeia chorando e pediu para que fossemos buscá-lo. Além de Gilberto, estavam com ele dois de seus filhos com idade entre três e cinco anos.

Os isolados gritavam e gesticulavam, onde foi possível ouvir nitidamente a palavra "camisa" e batendo na barriga como quisessem dizer que estavam com fome. No momento da aparição, estava presente apenas o servidor Marcelo Torres da FUNAI e sendo que Meirelles, Artur e Guilherme estavam mais abaixo no rio Envira pescando.

Não foi possível conter os Ashaninka para aproximação com o grupo isolado, que a princípio se apresentou com quatro índios, os mesmos avistados na BAPE Xinane. Seguiam portando uma espingarda e os demais com arcos e flechas.

Os Kampas se aproximavam mais e os isolados gesticulavam pedindo a calça do servidor Marcelo Torres, que se aproximou juntamente com os Kampa sem a calça, apenas de cueca. Ao gesticularem pedindo comida, o indígena Fernando Kampa pediu que fossem apanhados dois cachos de banana e os deu aos índios, realizando assim o contato.

No momento de entrega das bananas, também apareceu na margem contrária outro índio isolado que havia sido avistado na BAPE Xinane e também uma mulher com um saiote possivelmente feito de envira e com uma criança de aproximadamente cinco anos. A mulher entregou um jabuti que foi entregue ao indígena Fernando Kampa como forma de agradecimento ou troca pelas bananas.

Após este contato, o indígena Fernando Kampa pediu que os Ashaninka pegassem suas roupas para dar aos isolados e os chamou para o acompanhar até a aldeia Simpatia, onde mais uma vez não foi possível controlar os avanços dos Ashaninka. As roupas dadas estavam sujas, possivelmente com escarros, DST's, etc., que podem ter contaminado os isolados.

Na chegando a praia da aldeia Simpatia, também havia acabado de chegar os servidores Artur e Guilherme, juntamente com Meirelles. A equipe tentou conter os isolados e os Kampa que chegaram a ligar o motor do barco da FUNAI para buscar o indígena Gilberto Kampa no roçado, mas foi praticamente impossível até que Fernando Kampa foi contido após ríspida discussão com a equipe da FUNAI.

Chegaram a aldeia apenas três dos índios isolados e os demais permaneciam no barranco à margem contrária. O indígena Fernando Kampa pediu para sua esposa trouxesse caiçuma para os isolados e ao chegar na praia, o servidor Marcelo Torres orientou ao médico da equipe de saúde, Neuber, que chutasse a cuia impedindo que a bebida chegasse até os isolados.

Após este momento, os índios começaram a subir para a aldeia e saquear as casas dos Ashaninka que permaneciam passivos, bêbados, sem qualquer espécie de reação. Foi preciso que a equipe da FUNAI intervisse e impedisse que todas as casas fossem saqueadas. Meirelles precisou ser mais ríspido para que um dos isolados deixasse parte do que iria saquear no chão. Quando eram mostradas armas, os isolados se mostravam extremamente nervosos e agitados, gritando "Shara".

Depois deste momento de saque, a equipe da FUNAI conseguiu conter um pouco os isolados e os acalmar, sendo possível ver os isolados arremedando animais da mata e também cantando. O servidor Guilherme tentou realizar o contato urgente com Brasília e Rio Branco e não obteve resposta.

A equipe seguiu conversando e tentando manter contato com os isolados para acalmá-los, mas em determinado momento, o grupo isolado ouviu um arremedo de nambu azul vindo da mata próxima ao Ig. Simpatia e se agitaram, gesticulando como se tivessem sido flechados.

Com o cair da noite tornou-se ainda mais difícil conter o grupo e novos saques foram realizados nas casas dos Ashaninka. Pouco tempo depois, chega a aldeia Simpatia pela mata o indígena Gilberto Kampa com seus filhos, assustado e informando que haviam outros índios escondidos na região do roçado.

Na tentativa dos servidores de conter os saques, os mesmos eram ameaçados com flechas. A equipe tentou fazer uma fogueira e sentar com os isolados, mas pouco depois o grupo de isolados desceu e saiu correndo pela praia no sentido do barranco onde estavam os demais índios.

Após o contato e a saída dos índios, as equipes da FUNAI e da Saúde realizaram escala de vigília durante a noite em caso de nova investida dos isolados. Durante o período da noite e madrugada, apesar da vigília, os isolados cortaram todas as cordas das ubás e afundaram uma das voadeiras da FUNAI com motor.

30/06/2014 - Segunda-feira

Por volta das 7h, os Ashaninka que tinham descido na praia do simpatia nos informaram que os índios isolados estavam descendo novamente rumo a aldeia, descemos na praia e montamos um esquema para impedir que eles subissem novamente para realizar saques. Uma equipe ficou na frente e outra com espingardas atrás. Orientamos que ninguém ficasse sozinho frente aos isolados, mantendo sempre um numero maior que eles. Eles utilizaram a ubá do Gilberto Kampa (tinha deixado no rocado) para atravessarem o rio.

Atravessaram o rio Envira e deixaram a ubá na praia localizada acima da aldeia. Estavam em quatro pessoas. Eles se deslocaram pelo rio até a praia.

Ao chegarem à praia da aldeia Simpatia já foram logo pedindo coisas, tipo camisas e panelas. Não foi fornecido. A equipe da FUNAI manteve um dialogo através de gestos calmo e tranquilo. Eles subiram o barranco, mas foram contidos antes de entrarem na aldeia. Qualquer investida era contida mostrando as armas, o que os deixavam bastantes nervosos. Meirelles tinha esse papel de impedir a entrada deles, quando tentavam entrar na aldeia ele gritava, assoprava e mostrava a arma.

Foi tentado realizar trocas com os isolados, do tipo mostrávamos um terçado e pedíamos uma flecha, mostrávamos artesanatos (eles demonstravam grande interesse) e pedíamos algum ornamento deles, mas nenhuma troca obteve sucesso.

Ao perceberem que não obteriam sucesso nos saques, pediram algo para comer, foi dada banana, macaxeira cozida, coco e carne assada, sendo que só comeram as bananas. Desconfiavam de tudo que dávamos para eles comerem. Eles abriram os cocos, tomaram um pouco da água e deram o restante para a equipe que ficou a frente na contensão.

Num certo momento o servidor Artur fez um cigarro de tabaco e acendeu em frente aos isolados, eles ficaram bem exaltados e pediram o tabaco e o isqueiro. O tabaco foi fornecido, eles pegaram, cheiraram e pediram para que Artur desse o cigarro feito. Artur forneceu o cigarro, eles deram algumas puxadas e guardaram para mais tarde. Artur tentou trocar o isqueiro por uma flecha, mas os isolados não quiseram.

Fernando Kampa apareceu num certo momento tirando algumas fotos bem de perto, ao bobear por um minuto, estava mostrando o funcionamento do isqueiro, um isolado tirou a câmera do Fernando que estava no bolso e foi embora.

Ao perceberem que não obteriam sucesso nos produtos industrializados resolveram ir embora. O tempo de permanência foi de 1h30min no barranco da aldeia Simpatia. AO SAIR UM INDÍGENA ISOLADO ESPIRROU, AO ENTRAR NO RIO O MESMO DEU UMA TOSSIDA.


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