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Produtividade

Indústria catarinense em alerta

Recuo de 1,4% na produtividade da indústria nacional em junho representa a maior queda desde setembro de 2009, segundo IBGE

01/08/2014 - 20h50min

Atualizada em: 01/08/2014 - 20h50min


Charles Guerra / Agencia RBS
Setor automotivo é um dos mais afetados pelo momento ruim da economia

A Copa do Mundo continua dando dor de cabeça para os brasileiros. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), férias coletivas e paralisações durante os jogos colaboraram para a retração da produtividade em 1,4% de maio a junho. Na comparação com junho de 2013, o tombo é de 6,9, pior resultado desde setembro de 2009 e 2008, quando houve uma queda de 7,4%. No entanto, a pesquisa de produção industrial do órgão ressalta que o principal impecílio para o recuo está no cenário macroeconômico. Presidentes de entidades dos principais setores da indústria catarinense esperam que o Estado enfrente dificuldades nos próximos meses. O saldo negativo na geração de empregos em junho foi o primeiro sinal de que as empresas precisam acender a luz amarela.

Um dos principais vilões da atividade industrial no país é o setor automotivo, ligado à indústria metal-mecânica. As vendas diminuíram bastante em maio e junho, provocando redução de empregos. Em Santa Catarina, o saldo ficou em 1.344 vagas a menos no mês de junho para o setor. Para o presidente do Sindicato Patronal da Indústria Mecânica de Santa Catarina (Sindimec), Hamilton Cardoso de Aguiar, de Joinville, o último trimestre foi de recuo na produção.

-Coincidentemente, desde o mês anterior à Copa do Mundo a produtividade no setor metal-mecânico caiu. Estamos ligados às montadoras, que não estão tendo um bom ano, mas não pensamos em demissões em massa. Outro problema é que o ano eleitoral deve atrapalhar os investimentos e uma possível recuperação no segundo semestre - disse.

Este foi o quarto resultado negativo seguido para a produtividade. De acordo com o IBGE, instituições financeiras consultadas pelo órgão previam um recuo médio ainda maior, de 2,4%. Mesmo com o cenário desfavorável, alguns setores conseguem se sobressair. A agropecuária catarinense está entre eles.

- A abertura de alguns países para a nossa carne suína nos deu uma perspectiva muito boa de crescimento. Apesar da diminuição no número de criadores, a produção continuou no mesmo ritmo - comentou Losivânio de Lorenzi, presidente da Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS), com sede em Concórdia.

O recuo na produtividade das empresas do ramo têxtil afata principalmente a região do Vale do Itajaí. Ulrich Kuhn, presidente do Sindicato das Indústrias de Fiação, Tecelagem e do Vestuário de Blumenau (Sintex), é pessimista com relação aos próximos meses.

- Nossos resultados não estão muito diferentes dos que o IBGE divulgou para o país. A economia está ruim e essa é nossa realidade. E mais, não vejo em um horizonte próximo alguma solução. Para o setor têxtil, o ano deve acabar negativo - afirmou.

O reflexo ruim da produtividade só deve afetar a indústria cerâmica em 2015. No entanto, as empresas já começam a se preparar para o pior. O economista e diretor técnico do Sindicato das Indústrias de Cerâmica de Criciúma (Sindiceram), Enio Coan, cita a diminuição do ritmo da construção civil para esperar números negativos no ano que vem.

- A construção civil influencia o nosso setor, mas não imediatamente. A cerâmica normalmente só chega no final da obra, então devemos sofrer daqui a uns seis meses - disse.

Empregos também em queda

Santa Catarina começou o ano na liderança em criação de novos postos de trabalho em números absolutos, mas também começa a sentir o momento ruim do país. Desde fevereiro, quando o Estado teve mais de 29 mil empregos a mais, há uma queda na geração de vagas. O analista de mercado de trabalho do Sistema Nacional de Emprego - seção Santa Catarina (Sine-SC), Leandro dos Santos, avalia que a economia nacional e as eleições possam piorar essa situação.

- As perspectivas de crescimento em torno de 1% para o Produto Interno Bruto (PIB) diminuem investimentos na indústria. A incerteza do mercado por causa das eleições também não podem ser descartadas. A diversificação da indústria catarinense diminui esse impacto no Estado, mas não somos uma ilha separada do país.

Os números da produtividade industrial nos Estados em junho só deve ser divulgado pelo IBGE na próxima semana, mas o histórico do primeiro semestre faz a Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc) esperar um resultado negativo. De janeiro a maio, a indústria catarinense cresceu apenas 0,1%. No comparativo entre maior de 2014 com o ano passado, o resultado é mais animador: + 1,6%.

- O crescimento brasileiro nos últimos anos foi impulsionado pelo consumo. No entanto, a inflação e a redução do crédito prejudicou esse processo. Um exemplo é o setor automotivo, que reduziu bastante as vendas. Por causa disso, alguns economistas já falam que o Brasil passa por um momento de 'estagflação'. Os números para junho ainda não estão consolidados nos Estados, mas se tivermos algum resutlado negativo, o saldo do ano provavelmente deve ficar negativo pela primeira vez - explicou Graciela Martignago, consultora da área econômica da Fiesc.


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