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Caramujos

Meningite transmitida por parasita avança no Brasil

Casos da doença já ocorreram em seis estados brasileiros, nas regiões Nordeste, Sul e Sudeste

04/08/2014 - 09h49min

Atualizada em: 04/08/2014 - 09h49min


Uma nova forma de meningite, transmitida por parasitas, está se espalhando pelo Brasil. Um levantamento publicado pela revista científica Memórias do Instituto Oswaldo Cruz mostra que a meningite eosinofílica já foi diagnosticada nas regiões Nordeste, Sul e Sudeste - Os casos da doença ocorreram em São Paulo, Rio, Espírito Santo, Pernambuco, Paraná e Rio Grande do Sul. Foram diagnosticados 34 casos e uma morte desde 2006.

As formas mais conhecidas da doença são virais ou bacterianas. Já a eosinofílica é causada por um verme, o Angiostrongylus cantonensis, e é transmitida por crustáceos e moluscos - incluindo o caramujo gigante africano. Tratando-se de um parasita recente, identificado no país há oito anos, a preocupação dos pesquisadores é alertar profissionais de saúde. 

- Os médicos não estão atentos a essa forma da doença, mais por falha de educação e de treinamento. Eles querem saber se a meningite é viral ou bacteriana e não prestam atenção aos outros agentes - declara o médico Carlos Graeff-Teixeira, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Ele assina o artigo com a bióloga Silvana Thiengo, do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), e com o médico Kittisak Sawayawisuth, da Universidade de Khon Kan, na Tailândia, onde a doença é endêmica.

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Os sintomas da meningite eosinofílica são semelhantes aos das outras: dor de cabeça persistente, febre alta e, menos frequentemente, rigidez na nuca. O que permite diferenciar é o exame do liquor - líquido entre as meninges, extraído por punção lombar:

- O aumento de eosinófilos, que são células de defesa do organismo, é típico de infecção por parasita e verme - afirma Graeff-Teixeira, que explica que o verme não se desenvolve no organismo humano e o tratamento é feito com corticoides, para reduzir a reação inflamatória. O tratamento ameniza os sintomas e evita o agravamento da doença, que pode deixar sequelas como disfunção nos movimentos de braços e pernas, redução ou perda da visão e audição. 

O artigo mostra, ainda, que o caramujo gigante africano é o vetor mais frequente da doença no Brasil. Os caramujos ingerem fezes de roedores, contaminadas com larvas do verme. Quando se locomovem, liberam um muco, para facilitar o deslizamento, que também contém larvas. As pessoas podem ser infectadas se ingerirem esse muco. Isso ocorre no consumo de legumes, verduras, e frutas mal lavados, por exemplo.

- Esse molusco chegou ao Brasil por meio de uma feira agropecuária no Paraná, nos anos 1980. Como a criação com fins comerciais fracassou, foram liberados no meio ambiente e se proliferaram. Outras espécies de crustáceos podem transmitir o verme, mas o caramujo gigante africano está em todos os lugares: no quintal, na pracinha, nas ruas. Como está próximo, facilita o contágio. Já foi encontrado em todos os Estados, exceto no Rio Grande do Sul - explica a bióloga Silvana Thiengo, chefe do laboratório de Malacologia do IOC.

Prevenção

Silvana ressalta que medidas simples evitam a transmissão: lavar as mãos com frequência e deixar hortaliças e frutas de molho por 30 minutos em um litro de água, com uma colher de sopa de água sanitária. Ela recomenda ainda que os próprios moradores eliminem os caramujos - com as mãos protegidas por luvas ou sacos plásticos, devem ser recolhidos e deixados em balde por 24 horas, em uma mistura de uma medida de água sanitária para três de água. Depois, as conchas devem ser jogadas no lixo comum. 

- Precisamos ficar em alerta porque podem ocorrer surtos, principalmente se houver o consumo de moluscos ou crustáceos crus - ressalta Silvana.

No Equador, 26 pessoas foram infectadas, em 2009, ao comerem ceviche feito com molusco contaminado.


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