Fé sertaneja
Aécio Neves pede "ajuda" a Padre Cícero para crescer nas pesquisas
Em passagem pela Feira de São Cristóvão, no Rio, ele ganhou uma estátua do líder católico mais reverenciado pelos nordestinos
Em terceiro lugar nas pesquisas eleitorais, o candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, apelou à fé sertaneja na esperança de uma "virada" na reta final da campanha. Em visita ao Centro de Tradições Nordestinas Luiz Gonzaga, na zona norte do Rio de Janeiro, o candidato pediu "ajuda" ao Padre Cícero (1844-1934), religioso venerado em todo o sertão nordestino pelos supostos milagres que teria realizado.
"À bênção meu padre Cícero, me ajuda aí", disse Aécio, arrancando risos de aliados e assessores que o acompanhavam. Neste domingo, na passagem pela Feira de São Cristóvão, como é conhecido o espaço de artesanato, gastronomia e cultura nordestina no Rio, o presidenciável ganhou uma estátua do líder católico mais reverenciado da região.
Prometeu, se eleito, resgatar a história do religioso e trabalhar por sua beatificação. Talvez a santa ajuda seja mesmo necessária. No Nordeste, Aécio tem seu pior desempenho em todo o País, amargando 8% da preferência do eleitorado, segundo o último levantamento do Datafolha.
Para evitar uma rejeição ainda maior entre os nordestinos, onde o PT venceu em 2002, 2006 e 2010, o candidato transformou a visita de duas horas à feira em uma imersão na cultura regional. Aécio comeu queijo coalho no palito e almoçou baião de dois com carne do sol. Não dispensou o tradicional chapéu de cangaceiro e ainda posou para fotos ao lado da estátua do cantor e compositor Luiz Gonzaga.
Depois, prometeu aumentar em quatro vezes as verbas para a cultura, valorizando as manifestações tradicionais nordestinas. O candidato também circulou pelas lojas de artesanato, roupas e de músicas regionais, mas não arriscou passos de forró.
Repente e vaias
Ao ser anunciado por repentistas, foi alvo de tímidas vaias, logo abafadas por aplausos e gritos de "Aécio presidente", puxado por correligionários. À vontade com o improviso, arranhou ao lado de uma dupla de sanfoneiros versos de um repente. "Hoje eu não vou falar, hoje eu vou cantar! Chego sem medo/ porque sigo a trilha do velho avô Tancredo", cantou, desafinado.
Na passagem por uma livraria de cordel, recebeu um exemplar contando em versos a trajetória do avô. A visita do tucano pelas vias estreitas da feira causou tumulto e empurrões. Alguns visitantes olhavam curiosos para a comitiva sem reconhecer o candidato.
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- É o Fagner e um político - disse uma senhora, acenando para o cantor e compositor cearense Raimundo Fagner, padrinho da Feira e anfitrião da visita.
Alguns eleitores adversários não se furtaram à oportunidade de alfinetar o candidato.
- E o aeroporto, Aécio? - gritou uma mulher que distribuía adesivos de um candidato a deputado federal do PT. O tucano desviou o olhar e os acenos, e seguiu adiante, impassível. Do palco, um locutor exaltava a presença do "único candidato que veio à feira dos nordestinos", ao mesmo tempo em que pedia a Aécio que "governasse para os mais pobres".
Agência Estado