Não poderia haver um desfecho mais emocionante. O desafio entre os dois maiores campeões do turfe mundial foi decidido por apenas um ponto de diferença no último dos cinco páreos. Também não poderia haver nome mais apropriado para o potro protagonista desse momento histórico no Hipódromo do Cristal, em Porto Alegre.

Foi com Rei do Tango que Jorge Ricardo - jóquei brasileiro de 52 anos radicado em Buenos Aires - conquistou a coroa no inédito duelo contra o canadense naturalizado americano Russell Baze, 56 anos.

Como era de se esperar, não teve nenhum páreo corrido no confronto direto dos dois gigantes de pouco mais de 1m60cm de altura. No primeiro desafio do dia, Baze largou em vantagem. Nos últimos 300 metros, com a vitória praticamente garantida, o americano "guardou o chicote" - no idioma do turfe, equivale a dizer que ele tirou o pé do acelerador na reta final.

No segundo páreo, quem brilhou foi o mais velho dos competidores da equipe do Jockey Club do RS. Erenito Lima, conduzindo Rugendas, chegou à frente das duas lendas dos prados. Natural de Palmares do Sul, o jóquei de 58 anos, 1m62cm e 51kg era só sorrisos no winner circle - a área onde os vencedores de cada páreo posam para fotografias ao lado dos proprietários e treinadores dos cavalos.

- Senti que ganharia o páreo quando o Ricardo botou de lado, mas não passou - disse Lima, lembrando que já havia superado o jóquei mais famoso do Brasil no tradicional GP Bento Gonçalves, em 2005.

Baze abriu vantagem no páreo seguinte - neste momento, o jóquei mais vitorioso da história chegava a incríveis 12.367 triunfos em 40 anos de carreira. No quarto páreo do desafio, foi a vez de outro gaúcho, Hilson Faleiro dos Santos, 55 anos, cruzar em primeiro.

A decisão ficou então para os derradeiros 1,6 mil metros. Com a noite caindo na Capital, Baze entrou na pista de areia com 31 pontos, quatro à frente de Ricardo. Pouco antes da largada, o americano teve de trocar de cavalo: com dores na pata, o potro Xandi Danz deu lugar a Rodin.



Ainda sem vitórias nos quatro páreos anteriores, J. Ricardo teria de chegar em primeiro pela 12.268ª vez na carreira e torcer para Baze terminar no máximo em quarto lugar. Foi exatamente essa combinação que garantiu ao jóquei carioca a vitória no desafio dos campeões.

Emocionado, Ricardo comemorou atirando luvas e boné para o público, ergueu as duas filhas - Luana, dois anos, e Giovana, seis anos - sobre o Rei do Tango e dedicou a conquista ao pai, Antônio Ricardo, jóquei gaúcho já falecido que fez história nos hipódromos do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro.

Perguntado sobre a rivalidade com Baze, Ricardo fez questão de demonstrar respeito ao adversário:

- Preferia que o desafio tivesse empatado. Seria o resultado mais justo.

Já Baze retribuiu a deferência, ao ouvir do vice-presidente do Jockey, Ricardo Felizzola, que ele havia sido fantástico.

- Eu fui quase fantástico. Ricardo, sim, foi fantástico - elogiou o americano.

O mano a mano

Mesmo competindo com outros jóqueis, Russell Baze e Jorge Ricardo travaram uma disputa à parte do quarto ao oitavo páreos de ontem no Hipódromo do Cristal. Cada colocação equivalia a uma pontuação, que somada apontou o vencedor do desafio:

1º páreo do desafio (1.600m)

1º) R. Baze (Xamba Danz) - 10 pontos

3º) J. Ricardo (Rabanada) - 6 pontos

2º páreo do desafio (1.600m)

2º) J.Ricardo (Ever King) - 7 pontos

4º) R. Baze (Chamarisco) - 5 pontos

3º páreo do desafio (1.100m)
1º) R. Baze (From Tokyo City) - 10 pontos

2º) J. Ricardo (Warship) - 7 pontos

4º páreo do desafio (1.100m)

2º) J. Ricardo (Sai Fora) - 7 pontos

3º) R. Baze (La Linda Fitz) - 6 pontos

5º páreo do desafio (1.600m)

1º) J. Ricardo (Rei do Tango) - 10 pontos

4º) R. Baze (Rodin) - 5 pontos

Placar final

J. Ricardo - 37 pontos

R. Baze - 36 pontos