Sob investigação
Governo usa erro do IBGE para atacar críticos
No sábado, o Governo Federal abriu uma sindicância para apurar os motivos da correção nos dados da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (Pnad)
O governo aproveitou o erro do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com dados sociais para atacar os críticos. O posicionamento coube à ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campello, que fechou uma coletiva de imprensa no sábado organizada sob ordens da presidente Dilma Rousseff para comentar a versão corrigida da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad).
- É um aprendizado grande para o País, porque mostra que a avaliação de políticas públicas deve se focar em tendências. Todo mundo que se apegou a micro variações de 0,01 ponto para cima ou para baixo em um indicador, como o índice de Gini, errou também - disse Tereza Campello.
Já a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, após dizer que a presidente Dilma ficou "perplexa" com o erro, anunciou que poderão ser impostas medidas "funcionais" aos responsáveis, mas ressalvou que qualquer punição só ocorrerá ao final das investigações, que deverão durar, pelo menos, 30 dias. Apesar de a presidente do IBGE, Wasmália Bivar, estar sendo "fritada" pelo Planalto, Miriam não quis anunciar sua provável saída e não quis falar em perda de sustentação política dela no cargo.
Proximidade com as eleições dá contornos políticos ao caso
A ministra do Planejamento admitiu que o caso ganha contornos políticos sérios por conta do período eleitoral. Faltam apenas 15 dias para o primeiro turno. A ministra Tereza, ao fazer referência ao ponto mais popular da Pnad, o índice de Gini, explicou que esse indicador mede a desigualdade de renda domiciliar. Na versão original da Pnad 2013, divulgada na quinta-feira, o índice apresentou uma leve elevação da desigualdade no Brasil entre 2012 e 2013, quando o indicador passou de 0,496 para 0,498 (quanto mais próximo de 1, maior a desigualdade). Mas os dados estavam errados.
No dia seguinte, sexta-feira, os dados verdadeiros indicaram pequena queda na desigualdade, para 0,495. Pouco antes, Miriam Belchior havia afirmado que, ainda na quinta-feira, o IBGE começou a ser alertado de que os dados estavam incorretos.
- Órgãos de dentro e de fora do governo fizeram pedidos de esclarecimentos ao IBGE ainda na quinta-feira, e aquilo alertou os técnicos de que havia problemas. Na manhã de sexta-feira, fui informada pela primeira vez que o IBGE estava apurando erros na Pnad. No fim da manhã, a presidente do IBGE voltou a me procurar, dessa vez com a certeza de que a Pnad estava errada e que o instituto já estava trabalhando com os dados corretos. O governo ficou chocado com esse erro gravíssimo do IBGE. A presidente Dilma ficou perplexa. O erro foi muito grave mesmo. - disse Miriam
Sobre uma possível demissão da presidente do IBGE, a ministra do Planejamento foi evasiva:
- Criamos duas comissões para averiguar os erros e atribuir responsabilidades. Não posso me antecipar.