A Rua Rádio e TV Gaúcha, que leva à entrada da RBS TV, era a fronteira. No lado esquerdo ficariam os apoiadores da coligação Unidade Popular pelo Rio Grande, de Tarso Genro (PT), e, no direito, os militantes d'O Novo Caminho para o Rio Grande, de José Ivo Sartori (PMDB). Antes das 20h, petistas e aliados já estavam no local. Às 20h50min, um integrante do grupo começou a coordenar a saída dos petistas do lado direito da rua para o esquerdo. A chegada dos partidários do concorrente era iminente.

- Mas acho que eles não vêm, não - disse um dos 15 PMs que faziam a segurança em frente à RBSTV para o último debate dos candidatos ao governo do Estado.

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Era verdade. O motivo da ausência dos militantes peemedebistas foi elucidada quando o coordenador da campanha de Sartori, o vice-prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, chegou de carro.

- É uma decisão pela paz. Depois de tudo o que aconteceu... Nosso comitê foi atacado, um militante foi agredido no debate na Rádio Guaíba. Então foi decidido que ninguém viria - afirmou.

Por isso, quando Tarso chegou à entrada da RBS TV, seus correligionários ocuparam toda a rua, portando bandeiras, balões e sinalizadores. E de lá não saíram mais. Um jovem petista estacionou o carro por perto e tirou de dentro dele uma televisão: acompanhariam o debate ao ar livre.

Com Sartori foi diferente. Os três carros contendo o candidato e os cabeças da sua campanha chegaram tão de surpresa que pareciam ter se teletransportado para a frente da emissora. Muitos petistas sequer perceberam que o adversário de Tarso havia passado.

O clima de tensão prosseguiu rumo ao estúdio onde seria travado o debate. Os candidatos não se cruzavam, mesmo com a série de entrevistas e andanças por dentro da sede da RBS TV. Ambos estavam impecavelmente barbeados, Sartori com o rosto mais branco do que Tarso por causa da maquiagem mais carregada e de bigode bem aparado. Quando afinal se encontraram, o cumprimento foi reservado.

O comportamento dos dois políticos não se replicava entre seus apoiadores na sala ao lado, onde o debate seria transmitido em um telão e a atmosfera era mais de expectativa. As pessoas comiam tranquilamente os quitutes espalhados em uma longa mesa que também sustentava garrafas de água mineral e sucos de uva e de laranja. A temperatura era mais baixa do que na rua, mas parecia que todos estavam com sede. Os sucos acabaram em poucos minutos. A água seguia o mesmo fim.

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Os vices de Sartori, José Paulo Cairoli, e de Tarso, Abgail Pereira, começaram a conversar e rir, e rir de novo. O debate começou logo depois. A sala ficou silenciosa.

Dentro do estúdio, silêncio maior ainda. Os coordenadores das campanhas, Marcos Martinelli (Sartori) e Carlos Pestana (Tarso), acompanhavam. Depois do primeiro bloco, os dois trocavam sorrisos e mostravam o que havia em seus celulares. Martinelli apoiava o queixo na mão e digitava ao celular. Pestana observava.

Em um dos momentos mais quentes do debate, Tarso lembrou da entrevista de Sartori ao portal Terra e classificou o caso de um erro de marketing do adversário. Pestana cutucou Martinelli e os dois riram. Em seguida o coordenador de Sartori colocou a mão de novo no queixo e balançou negativamente a cabeça.

Se os telespectadores pudessem assistir ao que ocorria no estúdio no intervalo antes do último bloco, poderiam comparar a cena ao futebol profissional: Tarso e Sartori riam, como jogadores de dois times adversários fazem hoje antes ou depois dos jogos, aos abraços e carinhos.

A selfie dos coordenadores de campanha: Carlos Pestana e Marcos Martinelli
Foto: Marcos Martinelli, arquivo pessoal

Para consagrar a civilidade, Pestana e Martinelli fizeram uma selfie à beira do estúdio, com os candidatos ao fundo. O debate terminou e os adversários se cumprimentaram muito mais efusivamente do que da chegada à RBS TV. Tarso deixou o local e Sartori resumiu os ataques efetuados e sofridos:

- É uma estocadazinha aqui, outra ali.

Os militantes cercaram o carro de Tarso na saída da TV e cantaram e pularam em estilo semelhante ao dos protestos do Bloco de Luta pelo Transporte Público.

- Quem não pula é tucano - foi uma frase encampada pelos militantes.

Minutos mais tarde, Sartori embarcou no seu veículo, sendo seguido pelos correligionários. O destino seria algum restaurante, quem sabe um próximo ao antigo Estádio dos Eucaliptos. Alguém falou que poderiam comer pizza.

Veja imagens dos bastidores do debate: