Eleições 2014



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Disputa acirrada eleva importância dos votos brancos e nulos

Pequena diferença entre Dilma e Aécio nas pesquisas aumenta peso do eleitor que não escolheu ninguém no primeiro turno. Ele pode influenciar o resultado

21/10/2014 - 09h03min

Atualizada em: 21/10/2014 - 09h03min


Em uma disputa acirrada como a que marca a corrida presidencial, as chapas se esforçam para reverter brancos e nulos e transformá-los em votos válidos (leia-se escolha de seus candidatos). A explicação para isso está nas pesquisas. A pequena diferença entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) nas sondagens indica que pouco mais de 3 milhões de votos separam a atual presidente do seu desafiante. A título de comparação, a apuração no primeiro turno registrou 11 milhões de brancos e nulos.

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Desde o início do segundo turno, os institutos apontam empate técnico entre Dilma e Aécio. Assim, a tentativa de reverter a opinião de quem não escolheu nenhum dos 11 concorrentes do primeiro turno se torna estratégia em busca da maioria dos eleitores no próximo domingo. O mesmo raciocínio vale na disputa pelo governo do Estado, ainda que a diferença entre José Ivo Sartori (PMDB) e Tarso Genro (PT) seja maior do que brancos e nulos somados.

Para isso, é fundamental entender as razões que movem esse eleitor. Na opinião da cientista política Céli Pinto, o voto nulo tem um cunho político, de protesto. Já o branco, diz ela, é a opção do eleitor que pensa que "política não tem nada a ver com as suas vidas".


Para o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o conceito é semelhante. Segundo o site da Corte, o branco é considerado uma manifestação consciente do eleitor que não tem interesse em participar do processo eleitoral e que não quer apoiar nenhum candidato. No entanto, o nulo também estaria relacionado a erros cometidos na digitação, algo não proposital.

- No segundo turno, os dois candidatos vão buscar votos onde podem. Nos eleitores dos candidatos que não se elegeram, nos nulos e brancos e mesmo nos que votaram no candidato adversário. São as regras do jogo - diz Céli.

Tentar convencer o eleitor da importância do voto de cada pessoa deve ser um dos objetivos de Dilma e Aécio, avalia o professor da Universidade de Brasília (UnB), Mauricio Bugarin:

- Não está claro se conseguirão, mas conta a favor disso o fato de ser uma eleição simples, com dois candidatos. Se o eleitor se imbuir do sentimento de responsabilidade pode haver maior participação.


Abstenção deve aumentar

Conquistar brancos e nulos não é o único desafio dos candidatos: há também o fantasma da abstenção, que tende a crescer. Nas eleições de 2010, o número de brasileiros que deixou de votar, de um turno para o outro, subiu de 24 milhões para 29 milhões. O professor Mauricio Bugarin explica que o crescimento da abstenção está dentro de uma regularidade histórica, documentada em países que adotam a eleição em dois turnos há mais tempo.

No Brasil, a segunda votação existe desde a redemocratização. O pleito evita que haja uma escolha minoritária e assegura a efetividade da regra da maioria absoluta de votos em municípios com mais de 200 mil eleitores.

Dois fatores são citados para esse crescimento da abstenção: o cansaço do eleitor com a campanha e o excesso de acusações entre os candidatos, que podem gerar o sentimento de que os políticos são todos iguais e que não vale a pena se envolver na decisão.

- Quanto mais tempo dura o processo eleitoral, mais eleitores podem desenvolver um sentimento de asco e se afastarem - comenta Bugarin.

Menor participação desde 2002

No primeiro turno deste ano, a participação dos brasileiros nas urnas foi a menor desde 2002. O índice de eleitores que se abstiveram foi o mais alto no país e no Estado, conforme comparação de dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Se contar também quem ficou frente a frente com a urna, mas decidiu anular o voto ou apertar a tecla do branco, pode-se dizer que praticamente um em cada três eleitores não votaram em um candidato a presidente da República (29%) e a governador do Rio Grande do Sul (28,6%) - a maioria porque nem compareceu para votar.

Nos cálculos da Justiça Eleitoral que definem os eleitos, são considerados apenas os votos válidos. Sendo assim, votar em branco ou anular a escolha representa a mesma coisa que não ir à urna. Especialistas comentam os motivos que levam o eleitor a não definir o voto:

- O brasileiro, e em especial o gaúcho, que é político e engajado por natureza e tradição, tem se sentido muitíssimo decepcionado, traído pelos dirigentes políticos - comenta Mauricio Bugarin, professor de Economia da Universidade de Brasília (UnB).

E completa:

- A atitude desse eleitor tende a ser um voto de protesto, via abstenção, nulo e branco. É um reflexo de desesperança.

Em países onde o voto é facultativo, como os Estados Unidos, o índice de participação nas urnas é de cerca de 50% dos eleitores aptos a votar. Por isso, o cientista político e coordenador das Ciências Sociais da Ulbra, Paulo Moura, diz que os números do Brasil e do Rio Grande do Sul devem ser considerados normais para uma sociedade democrática, mas alerta:

- É mais um reflexo da insatisfação dos eleitores com a política, já expresso nas manifestações populares de 2013.

Destaques entre os 25 municípios do Rio Grande do Sul com mais eleitores (51% do total de eleitores do Estado) no primeiro turno deste ano

Alvorada é a cidade com o maior percentual de eleitores que não votaram para o governo do Estado. Um em cada três eleitores se absteve, votou nulo ou branco (35,4%). Entre os que foram à urna e não escolheram um candidato, estão 17,9% do total.

O município campeão de abstenção nas urnas foi Uruguaiana, onde 26,5% dos eleitores registrados não votaram.

Cinco cidades do RS registraram índices de abstenção acima das médias estadual e nacional: Uruguaiana (26,5%), Santana do Livramento (25,1%), Cachoeira do Sul (22,5%), Santo Ângelo (20,3%) e Bagé (19,9%).

Bento Gonçalves é a cidade que teve maior percentual de votos brancos para Presidência, com 8,3% do total, enquanto Alvorada teve o maior índice para governador, 10,4%.

Nos votos nulos para presidente da República, a campeã é Caxias do Sul, com 6,4%. Nos nulos para governador, o maior índice é de Gravataí, com 7,9%.

Canoas teve o menor percentual de abstenção (13,1%).

Em Ijuí, foi registrado o menor índice de branco para presidente (2,5%) e para governador (4%). Também teve o menor percentual de nulos para governador (3%).


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