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Eleições 2014

Eleitor que foi votar nu em Agudo fala sobre seu protesto

Despido de vaidades, o agricultor se apresentou de bota, bombacha e chapéu

24/10/2014 - 19h18min

Atualizada em: 24/10/2014 - 19h18min


Ronald Mendes / Agência RBS
Gilberto Carvalho garante que não repetirá o feito no segundo turno

Depois de chamar a atenção ao ir votar nu no primeiro turno das eleições deste ano, no interior de Agudo, Região Central, o eleitor visitou a sede do Grupo RBS em Santa Maria, na última quarta-feira. Apresentando-se com nome e sobrenome e pilchado a rigor, o agricultor de 53 anos revelou sua identidade e concedeu uma entrevista exclusiva ao Diário.

Gilberto de Oliveira Carvalho é casado, pais de duas filhas e avô de duas meninas. No vídeo abaixo, ele esclarece os motivos de ter optado pela irreverente forma de protestar, defende a liberdade de expressão e critica os protestos violentos.

_ Foi um gesto errado, de um gaúcho cansado. Cansei de tomar meu mate em frente à televisão e ficar na inércia. Não foi um protesto contra nenhum partido, mas contra tudo de errado que ocorre nesse país _ justificou, ressaltando que não vai repetir o gesto neste domingo.

Bem articulado, o agricultor conta que o estopim da indignação foi a indiferença com que, na sua avaliação, o setor rural vem sendo tratado pelas autoridades e pelos financiadores da lavoura, principalmente o setor bancário:

_ Fiquei marcado por uma situação envolvendo meu sogro, que morreu há dois anos. Ele pagou tudo em dia a vida inteira e, após algumas safras malsucedidas, perdeu o crédito no banco e aceitava aquilo da maneira resignada e humilde. Ninguém lhe estendeu a mão, ele não merecia passar por aquilo no final de uma vida honrada.

E completou:

_ Há 20 anos, com uma saca de arroz, comprávamos 200 litros de óleo diesel. Hoje, não se compra 15 litros. Como não se indignar com essa situação? Atualmente, as terras do meu sogro estão arrendadas porque faltou dinheiro para custear a lavoura. E nós, agricultores, representamos apenas 8% do eleitorado do país. Ou seja, a nossa voz sempre será abafada. Eu queria ser ouvido.

O planejamento do protesto começou dias antes do pleito na casa onde mora, na localidade de Porto Alves. No sábado anterior à eleição, fez um cartaz e o mostrou à família e aos amigos.

_ Notei, com uma certa surpresa e desencanto, que ninguém deu bola para aqueles cartazes. Pensei comigo: amanhã, se for com esse cartaz lá, será a mesma coisa. Ninguém vai me levar a sério. Fiquei pensando o que podia fazer. E concluí: vou votar é pelado. Vou tirar a roupa _ conta o arrozeiro.

Carvalho sabia que, assim, chamaria a atenção e seria um choque ver um avô de duas netas e um pai de família com duas filhas aparecer nu:

_ Não tenho antecedente criminal, não uso entorpecentes, não estava bêbado e quis chamar a atenção, sim. Essa era a única maneira que tinha de fazer para ser ouvido. Tenho certeza que a minha voz vai ser engolida pela inércia e, amanhã ou depois, voltará a mesmice. Mas foi o meu brado retumbante, assim como nós levantamos e ficamos de pé para cantar o Hino Nacional.

Depois que a poeira baixou

O eleitor, que desde o dia 5 de outubro dizia querer esperar a "poeira baixar" para dar uma entrevista sobre o protesto, aceitou falar sobre o assunto. Na última quarta, de pilcha engomada, chapelão, com o título e os óculos no bolso, conversou por cerca de duas horas com o Diário. Ele falou sobre o protesto e até gravou vídeos que podem ser conferidos no site do jornal.

De riso fácil e piada pronta, Carvalho afirmou que não vai seguir carreira política. Ele pensa em fazer novos protestos, mas não ficará nu novamente.

O caso na Justiça

O inquérito, que está sendo analisado pela Justiça, sugere que Carvalho responda por importunação ofensiva ao pudor, que é uma infração sujeita à multa, e não um crime. De acordo com o delegado de Agudo, Eduardo Machado, ele deve receber uma pena alternativa, como o pagamento de cestas básicas.

Assista ao vídeo:

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