Prevenção a atentados
Facção ordena mortes pelo tráfico de drogas em Florianópolis
PGC busca controle dos pontos de vendas para se manter.
Enviado ao juiz da Vara do Tribunal do Júri de Florianópolis 20 dias antes do começo da onda de atentados, em setembro, o ofício da Delegacia de Homicídios confirma a plena operância do Primeiro Grupo Catarinense (PGC) em crimes vindos de dentro da prisão: há uma ordem do 2º ministério da facção (Chamado de Conselho, é formado por presos de São Pedro de Alcântara que auxiliam nas decisões do 1º Ministério) para recrutar criminosos, eliminar traficantes e tomar um ponto de drogas em Florianópolis.
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O alvo do bando foi Thiago Polucena de Oliveira, 24 anos, morto a tiros em casa, no Morro do 25, região do bairro Agronômica. O crime ocorreu às 6h30min do dia 26 de março deste ano. Vestidos com roupas pretas e se dizendo policiais civis, dois homens armados dispararam contra a residência e mataram também um cão pitbull.
Thiago e o irmão perceberam que eram alvos de uma execução e pularam a janela dos fundos na tentativa de escapar. O primeiro acabou morrendo no local. O outro sobreviveu. O Ministério Público denunciou como autores da morte André Vargas Pinto e David Beckhauser Santos Herold, o Americano (agiram na rua a mando dos líderes nas cadeias).
Na denúncia, a que o DC também teve acesso, consta que os matadores integram o PGC, que busca implantar o caos social mediante a execução de atos criminosos atentatórios à ordem pública e à segurança de modo a enfraquecer o Estado.
No dia 25 de setembro, a Delegacia de Homicídios comunicou ao juiz a existência de um áudio da facção repassado pela Delegacia de Combate às Drogas. A gravação, conforme a polícia, partiu do 2º ministério do PGC e foi gravada na Penitenciária de São Pedro de Alcântara, a "sede" da quadrilha, na torre identificada como Afeganistão. Pelo menos 12 pessoas são listadas no caso, entre os que receberam a missão e os que a determinaram.
- Há um verdadeiro tribunal do tráfico em atuação nos morros da Capital, que determina a avaliza assassinatos - disse um policial civil à reportagem.
Ações pontuais que poderiam ser revistas
Vista como de grande efeito psicológico contra o crime organizado, a chegada da Força Nacional de Segurança representa um marco temporário de ação. A própria finalidade com a qual age pela segunda vez no Estado é questionada no meio policial. Ao invés de barreiras nas rodovias, há policiais de ponta na investigação que acreditam ser o plano pouco eficiente no ataque ao PGC.
Defendem, por exemplo, o emprego das tropas em ocupações a históricos pontos de tráfico de drogas da Capital como os do Maciço do Morro da Cruz, espantando o grande movimento de usuários e com isso enfraquecendo o poder econômico dos traficantes. Além disso, a Força ajudaria a própria PM no policiamento ostensivo das áreas críticas, podendo evitar ataques e até agindo com mais força contra assaltos e outros crimes.
A Força atua em 10 barreiras montadas em rodovias federais pelo Estado, em Joinville, Mafra, Canoinhas, Água Doce, Guaraciaba, Maravilha, Concórdia, Capão Alto, Campos Novos e Araranguá. Na região da Grande Florianópolis, Criciúma, Chapecó e Joinville haverá blitze móveis.
O que disseram as autoridades:
Aldo Pinheiro D'Ávila, delegado-geral da Polícia Civil:
"Temos um facção criminosa que se articulou dentro e fora do sistema prisional e que é capitalizada pelo tráfico de entorpecentes, o qual é sustentado por parcela da nossa sociedade que mantém este comércio ilícito catalisador de criminalidade. Na medida em que a Policia Civil e todas as demais Instituições de segurança acompanham o foco criminal ocorre uma insatisfação dentro das facções e iniciam-se os atentados. Muitas outras prisões ocorrerão das investigações em curso. A ordem é manter o foco firme no tráfico e nas quadrilhas que praticam roubos".
Valdemir Cabral, comandante-geral da Polícia Militar:
"Há um grande problema no sistema prisional em que os presos conseguem se comunicar com o mundo exterior e ordenar o terror. É preciso investimento grande e construir o RDD (Regime Disciplinar Diferenciado) em SC. Também leis mais pesadas para quem pratica esses atos deixe de fazer. Um dos autores que identificamos havia sido condenado a 16 anos de prisão por homicídio em 2008, mas já estava nas ruas. Vários menores também haviam recebido o direito da saída temporária".
Sady Beck Júnior, secretário da Justiça e Cidadania:
"O crime ataca pelas baixas que teve, o asfixiamento financeiro que o Estado vem causando. No sistema prisional vamos continuar investindo na ressocialização, ampliar o número de agentes. No dia 16 serão incorporados 243 novos agentes. Também vamos capacitá-los, aumentar as vagas a presos e as políticas de educação e trabalho. Em todas as unidades prisionais há núcleos de inteligência que vão continuar atuando".
Ildo Rosa, delegado da Polícia Federal e presidente do Conselho Estadual de Entorpecentes:
"O PGC ataca porquê há espaço e se há espaço vai continuar a atacar. Precisa reduzir o espaço de comando dessa rede que existe, mas também de medidas socioeducativas, políticas públicas em áreas mais conflagradas onde há jovens vulneráveis e facilmente manipulados. Tudo está ligado à economia da droga, a lei da oferta e procura. Agir apenas na segurança pública é a forma simplória".