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Maior aeronave produzida no Brasil, KC-390 vai melhorar a aviação civil

Jato substituirá os Hércules C-130, que formam hoje a espinha dorsal da frota de cargueiros da Força Aérea Brasileira (FAB)

22/10/2014 - 17h31min

Atualizada em: 22/10/2014 - 17h31min


Reprodução / Arte ZH

Apresentado pela Embraer na última terça-feira, o cargueiro militar KC-390 - maior aeronave já desenvolvida e produzida na América do Sul - trará avanços não só para as Forças Armadas, como também para a aviação civil brasileira. Capaz de transportar até 26 toneladas de carga a 850 quilômetros por hora, o avião pode realizar missões de busca e resgate, combater incêndios, operar em pequenas pistas na Amazônia, lançar paraquedistas, reabastecer aeronaves no ar, ser um hospital e pousar na Antártica.

Embraer lança maior avião militar já desenvolvido no Brasil

Os cargueiros vão substituir gradualmente os C-130 Hércules, utilizados hoje pela Força Aérea Brasileira (FAB). O investimento total no projeto é de R$ 12,1 bi - R$ 4,9 bi para o desenvolvimento e R$ 7,2 bi para a aquisição de 28 unidades para a FAB. Em dez anos, a estimativa é produzir mais de 100. Para a fase de desenvolvimento, foram criados 9 mil empregos - 1,5 mil diretos e 7,5 mil indiretos. 


- Ele traz um novo conceito para o mercado. Hoje são produzidos aviões com demandas específicas, como combate a incêndio. O KC-390 pode ser adaptado a qualquer função. É o primeiro projeto multinacional comandado pelo Brasil. Tem um peso grande de inovação. Os softwares dele serão desenhados aqui, o que nos dá autonomia doméstica - explica o presidente da Embraer Defesa & Segurança, Jackson Schneider.

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Segundo ele, mais de 100 fornecedores estão envolvidos com a Embraer, sendo 50 empresas brasileiras. Além disso, três países foram parceiros no projeto: Argentina (Fábrica Argentina de Aviones), República Checa (Aero Vodochody) e Portugal (Empresa de Engenharia Aeronáutica e OGMA) .

- Estamos falando de geração econômica interna. Além das 28 encomendas da FAB, há 32 para outros países em negociação. Nos próximos anos, a aviação brasileira terá um impulso nas exportações - ressalta Schneider. 

VÍDEO: veja como é o novo cargueiro

 

Benefícios para a aviação civil

A tecnologia de ponta desenvolvida para o cargueiro KC-390 será importante também para voos comerciais no Brasil. A cooperação técnica em engenharia com República Checa, Portugal e Argentina vai permitir às empresas domésticas aperfeiçoar as frotas e diminuir os riscos de acidentes.

-  Ele vai incorporar sistemas de controle de voo computadorizados de última geração, que serão levados para aeronaves civis e tornarão a vida do piloto mais fácil. O cargueiro inova ao trazer para uma uma aeronave de transporte tática, e não estratégica, o uso de turbinas, o que é um grande desafio. Na autoproteção da aeronave, há sistemas contra mísseis que a credenciam a ser usada em vários cenários de combate - comenta Nelson Düring, analista militar especialista em defesa aérea.

O KC-390 passará por testes em solo antes de realizar os primeiros voos até o final do ano. Depois, terá início uma campanha de ensaios de voos de desenvolvimento e certificação da aeronave. A primeira entrega deve ocorrer no segundo semestre de 2016.

De acordo com a Embraer, houve um aumento de 20% de produção na companhia entre junho e setembro, o que gerou um recorde de US$ 22,1 bi. A empresa estuda desenvolver, no futuro, versões do KC-390 para fins não-militares e atender indústrias como a do petróleo e da mineração.


Crédito: Força Aérea Brasileira / Divulgação

Potenciais do cargueiro

- Velocidade de 850 km/h, contra 671 km/h do modelo atual usado pela FAB;
- Menor custo de manutenção;
- Maior autonomia. O KC-390 pode decolar de Brasília e chegar sem escalas a qualquer capital brasileira com 23 toneladas de carga;
- Compartimento de carga de 18,54 metros de comprimento, que pode levar blindados, peças de artilharia, armamentos e até aeronaves desmontadas.

Humberto Trezzi: fera dos ares

Eu estava lá em 2007, na feira de materiais de defesa Latin America Aero & Defence (LAAD), no Rio de Janeiro, quando foi lançado o projeto do KC-390. É, de longe, o maior e mais ousado projeto da Embraer para a área militar. O moderno jato vai substituir os Hércules C-130, quadrimotores a hélice, alguns dos quais atuam há 50 anos no Brasil e que "merecem uma justa aposentadoria, no mundo inteiro", conforme as palavras do ministro da Defesa, Celso Amorim. Os Hércules são tratores dos ares.

Em sua história, a FAB operou 29 aeronaves C-130. Destas, estão operacionais 23. Os primeiros quadrimotores foram comprados em 1964 e alguns ainda estão na ativa. As últimas, em 2001. Essas mais modernas receberam cockpit digital, substituindo os velhos mostradores estilo "relógio", mecânicos e menos precisos.
Pois agora a FAB vai renovar para valer. Não por acaso, fez a primeira encomenda de KC-390 e já com 28 aeronaves, o que significa dispensar os Hércules. As duas aeronaves têm praticamente o mesmo tamanho.

A primeira grande vantagem do jato é que é bem mais rápido - desenvolve 890 km/h, enquanto o turbohélice faz cerca de 600/h. Outra é que, por ter dois motores e não quatro, o KC-390 pode ser mais econômico. O Hércules leva vantagem na autonomia de voo: faz cerca de 7 mil km sem reabastecer, contra 6 mil do KC. Mas o importante mesmo é que as tripulações agora terão, por um bom tempo, certeza de que as turbinas funcionarão no ar. Indo a Angola, em 1996, tive a desagradável experiência de ver dois motores do Hércules que me conduzia pararem, em pleno voo. Ainda bem que existiam outros dois.


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