Eleições 2014



Na linha sucessória

O que esperar de cada vice ao governo do RS

Com menor visibilidade do que os candidatos titulares, os vices têm diferentes graus de expressão nas campanhas e nos governos. Conhecê-los pode dar indicativos sobre o que esperar das coligações eleitas

01/10/2014 - 04h04min

Atualizada em: 01/10/2014 - 04h04min


Exceto os casos envoltos em polêmicas ou em que o segundo na linha de sucessão assume o cargo no afastamento do titular, os vices nem sempre ganham destaque nos mandatos. A história do Rio Grande do Sul, pelo menos, tem se mostrado assim. No entanto, conhecer quem está ao lado do seu candidato na disputa eleitoral pode ajudar a esclarecer posturas e dar indicativos de ações de partido e das coligações. Em diferentes graus, ele poderá participar das decisões do eleito, além de ter a função constitucional de assumir os compromissos oficiais quando o governador precisar se ausentar ou estiver impossibilitado de exercer o cargo.

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No que se refere a estratégias, o vice costuma ser o representante do segundo partido dos que compõem o governo, amarrando as alianças políticas. Sobre o perfil a adotar, há uma corrente da ciência política convicta de que não deve ter ambições próprias para evitar que faça sombra ao titular. Mas há especialistas que sustentam que os dois devam governar juntos, com o mesmo grau de relevância.

Nesta reportagem, ZH apresenta os sete candidatos a vice do Estado, dos quais apenas um tem cargo eletivo no currículo e a maioria sonha ter um mandato de destaque e ser lembrada pelas próximas gerações. Dos que passaram pelo Piratini, poucos conseguiram esse feito. O que mais figurou no noticiário foi Paulo Feijó (DEM), devido a conflitos com a ex-governadora Yeda Crusius (PSDB). Os dois romperam durante o mandato e acumularam trocas tão fortes de acusações que o cargo de ambos ficou a perigo. No mandato anterior, Antonio Hohlfeldt (PMDB) tinha aval de Germano Rigotto (PMDB) para tomar decisões. Chegou a pedir o afastamento do comandante da Brigada Militar e assumiu o Estado quando o titular se ausentou do cargo para disputar as prévias informais do partido para a candidatura à Presidência da República.

No atual mandato, o governador Tarso Genro (PT) e seu vice Beto Grill (PSB) se ausentaram do cargo para a disputa eleitoral - o primeiro, à reeleição, e o segundo, a deputado federal. Quem assumiu o Piratini foi o presidente do Tribunal de Justiça, desembargador José Aquino Flôres de Camargo, uma vez que o presidente da Assembleia, Gilmar Sossella (PDT), concorre a deputado estadual e também já se ausentou.

Levando em consideração o atual cenário político na disputa do Estado, o cientista político Bruno Lima Rocha, professor da Unisinos e da ESPM Sul, avalia que o próximo vice deve estar preparado para assumir uma secretaria de governo:

- Isso evita a dispersão política, que é tão presente no Brasil. O ideal seria alguma função que amarrasse o governo por dentro, como as relações institucionais ou secretaria de Interior, por exemplo, que articulasse com as bancadas na Assembleia.

A professora do Programa de Pós-Graduação de Ciências Políticas da UFRGS, Silvana Krause, concorda e acrescenta:

- O vice é um negociador, ele precisa buscar diálogos, cuidar da coalisão do governo e coordenar agendas.

Abgail Pereira
PC do B - 54 anos
Vice de Tarso Genro (PT)
Natural de Caxias do Sul
Formação: Pedagogia
Cargo eletivo anterior: não

De família tradicionalista, Abgail nasceu no dia em que o pai fundava um CTG. A inclinação política surgiu em 1981, no movimento estudantil. Três anos mais tarde, filou-se ao PC do B. É formada em Pedagogia pela Universidade de Caxias do Sul (UCS), com pós-graduação pela Universidade Castelo Branco (RJ). Concorreu como vice de Pepe Vargas à prefeitura de Caxias do Sul, mas não se elegeu. Também tentou o Senado, em 2010. Dirigiu o Sindicato dos Empregados em Turismo e Hospitalidade de Caxias do Sul (atual Sintrahtur) por três gestões, foi para a CUT e depois ajudou a fundar a Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB). Mudou-se para Porto Alegre no início do governo Tarso para ser secretária de Turismo.

Que tipo de vice será
Feminista, Abgail tem história voltada para a luta pelos direitos das mulheres. Diz que a sua experiência em setores variados lhe dá competência para assumir uma secretaria, caso seja solicitada. Ainda assim, pretende ser protagonista no governo, ao lado do titular, como ouvinte e conselheira nas decisões.
- Tenho agenda própria. Viajo sozinha pelo Estado, exercendo papel de vice. Vou a debates, me apresento em escolas e associações comerciais, como candidata de verdade - orgulha-se.

Cairoli
PSD - 62 anos
Vice de José Ivo Sartori (PMDB)
Natural de Porto Alegre
Formação: Engenharia Civil
Cargo eletivo anterior: não

Formado em Engenharia Civil na década de 1970, entrou para o grupo Ipiranga cinco anos depois, onde ficou até 1992. Saiu para assumir a presidência do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) a convite do governador da época, Alceu Collares. Depois, retornou para a Ipiranga como diretor na área cooperativa, onde permaneceu até ser vendida. Naquele período, assumiu a Federasul por seis anos e agora preside a Confederação das Associações Comerciais do Brasil, mas está licenciado para a campanha. É proprietário da Reconquista Agropecuária, de Alegrete, onde mantém negócios de agricultura e pecuária há 40 anos. A cabanha é dedicada à criação da raça angus. Ingressou no PSD no ano passado.

Que tipo de vice será
Cairoli reconhece que não é profissional da política. Diz que aceitou a candidatura como forma de contribuir para a democracia. É justamente com a experiência no setor privado que pretende ajudar Sartori.
- Tenho uma visão de gestão e uma noção diferente de mercado que complementa - diz.
Espera que sua passagem pelo governo tenha amplitude maior do que assumir uma secretaria:
- A função do vice é ajudar o governador, é estar junto nesta construção que não é feita sozinha.

Cassiá Carpes
Solidariedade - 61 anos
Vice de Ana Amélia Lemos (PP)
Natural de São Borja
Formação: Ensino Médio
Cargo eletivo anterior: vereador e deputado estadual por dois mandatos consecutivos cada

Na década de 1970, fez carreira no futebol como zagueiro e, mais tarde, como técnico. Treinou times como Grêmio, Internacional e Juventude. O viés político começou a se delinear já no ramo esportivo, na época da ditadura, quando ajudou a fundar o Sindicato dos Atletas Profissionais no Estado do Rio Grande do Sul, assumindo a presidência. Iniciou-se na vida pública em 2000, ao ser eleito vereador em Porto Alegre pelo PTB. Em 2005, foi secretário de Obras e Viação na gestão de José Fogaça na prefeitura. No ano seguinte, elegeu-se deputado estadual. De 1985 a 1988 foi filiado ao PDT e, depois, passou para o PTB, onde ficou por 16 anos. Entrou para o Solidariedade no ano passado, quando o partido foi fundado.

Que tipo de vice será
Combativo, transparente e austero. É essa a autodefinição do perfil de Cassiá. Ele pretende juntar a experiência que teve no Executivo, como secretário, e no Legislativo, como vereador e deputado, para promover a aproximação da Assembleia com o governo. Cassiá defende que um vice com o perfil como o dele não pode ficar apagado:
- Nunca fui coadjuvante, sempre fui protagonista. A pior coisa é tu estares dentro de um governo e não ser consultado. Meu perfil é de comandar, de dar opinião.

Flavio Gomes
PSC - 66 anos
Vice de Vieira da Cunha (PDT)
Natural de Santo Antônio da Patrulha
Formação: Direito
Cargo eletivo anterior: não

Advogado e empresário, atua no mercado imobiliário com assessoria jurídica há 40 anos. Entrou para o PSC há dois anos, quando o Pastor Everaldo, candidato à presidência, veio a Porto Alegre falar com um pastor amigo dele, Isaías Figueiró, pedindo para colocar o partido no cenário gaúcho. Flavio Gomes foi convidado para integrar a missão. Antes disso, tinha experiência apenas com a política empresarial: foi vice-presidente da Federasul e hoje é vice-presidente da Fecomércio. Criador de cavalos, deixou a atividade há 15 anos, tendo ainda presidido o Jóquei Clube da Capital na década de 1980. O neto mais velho, Raul, nove anos, é autista, e é com ele que Flavio Gomes gasta boa parte das horas vagas.

Que tipo de vice será
Com forte participação na elaboração do programa de governo de Vieira da Cunha, Flavio Gomes acredita que o papel do vice não é assumir uma secretaria, mas estar presente com o governador.
- Vou ajudar a fiscalizar os secretários e fazer a coisa andar - diz.
Aposta que a experiência na iniciativa privada, como negociador que evita conflitos e busca soluções, pode ajudá-lo. Por isso, o candidato a vice diz que pretende ser a ponte para trazer novos empresários e negócios para o Estado.

Gabi Tolotti
PSOL - 31 anos
Vice de Roberto Robaina (PSOL)
Natural de Porto Alegre
Formação: Relações Públicas, com registro de jornalista
Cargo eletivo anterior: não

Um ano depois de concluir a graduação em Relações Públicas pela UFRGS, em 2011, Gabrielle Tolotti obteve o registro de jornalista. Sempre atuou na área de comunicação em instituições culturais e, por último, no gabinete da vereadora Fernanda Melchionna (PSOL). É a primeira vez que Gabi concorre a uma eleição. Na universidade, integrou o Diretório Central dos Estudantes (DCE). Foi quando despertou seu interesse pela política. Em 2011, ajudou a fundar um movimento nacional de juventude, o Juntos!, do qual integra a coordenação nacional. Orgulha-se de ter estado presente nos prostestos de junho de 2013, quando milhares de estudantes foram às ruas, e da conquista das cotas na universidade pública.

Que tipo de vice será
Gabi pretende lutar pelas questões que envolvem a juventude, como educação, mobilidade urbana, democratização da mídia e defesa dos espaços públicos. Gostaria que sobrasse para ela a missão de ajudar Robaina a organizar o Estado e de fazer a mediação entre o governo e os movimentos sociais.
- Alguns são escolhidos porque dividem a máquina pública. Outros estão de olho em secretarias. No nosso caso, é uma indicação ideológica, para mostrar e refletir essa aliança com os movimentos sociais - diz.

Hermes Souza
PRTB - 51 anos
Vice de Estivalete (PRTB)
Natural de Cruz Alta
Formação: Técnico em mecânica agrícola
Cargo eletivo anterior: não

Cresceu em Passo Fundo, onde foi criado por família adotiva até os 10 anos, quando fugiu, cansado de apanhar. Ficou em um abrigo até os 17 anos e mudou-se para São Paulo. Fez curso de detetive e encontrou a mãe biológica em 1988. Também trabalhou como garçom, vendedor e taxista. Depois, morou no Pará e percorreu comunidades ribeirinhas em projeto social da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Em 1996, retornou a Passo Fundo e, 10 anos depois, chegou a estudar Direito. A primeira tentativa de se eleger foi em 2000, como vereador pelo PP. Em 2006, candidatou-se a deputado federal pelo PSC. Em 2011, filiou-se ao PRTB e coordenou a campanha de Luciano Azevedo (PPS) para a prefeitura de Passo Fundo.

Que tipo de vice será
Acredita que a boa relação com Estivalete, com quem elaborou o plano de governo, possa ser um trunfo para demonstrar a compatibilidade de gênios e interesses. Para Hermes Souza, o vice precisa ser alguém de confiança a quem o governador designará poderes. Por isso, se eleitos, almeja um papel de fiscal:
- Se Deus fizesse um milagre e nós fossemos eleitos, eu iria fiscalizar pessoalmente obras, presídios, hospitais e o tipo de material usado na construção de estradas. Os maus servidores seriam punidos.

Nubem Medeiros
PCB - 70 anos
Vice de Humberto Carvalho (PCB)
Natural de Santa Maria
Formação: Matemático
Cargo eletivo anterior: não

Filho de ferroviário e professora, cresceu em Santana do Livramento e se mudou para Porto Alegre na década de 1960. Foi professor do Instituto de Matemática da UFRGS, onde se aposentou em 1995. Hoje, dá aulas para a terceira idade. Com a esposa, mantém há 14 anos trabalho voluntário voltado a moradores de rua. Foi candidato a vereador há dois anos pela primeira vez, mas antes se dedicou a tarefas como dirigente no PCB, ao qual é filiado desde 1961. Na ditadura, chegou a ser enviado pelo partido ao interior do Mato Grosso, onde ficou por 15 dias. A mulher à época e a filha, com três anos, também fugiram para o interior. Nubem acabou não sendo perseguido, mas conta que viveu tempos de tortura psicológica.

Que tipo de vice será
A indicação para vice foi aceita por Nubem mais como um compromisso com o partido do que por aspirações pessoais.
- Não tenho a mínima ilusão de que vamos ganhar. O que interessa mesmo é levar a palavra do PCB, mostrando para a sociedade que temos outra saída - explica.
Neste sentido, durante a campanha, preocupa-se em acompanhar o candidato ao governo para expor à população as ideias de seu partido e aproveitar a visibilidade durante o período eleitoral.


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