Sem destino
A saga de Anderson no Manchester United, o herói aflito
Sem interesse do clube inglês, meia formado no Grêmio precisa decidir futuro para 2015
As últimas notícias de Anderson deste lado do Atlântico são do seu interesse em deixar o Manchester United e voltar ao Grêmio ou ir para o Flamengo, que teria feito proposta. As últimas do outro lado do oceano são constrangedoras. O zagueiro Wes Brown declarou que Anderson é o menos inteligente dos jogadores com quem conviveu.
O brasileiro minimizou a saia justa, considerou brincadeira do inglês, que era o seu melhor amigo no Manchester, antes de ir jogar no Sunderland. Melhor amigo, vejam só. Mesmo que Anderson mal fale inglês em sete anos na terra da Rainha, o amigão não precisava esculachar.
Mas jornais e sites levaram tudo a sério e relacionaram a fanfarrice de Wes Brown à má fase do brasileiro, que, afinal, já não interessa aos ingleses.
A imprensa britânica se diz perplexa com a falta de perseverança de Anderson, o que não cai bem a um atleta de 26 anos. Era hora de ele colher a experiência de sete anos em Old Trafford e empregar a maturidade em campo.
Em vez disso, Anderson aparece em evento da Unicef vestido à rigor e transparecendo quilos a mais dentro do blazer.
Desde setembro o brasileiro não é relacionado no Manchester, que decidiu passá-lo adiante para cortar custos, na lógica de clube inglês. Pagará ao jogador cerca de 1,4 milhão de libras (R$ 5,6 milhões) e facilitará a saída.
Correspondente da BBC no Rio de Janeiro, o jornalista inglês Tim Vickery considera o seu futebol de hoje mais sofisticado do que o do tempo do Grêmio. A Europa o lapidou e tudo seria perfeito não fosse a apatia.
- A ambição não é a mesma. Ele dá ideia de estar conformado com o dinheiro que ganhou nos últimos anos - observa Vickery, que conclui: não se sabe que caminho tomará.
De fato: ele ganha cerca de 4 milhões de libras anuais (cerca de R$ 16 milhões), ou 70 mil libras por semana - com contrato até 2015. Sua decisão de vida agora é perseguir os dólares da China, da Índia ou dos Estados Unidos ou encarar o futebol brasileiro.
Aqui a investida começou mal. Quando disse a Zero Hora que havia falado com "um tal de Rui", referindo-se ao executivo Rui Costa, quase lacrou as portas que já estavam fechadas no Grêmio.
Em Liverpool, o volante Lucas Leiva, 27 anos, companheiro de Anderson no Grêmio, há um ano apenas o acompanha pelas redes sociais, mas opina: não há razão para a fase difícil. Ele, Lucas, também não jogou em 2011 devido a lesões no joelho e na coxa e nem por isso se abateu.
- Lembro dele (Anderson) batendo pênalti na final da conquista da Champions em 2008, ele tem pouca idade, nada é desculpa para desistir - comenta Lucas, que chegou à Inglaterra à mesma época e fala inglês fluente.
Sobre provável retorno ao Porto, de Portugal, o jornalista local Norberto Lopes diz que o brasileiro não tem mais o cartaz de quando chegou a ser comparado a Ronaldinho.
- Há muito pouca relação com o Porto. Nesse tempo, voltou apenas uma ou duas vezes - conta.
Herói da Batalha dos Aflitos, Anderson trocou o Grêmio pelo Porto em 2006, foi bicampeão português em meio a lesões e a um acidente de trânsito. O Manchester o contratou em 2007, aos 19 anos, e o tratou como sucessor de Scholes.
O início foi bom, apesar da lesão no tornozelo que o tirou seis meses de campo.
- Eu o vi com a seleção no Sul-Americano sub-20 do Peru e ele dava arranques supervelozes, de 50 metros. Com o tempo, perdeu a velocidade nos 30 metros finais do campo e a função de volante lhe caiu bem - conta Vickery.
Os britânicos lembram de quando, em 2008, Anderson ganhou o Golden Boy, título concedido ao melhor jogador sub-21 da Europa, antes conferido a Agüero, Messi, Fàbregas e Rooney.
Com Ferguson, Anderson andou bem. Perdeu espaço com David Moyes e foi emprestado à Fiorentina. Quase não jogou por causa de lesões. Na volta aos Red Devils, Van Gaal tinha novos planos.
Repórter do The Telegraph, de Londres, Mark Ogden explicou o motivo da rejeição.
- Gaal queria o brasileiro como um 10. Mas para isso já tem Mata, Rooney, Januzaj - disse Ogden.
O Manchester United pagou R$ 108 milhões ao Porto.
Depois de 179 jogos e apenas nove gols, o clube se contenta em receber R$ 68 milhões.
*ZHESPORTES