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Geográfico e conceitual

Conhecido por obras que envolvem longas viagens, Nelson Felix expõe no Instituto Ling

Artista carioca apresenta "CantoVerso", mostra em que sintetiza projetos realizados em Portugal, São Paulo e em duas ilhas

27/11/2014 - 08h17min

Atualizada em: 27/11/2014 - 08h17min


Francisco Dalcol
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Foto: Fabio Del Re,VivaFoto / Divulgação Foto: Fabio Del Re,VivaFoto / Divulgação

Fabio Del Re,VivaFoto / Divulgação

Nelson Felix esparramou ouro pelo chão e nas paredes. Nelas, ainda atravessou duas lanças de bronze cujas ponteiras afiadas se deixam ver do outro lado. E completou esse cenário de ostentação e violência com poesia e esculturas de mármore.

- Há um ato violento em uma ação poética, uma transgressão - diz o artista, na montagem de CantoVerso, mostra que inaugura a sala de exposições do Instituto Ling.

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O carioca de 60 anos ficou bastante conhecido pelos trabalhos que faz desde os anos 1980 envolvendo grandes escalas e deslocamentos. Esses trajetos são determinados por coordenadas geográficas e desenhos que o artista faz sobre mapas cartográficos. Um de seus projetos mais conhecidos é Cruz na América, em que, ao longo de 20 anos, percorreu uma cruz imaginária, acessando paisagens da Floresta Amazônica (Acre), do pampa (Rio Grande do Sul), do deserto do Atacama (Chile) e do litoral (Ceará).

 

Nos seus destinos, Felix faz intervenções que se entrecruzam e geram outros trabalhos. Por isso, em suas exposições, as obras que vemos remetem às distâncias geográficas e aos percursos mentais, aos lugares a que o artista foi e aos significados das ações que neles realizou. CantoVerso, com curadoria de Gabriela Motta, é o final de um trabalho que envolve outros dois, em que intervenção, escultura, desenho e poesia se alimentam em alta carga conceitual.

Um é 4 Cantos, de 2008, no qual Felix percorreu quatro extremidades do território de Portugal a bordo de uma carreta carregada de blocos gigantes de pedra. Em cada parada, colocava os cubos sobre o chão e desenhava a paisagem com esses objetos estranhos. Já em Verso, de 2013, o artista partiu da localização de São Paulo no mapa, traçou uma linha e visualizou duas ilhas equidistantes, uma no Pacífico e outra no Atlântico. Viajou a ambas e, olhando em direção a São Paulo, fincou no solo três peças de bronze que formam a letra "A". Nos dois trabalhos, tendo em mente versos do catalão Joan Brossa e da portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen, Felix pensou nos significados poético e espacial das palavras "canto" e "verso".

 

No Instituto Ling, vemos o ponto final do projeto. As manchas de ouro representam os territórios de Portugal, São Paulo e das duas ilhas. As esculturas de Felix, três grandes anéis e duas flautas vazadas pelas palavras "canto" e "verso", são feitas de carrara, o mesmo mármore usado pelos renascentistas Donatello e Michelangelo.

- Vou fazendo e, na exposição, o trabalho aparece. As coisas são construídas como uma composição mental, uma amálgama - diz.

CantoVerso
> Exposição de Nelson Felix
> Instituto Ling (João Caetano, 440), em Porto Alegre, fone (51) 3533-5700. De terça a sexta, das 11h às 22h, sábado, das 11h às 22h, e domingo, das 11h às 20h. Até 25/1. Gratuito. Foto: Fabio Del Re,VivaFoto / Divulgação


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