Vigília
Funcionários da Iesa se mobilizam em frente à sede em Charqueadas
Empresa demitiria mil funcionários nesta segunda, mas foi impedida pela Justiça do Trabalho, sob pena de arcar com multa de R$ 100 milhões
Na data marcada para a dispensa de mil funcionários da Iesa Óleo e Gás, trabalhadores fazem vigília em frente à sede da empresa, às margens da ERS-401, em Charqueadas, desde as 6h30min desta segunda-feira. Apesar da intenção de começar os desligamentos neste início de semana, a Iesa está impedida pela Justiça de rescindir os contratos, sob pena de multa de R$ 100 milhões.
Convocada pelo Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos (Sindimetal) de Charqueadas, a manifestação deve prosseguir ao longo de toda a semana. Por volta das 8h, mais de 200 funcionários se reuniam no local. Em frente ao portão de acesso à Iesa, dois oficiais de Justiça aguardaram ao longo da manhã representantes da empresa para notificá-los sobre a suspensão das demissões - trabalho sem sucesso desde o final de semana, já que nenhum executivo apareceu no local. O Judiciário deve buscar outros endereços para efetuar a notificação.
- Não vamos arredar o pé daqui. Seguiremos em revezamento inclusive durante a noite - garantiu o presidente do sindicato, Jorge Luiz Carvalho, que busca uma solução para o futuro dos trabalhadores.
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No início desta manhã, não havia expectativa de bloqueios na rodovia em frente à sede da Iesa. Investigada no rol de empreiteiras da Operação Lava-Jato, a empresa confirmou os desligamentos após a rescisão do contrato com a Petrobras para construção de módulos para plataforma de petróleo. Para a Justiça do Trabalho, que atendeu o pedido do Ministério Público do Trabalho, a empresa terá de manter os funcionários em licença remunerada até que as demissões sejam negociadas com o sindicato, com intermediação do Ministério Público. A Iesa também deve apresentar alternativas "viáveis à recolocação da mão de obra" - a empresa, no entanto, não tem recursos para bancar as demissões.
Trabalhadores tiveram exame demissional agendado
Por uma mensagem de celular, o metalúrgico Jonatas de Castro Geruza, 29 anos, recebeu no domingo o aviso de desligamento. "A Iesa lhe convoca para realização de exame médico demissional na Unimed Charqueadas, na segunda-feira, 24/11, às 13h", dizia a mensagem. Ele foi um dos funcionários que tiveram a consulta agendada, mas, com a decisão judicial, garante que não se apresentará.
- Eu espero que eles deem baixa na carteira para que possamos trabalhar em outro lugar. Teria que vir outra empresa, para Charqueadas seria muito bom, claro, que ficasse o polo naval - avalia.
Foto: Carlos Macedo / Agência RBS
Natural de Charqueadas, Jonatas trocou o antigo emprego há pouco mais de dois anos pela Iesa. Na terra natal, porém, viu a chegada de colegas de outros Estados com o anúncio das obras de construção das plataformas. Do Nordeste, veio o baiano Adriano Alcântara, 35 anos, que enfrenta o impacto da incerteza no aluguel atrasado e na falta de dinheiro para voltar para casa. Quem o avisou do novo trabalho foi o paulista Darlei Flávio Pereira, 35 anos, que agora vive a mesma angústia:
- Tomara que eles paguem a gente para podermos ir embora.
- Gastei mais do que recebi - finaliza Adriano.
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Prefeitura irá declarar situação de calamidade ainda pela manhã
Pouco antes das 9h, o prefeito de Charqueadas, Davi Gilmar Souza, esteve em frente à Iesa. Como já havia anunciado, garantiu que decretará estado de calamidade pública ainda nesta manhã com o objetivo de obter recursos para o auxílio aos trabalhadores mais necessitados.
- Vamos decretar o estado de calamidade para ajudar quem sabe com passagem, quem sabe com bolsa alimentação e outros tipos de incentivo para não deixar os trabalhadores desassistidos - afirmou.
Para sexta-feira, o sindicato planeja um ato na cidade para mobilizar a população, inclusive com pedido de fechamento do comércio, pela reativação do polo naval. A prefeitura deve decretar ponto facultativo no dia.
Foto: Carlos Macedo / Agência RBS
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