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Obra que abrirá José Montaury a veículos deve ser concluída em dezembro

Paralisados várias vezes, trabalhos na Rua José Montaury foram retomados em novembro

26/11/2014 - 13h34min

Atualizada em: 26/11/2014 - 13h34min


Bruna Vargas - de Tramandaí
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Caco Belmonte / Divulgação PMPA
Faixa de circulação de veículos será no mesmo nível do passeio

Hoje restrita à circulação de pedestres, a Rua José Montaury, no centro de Porto Alegre, se prepara para receber o tráfego de veículos em breve. Foram retomadas neste mês as obras de revitalização da Praça XV, que incluem a pavimentação da via para permitir a circulação de carros à noite, em uma faixa no mesmo nível do passeio público. Os trabalhos devem ser concluídos até o fim de dezembro.

As obras na via, localizada entre a Avenida Borges de Medeiros e a Rua Marechal Floriano Peixoto, tiveram ordem de início em 2013, mas foram paralisadas diversas vezes, a última delas em julho. Por estar situada sobre um sítio arqueológico, as intervenções na José Montaury tiveram de atender a solicitações pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que pediu o monitoramento judicialmente. Um dos motivos para a demora da retomada foi um aditivo para a contratação de arqueólogos que elevou o valor da obra de R$ 2,8 milhões para R$ 3,3 milhões.

Com a conclusão dos trabalhos, o local deve manter a prioridade aos pedestres durante o dia e permitir a circulação de veículos em baixa velocidade à noite. O horário a ser liberado para os motorizados será definido pela Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC).

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Segundo Glênio Bohrer, coordenador do projeto Viva o Centro, da prefeitura de Porto Alegre, a abertura da via foi pensada como forma de melhorar a segurança no local, onde, nesta semana, um homem foi encontrado morto próximo ao posto da Brigada Militar.

- A ideia é que permaneça calçadão durante o dia, com entradas de serviço (para abastecer o comércio), e que se permita o tráfego de veículos à noite. As ruas só com pedestres causaram um problema de segurança - diz Bohrer.

A revitalização prevê, ainda, a instalação de bancos e novas luminárias no entorno da Praça VX. Um trecho da Rua Marechal Floriano Peixoto,entre as ruas José Montaury e Voluntários da Pátria, terá o pavimento trocado.

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Para o empresário Paulo Cruschel, que administra uma lanchonete na Montaury, ainda é difícil projetar se a mudança será positiva para o comércio. A maior parte dos clientes do negócio de sua família, instalado no local há cerca de 50 anos, são trabalhadores do entorno que circulam a pé.

- Não estamos bem por dentro dessa obra nem sabemos como vai ser depois. A nossa expectativa é que vá melhorar, mas, se só tiver circulação de veículos e não tiver onde estacionar, não vai ajudar - diz o dono da lancheria, que funciona das 6h30min às 23h.

Ativistas questionam trânsito de veículos em vias centrais

A virada de chave na José Montaury, rua de caráter essencialmente comercial, é questionada por ativistas. Para a Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta (Mobicidade), abrir o local aos veículos desestimula os pedestres em vez de incentivá-los.

- É importante ter um horário de carga e desacarga, mas é possível fazer isso sem liberar o trânsito. Alguns acreditam que carros aumentam a segurança no local. Nós discordamos. Eu não conheço ninguém que se sinta seguro na Carlos Gomes com a Protásio Alves, por exemplo, e ali só passa carro - avalia Cadu Carvalho, membro da ONG.

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Em abril, a Mobicidade propôs à prefeitura justamente o contrário: eliminar os motorizados do Centro. Um projeto feito em parceria com um escritória de arquitetura apresentava alternativas para três vias centrais: Marechal Floriano, Vigário José Inácio e Doutor Flores.

No pré-projeto apresentado pela ONG, que integra um Grupo de Trabalho (GT) com representantes da prefeitura e da sociedade civil que discute as adaptações no Centro, uma quadra da Rua Vigário José Inácio seria exclusiva para pedestres. Além disso, uma das quadras da Marechal Floriano daria prioridade à circulação de lotações e táxis.

No Grupo de Trabalho, porém, a ideia sofreu modificações. O projeto que deve ser entregue pelo Viva o Centro à prefeitura em dezembro prevê o alargamento do passeio para pedestres nas vias indicadas pela Mobicidade, sem eliminar a circulação de carros. Os veículos terão sua área reduzida e os condutores precisarão tirar o pé do acelerador: a velocidade limite nesses locais deve ficar em 30km/h.

- Isso se chama traffic calming. São medidas que privilegiam o pedestre e funcionam bastante bem. Nós vamos disciplinar o convívio entre pedestres e veículos, que já existe nesses locais, como uma acomodação natural. É uma tendência internacional - defende Bohrer.

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Foto: Caco Belmonte, Divulgação PMPA

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O traffic calming, ou trânsito calmo, surgiu na Europa, nos anos 1960. Diante da insatisfação de moradores com o trânsito intenso, algumas cidades passaram a adotar medidas para garantir a segurança de pedestres e ciclistas, diminuindo a velocidade máxima de circulação e adotando soluções de engenharia que os privilegiassem.

Em Porto Alegre, a prefeitura fará o caminho inverso: em vez de "acalmar" uma via de trânsito rápido, abrirá o caminho de pedestres a veículos, adotando estratégias de traffic calm. Na Doutor Flores, Vigário José Inácio e Marechal Floriano, o traffic calm será uma forma de organizar um modelo já existente, no qual pedestres e carros dividem o espaço.

Na América Latina, cidades como Buenos Aires, Belo Horizonte e Florianópolis adotaram estratégias para reduzir a velocidade do trânsito em vias centrais. Mas a tentativa de acomodar pedestres e veículos em um mesmo espaço tende a ser superada, segundo o sociólogo especialista em trânsito Eduardo Biavati:

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- No geral, o que a gente percebe é o surgimento de políticas públicas na direção contrária. Várias cidades europeias e norte-americanas tentaram conciliar, mas não funcionou. Hoje, a tendência mundial é por projetos que, no centro das cidades, devolvam o espaço público para o pedestre.

De acordo com Biavati, vetar a circulação de veículos em áreas centrais é a melhor solução para as grandes cidades a longo prazo, porque sinaliza claramente para as pessoas que a prioridade de circulação é de quem está a pé, e elimina os gastos com fiscalização e manutenção exigidos pelas zonas de trânsito lento.

- Essa não é uma decisão técnica, é uma decisão política. Hoje, o sinal é: se você tem quatro rodas, está muito melhor do que quem está a pé. Mas não se pode discutir a prioridade dos mais frágeis. Além disso, uma cidade onde as pessoas caminham é uma cidade mais saudável.


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