Entretenimento



Pesadão e boladão

Racionais MC's voltam com músicas curtas e influências modernas em "Cores & Valores". OUÇA

Na internet, fãs se dividem entre os que celebraram a volta e os que reprovaram mudanças na sonoridade

25/11/2014 - 17h46min

Atualizada em: 25/11/2014 - 17h46min


Gustavo Foster
Gustavo Foster
Enviar E-mail
Rui Mendes / Divulgação
"Cores & Valores" é o sexto disco da carreira dos Racionais MC's

O maior grupo de rap da história do Brasil voltou. Depois de 12 anos de silêncio, os Racionais MC's lançaram, nesta quarta-feira, Cores & Valores, o sexto disco da carreira de Mano Brown, Edi Rock, Ice Blue e KL Jay. O sucessor de Nada Como um Dia após o Outro Dia, de 2002, era aguardadíssimo pelos fãs - e acabou dividindo opiniões na internet. Por enquanto, o disco está disponível exclusivamente na loja digital Google Play, por R$ 9,99. Entretanto, a banda já liberou a audição de todas as faixas em seu canal no YouTube.

Hip hop na Restinga leva o nome do bairro para fora
Conheça os rappers com mais vocabulário do mundo

Em Cores & Valores, a audiência mais conservadora vai fechar o sorriso. O disco é moderno - não à toa, o grande astro entre as 15 faixas talvez seja o DJ KL Jay, que mostra claramente que passou os últimos 12 anos ouvindo o que há de mais moderno no hip-hop mundial. As influências do trap são claras em praticamente todas as músicas, há referências a Public Enemy, Odd Future, algumas faixas puxadas para o southern rap de gente como Waka Flocka Flame, e estrelas que estouraram durante o hiato dos Racionais - como Kendrick Lamar e Kanye West. Tudo que rolou nos últimos 12 anos está ali, nas sonoridades, em detalhes de produção, barulhinhos de ambiência. Aliás, Cores & Valores é quase uma sequência de curtas-metragens sem imagem: histórias curtas, imagens claras, que ficam estampadas na mente por muito tempo. Mas isto todo mundo já sabia: os Racionais são excelentes contadores de história.

É evidente que a genialidade de Mano Brown como letrista - talvez agora consolidado como o grande letrista da música brasileira contemporânea - se destaca. Isso em um momento em que Emicida e Criolo enfileiram trabalhos que nascem clássicos. Em Finado Neguin, o rapper volta a lembrar do amigo Emerson Neguin, morto em 2002, usado para lembrar da Vila Fundão, no Capão Redondo, lugar onde nasceram os Racionais. Ice Blue também manda muitíssimo bem em Eu Compro, aquela eterna discussão de rappers pobres que ganham grande e podem fazer o que quiserem, mas com a provocação: "mesmo podendo pagar, podem ter certeza de que vão desconfiar". Edi Rock é o mais violento dos três, como em A Praça, onde canta o que aconteceu em 2007, na confusão que ocorreu durante o show do grupo na Virada Cultural, em São Paulo.

Como nunca haviam feito antes, os Racionais flertam com a MPB (em O Mau e o Bem), com o samba (Quanto Vale o Show?), soul (o que é o instrumental de Preto Zica?). Há ainda outra curiosidade: até a sexta faixa do disco, todas são quase vinhetas. Curtas, diretas e com poucos versos, as músicas são uma espécie de introdução ao disco que está por vir. Aí está talvez o único defeito do disco: quando começa a embalar, acaba. Tomara que não demore mais 12 anos para que os quatro pretos mais perigosos do Brasil lancem novidade.


MAIS SOBRE

Últimas Notícias