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Aos 53 anos, estudante vira referência na turma de intercâmbio

Lurdes Sônia Gava fez intercâmbio na China e mudou a opinião do jovens que também participaram da viagem

15/12/2014 - 15h17min

Atualizada em: 15/12/2014 - 15h17min


Aline Jaeger / Divulgação
Lurdes Sônia Gava (centro) entre os colegas de intercâmbio em Xangai, na China

Foram as notas no curso de Letras que deram à Lurdes Sônia Gava a vaga no intercâmbio para a China. Aos 53 anos, ela achava que jamais escolheriam alguém tão "velha" no concurso que selecionava universitários para estudar no exterior. Filhos, marido, colegas e até a coordenadora do curso de Letras a incentivaram a fazer a inscrição.

Lurdes tem dez irmãos. Logo que terminou o Ensino Médio, foi estudar Ciências Contábeis, mas quando o pai morreu, ela e mais três irmãos tiveram que dedicar à vida ao trabalho para ajudar a mãe a sustentar a casa.

- Desistir de um sonho não foi fácil. Sempre sonhei em fazer faculdade - conta.

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Trabalhar e trabalhar era o seu lema. A virada na vida veio quando teve sua primeira filha.

- Tive que parar de trabalhar para cuidar dela e me vi em casa com pouca atividade. Como eu sempre trabalhei intensamente, parar foi um baque. Foi quando eu resolvi estudar outros idiomas. Desenvolvi o alemão, que eu já praticava antes, o inglês e um pouco de espanhol.

Aos poucos, Lurdes voltou ao trabalho. Trocou a rotina administrativa, na qual tinha experiência, pela sala dos cursos de idiomas onde virou professora de alemão. Mas o sonho do diploma universitário sempre era deixado de lado. Em 2009, por incentivo dos filhos matriculou-se em Letras com ênfase em Inglês.

- Eu achava que o tempo já tinha passado para mim. Estava com quase 50 anos. Ao mesmo tempo, eu sempre quis fazer concurso para trabalhar em escolas públicas.

Nos últimos quatro anos de curso, Lurdes segue todos os dias de Bento Gonçalves para São Leopoldo para estudar e nem o cansaço fez com que ela parasse. Lurdes se tornou uma das melhores alunas, mantendo médias de aproveitamento muito próximas do máximo. Com um currículo tão perfeito, a coordenadora do curso não exitou em influenciar a aluna a se candidatar em uma bolsa de intercâmbio.

- Mais uma vez achei que isso era coisa só para jovens. Achava que nunca iam escolher alguém com 53 anos.

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No último dia para realizar a inscrição, ela entregou toda a documentação necessária. Bastou uma semana para os avaliadores retornarem o pedido com sinal positivo. Entre jovens com pouco mais de 20 anos, de cursos menos tradicionais, Lurdes seguiria para estudar na China.

- Foi muito bacana. Estudamos e desenvolvemos projetos em sustentabilidade. Aprendemos sobre como a China trata este tema, tivemos contato com a cultura dos chineses porque estudamos com muitos deles. O intercâmbio abriu muito a minha cabeça, me deu uma perspectiva de vida diferente. Quero fazer muitas outras viagens de estudos a partir de agora.

Nunca é tarde para fazer qualquer coisa. Essa foi a principal lição que a estudante de letras aprendeu. Prestes a completar 54 anos, Lurdes sabe agora que tem muitas experiências ainda para viver.

- Fazer intercâmbio é renovar a vida, é vida nova. Na China, os jovens me tinham como referência porque era a mais velha. Sei que mudei a visão deles sobre pessoas na minha idade.

Em fevereiro, finalmente, Lurdes recebe o diploma. Mas esse não é o fim de uma jornada. O intercâmbio e o desempenho no curso deram a ela um novo objetivo.

- Já pedi reingresso na universidade e agora vou estudar Letras com ênfase em Espanhol. Agora eu sei que nunca é tarde para começar e para realizar um sonho.


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