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(Des)esperança

Companhia Teatrofídico apresenta peça baseada em Sarah Kane

"Cadarço de Sapato ou Ninguém Está Acima da Redenção" estreia nesta terça-feira na programação do Porto Verão Alegre

18/01/2015 - 17h55min

Atualizada em: 18/01/2015 - 17h55min


Fábio Prikladnicki
Fábio Prikladnicki
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Júlio Cordeiro / Agencia RBS
Ensaio de Cadarço de Sapato...

Um desagradável festim de imundície. Assim o jornal inglês Daily Mail definiu, há 20 anos, a estreia de Blasted, primeira peça da dramaturga e enfant terrible Sarah Kane, que incluía cenas de estupro, mutilação e canibalismo.

Mas em pouco tempo Sarah viu a crítica virar a favor. Seu talento foi fartamente reconhecido nos curtos quatro anos que se passaram entre a estreia de Blasted e seu suicídio em 1999, aos 28 anos, enforcada com um cadarço de sapato no banheiro de um hospital. Por trás da brutalidade temática e da inovação formal que a afirmavam como uma renovação na dramaturgia, estava uma obra de forte carga emocional que versava, acima de tudo, sobre a pureza do amor. Queria que o teatro fosse uma performance tão visceral quanto uma partida de futebol (ela era torcedora do Manchester United).

Esse é o universo recriado na peça Cadarço de Sapato ou Ninguém Está Acima da Redenção, que a companhia gaúcha Teatrofídico estreia nesta terça-feira, às 21h, no Teatro Sesc Centro, no Porto Verão Alegre. Com direção de Eduardo Kraemer, o espetáculo é tecido por uma colagem de trechos das cinco peças escritas por Sarah, acrescidas de fragmentos de relatos dos próprios atores.

Assista a um trecho do ensaio:

- No início, pensávamos em escolher apenas uma peça, mas, à medida que fomos lendo, todas tinham coisas boas. Então, tivemos a ideia de fazer um patchwork - conta o ator Renato Del Campão.

Depois de realizar trabalhos caracterizados pelo protagonismo dos diálogos, o Teatrofídico privilegia, desta vez, uma forte presença da fisicalidade em cena, sem deixar de lado o texto, como pôde comprovar a reportagem em um ensaio geral. É um passo na direção do teatro pós-dramático, conforme o diretor Eduardo Kraemer:

- Sempre tivemos como característica a oralidade, mas gosto muito do trabalho físico. Agora, estamos no meio do caminho. Ainda quero mais fisicalidade.

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Presentes em cena quase o tempo todo, os seis atores às vezes incorporam personas que emitem emoções e pensamentos e às vezes interpretam personagens em breves cenas que se entrelaçam sem compromisso de formar um todo, em uma amostra da poética de Sarah Kane. Tendo vivido com uma intensidade romântica e criado com a ousadia pós-moderna, a autora deixou uma interrogação em sua obra: ainda há esperança para seguir vivendo?

- Vemos na obra dela as duas coisas: a esperança e a falta dela. Num dia, acordamos com esperança; em outro, levantamos querendo morrer - diz Kraemer.


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