Morte na estrada
Os fatores que agravaram o acidente de ônibus em Glorinha
Ônibus que trafegava acima do limite permitido na ERS-030 tombou, matou seis pessoas e deixou dezenas feridas
O relógio digital no painel do ônibus 5382 da empresa Unesul marcava entre 14h05min e 14h15min. Depois de vencer a curva à direita, o motorista Jeferson Padilha da Silva, 38 anos, perdeu o controle do coletivo, que acabou saindo da pista e virando na curva seguinte, para a esquerda.
Se todos os passageiros estivessem usando o cinto de segurança, o acidente ocorrido nesta terça-feira, nas proximidades da parada 117 da ERS-030, em Glorinha, teria sido de menores proporções. Mas a maioria estava sem o equipamento. Resultado: cinco morreram no local, um morreria mais tarde e outros 27 ficaram feridos e foram atendidos em hospitais.
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Conforme as primeiras informações divulgadas pela Polícia Rodoviária Estadual (PRE) e pela Polícia Civil, a principal causa da tragédia teria sido o excesso de velocidade. O titular da Delegacia de Homicídios de Gravataí, Anderson Spier, afirma que o tacógrafo - instrumento que registra a velocidade - indicava que o ônibus viajava a pelo menos 100 km/h, em um trecho onde a velocidade máxima permitida é de 60 km/h.
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Outro fator com papel importante na gravidade do acidente é o local onde ocorreu: uma curva. De acordo com o especialista em rodovias da Escola de Engenharias da UFRGS, João Fortins Albano, em locais como este a força centrífuga joga tudo que está solto para o lado externo da curva. Com a alta velocidade e o ônibus lotado, o fenômeno físico torna o impulso que arremessa os passageiros ainda mais violento. Foi o que ocorreu nesta terça.
- O raio da curva é outro fator. Quanto menor o raio (mais fechada é a curva), maior a força centrífuga. Nessas condições, é bem provável que as vítimas sem cinto quebrem ou ultrapassem as janelas ao serem ejetadas - explica Albano.
Cinto não é obrigatório nas linhas do tipo comum
A consequência para quem não estava preso aos assentos foi drástica: enquanto o ônibus tombava, os ocupantes foram jogados para o lado direito, onde o coletivo iria arrastar-se por dezenas de metros. Com os vidros espatifados, alguns passageiros que estavam próximos das janelas tiveram membros amputados instantaneamente. Outros sofreram a mesma consequência ao longo do trecho por onde o coletivo deslizou lateralmente, caindo no desnível do acostamento e deixando pelo caminho um rastro de sangue, pedaços de corpos e cacos de vidro.
- As pessoas saiam do ônibus, caiam no asfalto quente, gritando por socorro, mas ainda não tinha chegado ninguém - conta Laerto Antonio Lumertz, 63 anos, que passou pelo local pouco depois do acidente.
Um dos passageiros que não se feriu, João Batista Pazzim, 43 anos, percebeu que o motorista dirigia rápido:
- A gente notou que ele vinha numa velocidade alta e estava deitando demais nas curvas, na última ele deitou demais e tombou - disse.
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Dono de uma empresa de pré-moldados, José Maroni também ajudou no socorro. Ele emprestou o guincho que levantou o veículo para que os socorristas pudessem retirar os cinco corpos que ficaram presos sob a lataria.
Atualmente, as normas não obrigam que os passageiros das linhas chamadas "comuns", como é o caso do ônibus que fazia a rota Porto Alegre-Tramandaí e passava por diversas cidades, utilizem cintos de segurança. Conforme ordem de serviço do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer), que obriga as empresas de transporte rodoviário coletivo intermunicipal de passageiros a informar os procedimentos de segurança, "nos serviços de linhas de modalidade comum, ficam dispensadas as obrigações" de que trata o documento.
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