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Coluna

Luiz Coronel: Irreverentes provincianos

O autor e publicitário escreve mensalmente no espaço "Pampianas", do 2º Caderno

28/02/2015 - 07h40min

Atualizada em: 28/02/2015 - 07h40min


É gente que se conhece no mais pelo trote. Devem ter parentesco com os índios, pois são afeitos à graça zombeteira da empulhação. Cada cidade interiorana tem nesses gozadores a melhor narrativa ridente de sua identidade.

Habiaga

Paciente de uma cirurgia, Habiaga queixou-se às tias da indescritível saudade de um arroz com miúdos. Disponibilizados os ingredientes, as cozinheiras dariam conta da refeição predileta. Tia que é tia não refuta nem adia. Era chegar uma visita, vinham os gemidos do (im)paciente Habiaga. Dizia-se atendido a preceito, mas que haviam deixado seu peito sem sutura. Erguendo lençóis, espichava uma tripa de galinha, comprovando a gravidade do descuido. Por supuesto, as visitas saíam tomadas de pane ante tão insólito desleixo operatório.

Zóinho

Roberto Eduardo Ritta Mércio, de alcunha Zóinho, sempre alarmou hilárias façanhas ocorridas em seu bar Osório’s, confluência assídua de bebericantes e fabuleiros. Conta-se que num despencar de outubro adentrou o bar um taura de respeitável bigode. Era um grave acento circunflexo instalado sob o proeminente nariz. Vestia um smoking com flagrantes vestígios de precário aluguel. Desembarcara de Pinheiro Machado para um baile de gala no Clube Caixeiral. E foi logo deitado um cowboy, uma caipira em continuidade e um conhaque para embalar o entusiasmo. Lá pelas tantas, o Zóinho interrompeu os serviços para uma aferição de pagamento. A resposta não veio a contento:

- O Fidêncio, meu hermano, está trazendo a grana para as despesas.

Zóinho, de pronto, chamou seu fiel escudeiro e tomou inaudita providência:

- Traz de vez a espuma e o barbeador. Raspamos a ala direita do bigode do parceiro. O distinto pode avançar mais nuns tragos. Quando trouxer o numerário, raspamos o lado esquerdo e afeitamos o moço para sua dançarola.

Foi dito e feito. E lá se foi para o engalanado arrasta-pé o Edivaldo Rato Silveira, com seu monogode cômico, hilariante, para não dizer absurdo ou surrealista.


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