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Escândalo da Petrobras

Força-tarefa do Ministério Público não tem prazo para terminar investigações da Lava-Jato

Sinais da magnitude da operação levaram grupo a ocupar metade de dois andares para aprofundar investigações da maior devassa já feita no setor público e privado do país

27/03/2015 - 04h02min

Atualizada em: 27/03/2015 - 04h02min


Carlos Rollsing
Carlos Rollsing
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Diego Vara / Agencia RBS
Integrantes da força-tarefa ocuparam parte do segundo e do sétimo andar do Edifício Patriarca, no centro de Curitiba

Nove procuradores da República buscados em diferentes partes do Brasil, acompanhados por uma equipe de mais 20 assessores, contadores, peritos e estagiários, se reúnem diariamente no segundo e no sétimo andar do Edifício Patriarca, no centro de Curitiba, para liderar a maior devassa já feita na história do país no setor público e privado. É a força-tarefa do Ministério Público Federal (MPF), responsável por receber os inquéritos da Operação Lava-Jato, da Polícia Federal, aprofundar investigações e denunciar ao Judiciário os envolvidos com o saque à Petrobras.

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Os sinais de magnitude da operação estão por todos os lados. Na sede da Procuradoria Regional da República de Curitiba não havia espaço para comportar os trabalhos. É preciso atravessar a Rua Marechal Deodoro e entrar no Patriarca, onde a metade de dois andares está alugada para sediar a força-tarefa. Logo no hall, uma coincidência: no mesmo prédio, há salas ocupadas pela Petrobras e pela Odebrecht, uma das empreiteiras investigadas por ter se aliado ao cartel que acertava vencedores de licitações, superfaturava preços e pagava a propina que parava, entre outros destinos, nas mãos de PT, PMDB e PP. A proximidade com dois dos alvos das investigações nunca causou problema, brincam funcionários nos bastidores da força-tarefa.

Na última quarta-feira, o clima era festivo. Havia sorrisos, cumprimentos, felicitações, velinhas e bolo. O procurador Orlando Martello Junior estava de aniversário e todos pararam por um instante para celebrar. Mas nem sempre é assim. Eles invariavelmente ultrapassam as sete horas diárias de trabalho e, às vésperas da entrega de denúncias à Justiça Federal, invadem a madrugada e os finais de semana. Uma rotina estressante, tensa e desgastante.

- Estou com crise de labirinto há três semanas por estresse. Nós temos uma vontade de chegar no resultado. E nem sempre você chega. Há situações em que você não consegue superar certos obstáculos e nós estamos muito comprometidos com o resultado. Isso gera uma tensão emocional muito grande - diz o procurador Carlos Fernando Lima, integrante do time dos nove.

O trabalho diário conta com cooperação internacional e alguma tecnologia. A força-tarefa enviou 40 pedidos de colaboração para cerca de 10 países solicitando busca por contas bancárias dos investigados, rastreamento de dinheiro ou documentos que possam ajudar. Não somente na Suíça e no Principado de Mônaco há milhões desviados da Petrobras e enviados ilegalmente para fora do país, mas também na China, Hong Kong, Cingapura e Estados Unidos. Foi assim que descobriram que Renato Duque, ex-diretor de Serviços da Petrobras, estava movimentando dinheiro de contas da Suíça para Mônaco.

Para cruzar dados e compreender as complexas relações do esquema da Petrobras, usam um software desenvolvido pelo próprio MPF, chamado Sistema de Movimentações Bancárias (Simba). Nada de muito avançado: esse mesmo software foi utilizado em 2004 nas investigações do Banestado.

- A gente pede a quebra do sigilo bancário, o juiz defere e, em vez de a gente receber um caminhão de papel, como acontecia até cinco ou 10 anos atrás, os bancos encaminham tudo pela via eletrônica. Colocamos no sistema e conseguimos fazer vários cruzamentos. Dá para ver uma determinada empresa que recebeu de várias construtoras e repassou a determinadas pessoas - explica o procurador Paulo Galvão.

Além do Simba, há outras ferramentas.

- A gente também pode vincular com as quebras de sigilos fiscais. Temos outro software que transforma isso em análise gráfica. Coloco um nome, de empresa ou pessoa, e vejo graficamente todas as suas relações no esquema - exemplifica Lima.

O trabalho é volumoso. Os inquéritos policiais e processos judiciais se aproximam de 300. E tudo passa pelas mãos do MPF. Os arquivos digitais já chegaram aos terabytes. Iniciada em abril de 2014, um mês depois de a Polícia Federal deflagrar a primeira fase da Operação Lava-Jato, a força-tarefa já teve a sua duração prorrogada por duas vezes. Não há data para acabar. Quanto mais investigam, mais se distanciam do fim. É que novas portas da corrupção são abertas frequentemente. Uma coisa puxa outra. Em entrevista a ZH, os procuradores confirmaram que as investigações já foram estendidas para fora da Petrobras, chegando ao setor elétrico brasileiro. Há indicativos de cartel em obras federais, nos mesmos moldes do esquema adotado na estatal do petróleo. Também o setor de Comunicação Institucional da Petrobras foi posto sob análise. Existem indícios de uso ilícito de verbas publicitárias e patrocínios.

Até agora, as denúncias da força-tarefa resultaram na abertura de 20 ações penais, todas sob responsabilidade do juiz federal Sérgio Moro, com 103 réus. No horizonte, o foco é esgotar as investigações possíveis na área do cartel de empreiteiras, mas os procuradores indicam que, em breve, virão denúncias de pessoas e negócios ligados à Diretoria de Abastecimento da Petrobras, comandada à época do escândalo por Paulo Roberto Costa. O recado dos procuradores é claro: vão investigar todos os envolvidos, "seja quem for", avisa Lima.


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