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Escândalo da Petrobras

Polícia Federal investiga se consultoria de Dirceu era forma disfarçada de propina

Depois de sair do governo, político montou empresa que prestou serviços para empreiteiras envolvidas na Lava-Jato

19/03/2015 - 04h05min

Atualizada em: 19/03/2015 - 04h05min


Humberto Trezzi / Brasília
Humberto Trezzi / Brasília
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Gilmar Fraga / Arte ZH

Ex-líder estudantil, ex-guerrilheiro, ex-ministro da Casa Civil no governo Lula e ex-deputado federal, José Dirceu é o alvo do momento na Operação Lava-Jato, que investiga corrupção na Petrobras. A Polícia Federal quer saber como se tornou um consultor muito bem pago após ter seu mandato cassado no Congresso por envolvimento no mensalão - pagamento de mesada a parlamentares para votarem de acordo com o governo.

O crescimento da carteira de clientes da consultoria dele ficou evidenciado na quebra do sigilo fiscal do político, que teve a movimentação financeira divulgada pela 13ª Vara da Justiça Federal de Curitiba.

Dirceu, que cumpre prisão domiciliar, se tornou investigado pela PF e pelo Ministério Público Federal após constatação de que prestou consultoria a empresas envolvidas na Lava-Jato. As empreiteiras, acusadas de desviar milhões de reais de contratos com a Petrobras, admitem ter pago para que o ex-ministro abrisse caminhos e facilitasse contatos com governantes.

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Empresas envolvidas na Lava-Jato que pagaram valores à JD Consultoria
OAS: R$ 2.991.150
Engevix: R$ 1.285.000
UTC: R$ 2.316.000
Camargo Corrêa: R$ 1.110.000
Egesa: R$ 820.000
Galvão Engenharia: R$ 750.000
Total: R$ 9.272.150

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Os serviços consistiam, na maioria das vezes, em apresentar autoridades que poderiam azeitar negócios dessas empresas, relatou Gerson Almada, executivo da empreiteira Engevix, que está preso na PF em Curitiba e prestou depoimento na terça-feira.

A consultoria de Dirceu era uma forma disfarçada de propina? É o que a PF deseja saber. ZH teve acesso aos dados da Receita sobre os clientes do ex-ministro, entre os quais as principais envolvidas na Operação Lava-Jato.

A empresa que Dirceu montou em 2006, logo após deixar o parlamento - a JD Assessoria e Consultoria - recebia pagamentos em sequência, como mostram extratos.

- E pagamentos em sequência, muitas vezes, evidenciam técnica de lavar dinheiro mediante prestação fictícia de serviços - relata um dos investigadores da Lava-Jato.

E os pagamentos a Dirceu não eram de pequena monta. Da Galvão Engenharia (uma das investigadas na Lava-Jato e que tem diretores presos pela PF) a JD Consultoria recebeu três repasses de R$ 25 mil e um de R$ 23 mil em apenas seis dias: de 21 a 27 de julho de 2009. Em agosto daquele ano, o esquema se repetiu: quatro repasses, quase todos de R$ 25 mil cada. Em setembro, mais quatro repasses. Depois os pagamentos foram se espaçando, mas continuaram até 2012, totalizando R$ 700 mil. O mesmo ocorreu com a OAS, que repassou R$ 2,9 milhões à consultoria de Dirceu entre 2010 e 2011.

Das envolvidas na Lava-Jato, a JD prestou consultoria para a OAS, Engevix, UTC, Camargo Corrêa, Egesa e Galvão Engenharia (veja abaixo). Por meio de nota, assessores de Dirceu garantiram que ele prestou serviços de "prospecção de negócios e intermediação de contatos" para empreiteiras.

Empresa de ministro tem muitos clientes sob suspeita

A pedido do Ministério Público Federal (MPF), a Receita Federal preparou um documento de 17 páginas no qual faz uma análise da performance do ex-ministro José Dirceu como consultor de empresas. O documento, ao qual ZH teve acesso, lista 46 clientes da JD Assessoria e Consultoria, empresa com a qual o político exerceu atividade de lobby de 2006 a 2013 - ano em que foi preso por envolvimento no escândalo do mensalão, suborno pago pelo governo a parlamentares.

O estudo foi requisitado a partir da constatação de que empresas envolvidas na Lava-Jato - operação que investiga corrupção na Petrobras - pagaram a José Dirceu por consultoria. A intenção dos procuradores é descobrir se a atividade do ex-ministro encobre distribuição de propinas a políticos correligionários.

Como antecipou ZH, a listagem inclui empresas que tiveram contratos com a Petrobras suspensos por suspeita de irregularidades detectadas na Lava-Jato. Além dessas, Dirceu tem mais 41 clientes, que lhe pagaram um total de R$ 29 milhões. Uma delas é a Jamp Engenheiros Associados. A empresa presta "consultorias em parceiras empresariais no Mercosul" e, segundo o inquérito da operação, intermediava propina da Engevix para integrantes da Diretoria de Serviços da Petrobras (controlada pelo PT).

A construtora Serveng-Civilsan também está na mira da Lava-Jato. A companhia é investigada porque, a pedido do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), teria sido incluída no cartel que controla obras da Petrobras mediante propina. A empresa acabou contratada para a construção da Refinaria Premium I, orçada em R$ 20 bilhões, em Bacabeira (MA).

Delta agora no foco da Lava-Jato

Outra investigada pelo MPF que contratou a consultoria de Dirceu é a Delta Construções. Nesta semana, a PF prendeu Adir Assad, doleiro que teria ajudado a superfaturar R$ 421 milhões em contratos da Delta. Nada relacionado à Petrobras, mas agora será investigada pela Lava-Jato.

Quem mais solicitou serviços de lobby foi a EMS, que desembolsou R$ 7,8 milhões para o ex-ministro. A empresa é investigada em um esquema de produção de medicamentos para o Ministério da Saúde. Outro grupo que consta na lista de clientes é Solvi Participações, controlador da Revita Engenharia Ambiental. Com atuação no Estado, teve aberto processo criminal contra seus diretores, mediante denúncia na cidade de Rio Grande. Os dirigentes da empresa teriam pago a prefeituras para vencer licitações.

Os clientes e quanto desembolsaram


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